“A fidelidade ao chamado do Senhor”

Comemoramos com muita alegria de toda a Igreja os 60 anos de Ordenação Sacerdotal do Santo Padre o Papa Bento XVI. Como ele mesmo se expressou: “O dia mais feliz de minha vida.” O dia de sua Ordenação Sacerdotal – 29 de junho de 1951.

Sessenta anos depois assim se exprime o sacerdote provado pelos anos e ainda agora em plena missão petrina na condução da Igreja de Cristo: “Amados irmãos e irmãs! «Non iam servos, sed amicos» – «Já não vos chamo servos, mas amigos» (cf. Jo 15, 15). Passados sessenta anos da minha Ordenação Sacerdotal, sinto ainda ressoar no meu íntimo estas palavras de Jesus, que o nosso grande Arcebispo, o Cardeal Faulhaber, com voz um pouco débil já, mas firme, nos dirigiu, a nós novos sacerdotes, no final da cerimônia da Ordenação. Segundo o ordenamento litúrgico daquele tempo, esta proclamação significava então a explícita concessão aos novos sacerdotes do mandato de perdoar os pecados. «Já não sois servos, mas amigos»: eu sabia e sentia que esta não era, naquele momento, apenas uma frase «de cerimônia»; e que era mais do que uma mera citação da Sagrada Escritura. Estava certo disto: neste momento, Ele mesmo, o Senhor, o diz a mim de modo muito pessoal. No Batismo e na Confirmação, Ele já nos atraíra a Si, acolhera-nos na família de Deus. Mas o que estava a acontecer naquele momento, ainda era algo mais. Ele chama-me amigo…” (Solenidade dos santos Pedro e Paulo na Basílica Vaticana, 29 de Junho de 2011).

Esta amizade de Cristo o faz sacerdote há 60 anos. Fidelidade do Senhor. A resposta humana daquele que foi chamado tornou possível a continuidade desta graça e seus frutos. A fidelidade ao chamado do Senhor.

É este um testemunho admirável não apenas da fidelidade e perseverança de um homem totalmente doado a Deus e à missão pelos irmãos. É este um testemunho eloqüente da própria presença de Deus com Sua Graça. A vida do homem, sacerdote e papa Bento XVI diz com clareza: Deus existe. “Deus Caritas est” – Deus é Caridade. Justamente neste momento da história humana em que tanto se necessita do encontro com Deus, com seu magistério e mais ainda com o testemunho da obra de Deus em sua vida, o Papa proclama a presença amorosa de Deus no seio da humanidade.

Deus não deixa de ser fiel ao se apresentar aos homens, pela sua presença amorosa, gratuita, fiel. É preciso saber ver, saber ouvir, entender e acolher com o coração.

Em sua homilia na comemoração dos Apóstolos Pedro e Paulo e dos 60 anos de seu ministério sacerdotal, o Santo Padre compreende: “Esta palavra de Jesus sobre a amizade situa-se no contexto do discurso sobre a videira. O Senhor relaciona a imagem da videira com uma tarefa dada aos discípulos: «Eu vos destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça» (Jo 15, 16). A primeira tarefa dada aos discípulos, aos amigos, é pôr-se a caminho – destinei, para que vades –, sair de si mesmos e ir ao encontro dos outros. A par desta, podemos ouvir também a frase que o Ressuscitado dirige aos seus e que aparece na conclusão do Evangelho de Mateus: «Ide fazer discípulos de todas as nações…» (cf. Mt 28, 19). O Senhor exorta-nos a superar as fronteiras do ambiente onde vivemos e levar ao mundo dos outros o Evangelho, para que permeie tudo e, assim, o mundo se abra ao Reino de Deus. Isto pode trazer-nos à memória que o próprio Deus saiu de Si, abandonou a sua glória, para vir à nossa procura e trazer-nos a sua luz e o seu amor. Queremos seguir Deus que Se põe a caminho, vencendo a preguiça de permanecer cômodos em nós mesmos, para que Ele mesmo possa entrar no mundo.”

Assim ele mesmo se vê, já com mais de oitenta anos de idade, no ministério da amizade do Senhor, dando todas as suas forças para responder com fidelidade ao chamado recebido. E tudo por quê?

“Sessenta anos de ministério sacerdotal!… Mas, nesta hora, senti-me impelido a olhar para aquilo que caracterizou estes decênios. Senti-me impelido a dizer-vos – a todos os presbíteros e Bispos, mas também aos fiéis da Igreja – uma palavra de esperança e encorajamento; uma palavra, amadurecida na experiência, sobre o fato que o Senhor é bom. Mas esta é, sobretudo, uma hora de gratidão: gratidão ao Senhor pela amizade que me concedeu e que deseja conceder a todos nós. Gratidão às pessoas que me formaram e acompanharam. E, subjacente a tudo isto, a oração para que um dia o Senhor na sua bondade nos acolha e faça contemplar a sua glória. Amém.”

Esta fidelidade clama por fidelidade. Todos amados chamados a amar na fidelidade ao chamado do Senhor!

+ José Antonio Ap. Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano

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