O teólogo Luciani vê em Francisco “o último anel de uma cadeia que teve início naquele período”. Hoje Bergoglio “coloca os pobres no centro da Igreja, valoriza os movimentos sociais, pensa numa reforma da Igreja baseada na sinodalidade”.
Cidade do Vaticano
“A Conferência de Medellín representou o momento culminante de um caminho de 15 anos de debate ao longo de uma estação que contemplou o nascimento do Celam, o Conselho episcopal latino-americano. Naquela Conferência se viu uma Igreja já adulta, com propostas próprias, a partir da opção preferencial pelos pobres.”
Assim se expressa o teólogo venezuelano Rafael Luciani, docente de teologia no Boston College (prestigiosa universidade estadunidense), coordenador e animador do Projeto hispano-americano de teologia, mediante os quais nos últimos dois anos numerosos teólogos refletiram juntos sobre a atualidade da Conferência de Medellín (25 de agosto – 8 de setembro de 1968), cujo cinquentenário é celebrado desta quinta-feira até domingo (23 a 26 de agosto) na metrópole colombiana com um Congresso latino-americano promovido – entre outros – pelo Celam e pela arquidiocese local.
Hoje, no Pontificado de Francisco, os frutos de Medellín
Na entrevista concedida à agência Sir, o teólogo afirma que “em nenhuma parte do mundo, cinquenta anos trás, as Igrejas nacionais trabalhavam juntas. Isso se deu na América Latina, graças também às intuições de bispos como Manuel Larraín (chileno, bispo de Talca, um dos fundadores do Celam, falecido em 1966, dois anos antes da Conferência, ndr). Hoje, no Pontificado do Papa Francisco se veem os frutos daquela estação”, ressalta.
Contribuição de Paulo VI, Papa da Populorum Progressio
Luciani vê em Francisco “o último anel de uma cadeia que teve início naquele período e que teve também a importante contribuição do Papa Paulo VI, o autor da Populorum Progressio(Encíclica social de 1967, ndr) que justamente na visita que fez à Colômbia por ocasião da Conferência de Medellín, foi o primeiro a encontrar, em Bogotá, uma delegação de camponeses. Hoje o Papa Francisco coloca os pobres no centro da Igreja, valoriza os movimentos sociais, pensa numa reforma da Igreja baseada na sinodalidade”.
Sinodalidade, um espírito e modo de agir da Igreja
Segundo o teólogo, a sinodalidade é o aspecto de maior atualidade da Conferência de Medellín: “Ela não é somente a realização de Sínodos, mas um espírito e um modo de agir de toda a Igreja, na valorização de todos os seus membros. Nesse sentido, a Conferência de Medellín representou um momento forte. Abriu canais de discussão entre a base e a hierarquia. A sinodalidade implica diálogo e escuta em todas as suas dimensões, incluindo a liturgia”.
Nesse contexto, “o Sínodo Pan-Amazônico do próximo ano representa uma grande esperança. A inclusão de indivíduos e a identificação de diferentes ministérios serão fundamentais”, acrescenta.
Celam, “organismo profético”
O teólogo vê positivamente a multiplicidade de debates e simpósios sobre os 50 anos de Medellín, incluindo o Congresso promovido pelo Celam, organismo “chamado a repensar-se” em fidelidade à sua história de “organismo profético” e em referência ao magistério do Papa Francisco. Por fim, Luciani evidencia o trabalho destes últimos anos realizado pelo Celam “na formação teológica e pastoral e na formação bíblica”.