Caminhada do Grito dos Excluídos 2024 – Foto: divulgação.
Sob as centenárias árvores da Praça dos Mártires, nosso Passeio Público, iniciou-se o 30º Grito dos Excluídos e das Excluídas, reunindo homens, mulheres, jovens, crianças e idosos que se juntaram no feriado 7 de Setembro para fazer eco do lema: “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?” Aos poucos, a dança do povo indígena Anacé deu o tom daquele começo de tarde, seguido pelos refrães de luta, entrecortados pelo Hino do 30º Grito que profetizava: “É hora de curar as feridas! Fé na vida”.
Francisco Vladimir e Joyce acolhiam a todo instante as forças vivas que há 30 anos são protagonistas da resistência ao sistema de morte e opressão que enfrentamos desde que o Brasil é Brasil. Longe de desanimar, a luta inspira poetas do povo como seu Manoel, que criou e declamou o poema para celebrar esses 30 anos do Grito.
A palavra da Igreja Católica veio após Dom Gregório Paixão, OSB, escutar um pouco sobre o que é o “Grito dos Excluídos”, e registre-se, que em Fortaleza, na verdade, estamos na 31ª edição do Grito, pois sempre contaremos com aquele, o “Grito da Panela Vazia”, proferido na Barra do Ceará, em 1993! Dom Gregório usou Caim e Abel para falar que quando a ganância entra no coração da pessoa, ela deixa de ser humana e a injustiça grassa (Gn 4,1-16). Enfatizou que Deus é o senhor da vida do início até o derradeiro suspiro e são justas as lutas para que todos vivam plenamente. Enquanto houver um excluído, a justiça ainda não estará reinando.
O povo se organizou e caminhou cantando, batucando, sorrindo, levando nas camisas, faixas e cartazes as variadas motivações para se resistir dia após dia na luta por moradia, trabalho, respeito às diversidades, educação, terra, justiça, tolerância…
O sol já se despedia quando a caminhada chegou ao Poço da Draga. A criatividade e a arte se manifestaram na dança do torém, rap, canções populares que enalteciam a vida na periferia: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela em que nasci e poder me orgulhar e ter a consciência de que o pobre tem seu lugar”.
O Grito tem caráter profético, e ouvimos os clamores da Marcha das Mulheres sobre a questão do feminicídio; a Comunidade Raízes da Praia trouxe o impacto do projeto de dessalinização para Fortaleza; o Coletivo Rua relembrou as urgências das juventudes; o povo Anacé partilhando os conflitos para ter direito a terra… Esses e outros gritos em busca de direitos têm em comum a esperança que alimenta a resistência, a esperança de que um dia todos terão pão, terra, moradia (…) sem ter que abrir mão da poesia.
A edição deste ano reforçou o caráter profético do Grito: ao mesmo tempo que denuncia as injustiças e exclusões do presente, anuncia um futuro de justiça e dignidade para todos.
Galeria:
Texto e fotos: Organização do 30° Grito dos Excluídos.
Respostas de 2
Muito importante a manifestação do Grito dos Excluídos, acolhendo povos indígenas, desempregados, Educação, Povo de aRia e a Igreja que luta a favor de todos os Povos.Somos Irmãos na Fé e na Caminhada..Dom Gregório bem vindo…A essa missão do Grito dos Excluídos..
Gostei muito dessa matéria. Um importante resumo desse fenômeno.
Conotação poética e histórica