Com toda a Igreja vivemos um tempo precioso de chamado à renovação da vida cristã e à missão em nova evangelização ou, como se tem referido ao Papa Bento XVI, reevangelização.
Podem parecer o mesmo, mas têm nuanças diversas estas expressões. Nova evangelização é uma expressão usada pelo Papa João Paulo II, quando, às portas do Novo Milênio, propunha para a Igreja novo impulso missionário de evangelização: “nova no ardor, nos métodos e nas expressões”. A partir da celebração do segundo milênio cristão, diante do imenso dom recebido em Cristo, a necessidade de testemunho e anúncio mais explícito e renovador da vida humana em toda a potencialidade do Evangelho, por muitos tido como algo antigo e sem novidade, mesmo anacrônico e ultrapassado.
No início de seu pontificado, João Paulo II clamava com voz forte e comovente: “Não tenhais medo! Abri ,ou melhor, escancarai as portas para Cristo!”. Fazendo eco a este mesmo chamado assim se expressava o Papa Bento XVI em igual circunstância: “E mais uma vez o Papa queria dizer: não! Quem faz entrar Cristo, nada perde, nada absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta. Assim, eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer hoje, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira. Amém.”
Hoje a situação mostra-se ainda mais exigente diante do anúncio de Cristo e de Seu Evangelho.
Como bem reconheceu a Igreja na América Latina e no Caribe, em sua V Conferênciado Episcopado em Aparecida no ano 2007: “Esta V Conferência se propõe ‘a grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis deste Continente que, em virtude de seu batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo’. Com desafios e exigências, abre-se a passagem para um novo período da história, caracterizado pela desordem generalizada que se propaga por novas turbulências sociais e políticas, pela difusão de uma cultura distante e hostil à tradição cristã e pela emergência de variadas ofertas religiosas que tratam de responder, à sua maneira, à sede de Deus que nossos povos manifestam. A Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais. Ela não pode fechar-se frente àqueles que só vêem confusão, perigos e ameaças ou àqueles que pretendem cobrir a variedade e complexidade das situações com uma capa de ideologias gastas ou de agressões irresponsáveis. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários. Isso não depende tanto de grandes programas e estruturas, mas de homens e mulheres novos que encarnem essa tradição e novidade, como discípulos de Jesus Cristo e missionários de seu Reino, protagonistas de uma vida nova para uma América Latina que deseja reconhecer-se com a luz e a força do Espírito.”
E tem sido o grande empenho do Papa Bento XVI, mesmo agora ao propor um Ano da Fé para 2012 e 2013, no Jubileu do Concílio Vaticano II: “Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo.” Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, disse: “A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude. Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as conseqüências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas freqüentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas.” (Porta Fidei, 2– Bento XVI)
É hora de se repropor com toda a intensidade e alegria a fé em Cristo como a maior novidade (Evangelho) para toda a criatura.
Será mesmo preciso re-evangelizar em ambientes de antiga tradição cristã e hoje não mais cristãos de nosso mundo. Assim a evangelização é vista não como algo já feito e ultrapassado, mas como realidade a ser re-proposta de modo novo e convincente para que seja realmente vivida em toda a sua força de renovação em Cristo. Será preciso ir mais em profundidade no conhecimento e vivência do Evangelho nos ambientes onde os cristãos são maioria da população, mas sua vivência não é autêntica suficiente para testemunhar na vida social e impregnar a cultura com os valores evangélicos. E os horizontes se alargam para todo o mundo com a missão do Evangelho entre os povos todos, que esperam, mesmo sem saber, a salvação que Deus dá a todos por Seu Filho.
O que se espera de uma “nova evangelização”? Ficava bem claro para o Papa João Paulo II: “A Igreja deve hoje enfrentar outros desafios, lançando-se para novas fronteiras, quer na primeira missão ad gentes, quer na nova evangelização dos povos que já receberam o anúncio de Cristo. A todos os cristãos, às Igrejas particulares e à Igreja universal, pede-se a mesma coragem que moveu os missionários do passado, a mesma disponibilidade para escutar a voz do Espírito” (João Paulo II, Carta encíclica Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 30)
Esta nova evangelização se refere a mais autêntica vida evangélica dos que já cristãos com alegria reconhecem o dom recebido e querem ser discípulos missionários de Cristo. Esta nova evangelização quer ser mais alegre anúncio e testemunho para a humanidade, servindo e doando a todos o imenso dom recebido e vivido na Igreja para que todos cheguem ao conhecimento da verdade e tenham em Cristo a vida em plenitude, com os benefícios que já, nesta caminhada terrena, poderão frutificar para o bem de toda a humanidade.
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza