Na alegria da aprovação e reconhecimento da santidade do Padre Charles de Foucauld, quando, aos 27 de maio de 2020, nos chegou a alvissareira e surpreendente notícia, a de que o Papa Francisco aprovou o milagre, exposto pela Congregação para a Causa dos Santos. Esse milagre contou com a intervenção, ou interferência, do Bem-aventurado Charles de Foucauld, indicando-nos que sua canonização virá. É Deus que está presente na história humana, no convite, para que as pessoas de boa vontade permaneçam firmes e apoiadas naquilo que é seguro, sólido e consistente, mesmo diante de angústias, fracassos e conflitos. Como exemplo maior, temos em Charles de Foucauld aquele que nasceu na França (1858-1916), submetendo-se à vontade de Deus, aos 30 de outubro de 1886. Em Paris, encontrando-se com o Padre Huvelin, vigário da Igreja de Santo Agostinho, em uma conversa entre eles, confidenciou-lhe: “Padre, não tenho fé, peço-te que me instrua”. O padre foi ríspido: “Te ajoelha e confessa teus pecados! Então, crerá!”. Obediente, experimentou uma alegria indizível: a alegria do filho pródigo.
Com Charles de Foucauld, na ânsia pela data de sua canonização, não nos afastemos do eixo de seu caminho espiritual: a conversão permanente, a Eucaristia como centro, a oração do abandono, a busca do último lugar, sem esquecer-nos do Evangelho da Cruz. Deus falou-lhe na sua incredulidade, indiferença e egoísmo, caindo nas mãos divinas, sendo arrebatado e seduzido por Jesus de Nazaré, que se tornou o único e maior tesouro de sua vida. A última palavra, evidentemente, de ânimo levantado e para cima cabe sua exclusividade e deve ser reservada a Deus, no anúncio do cântico do Cordeiro: “Grandes e admiráveis são tuas obras, Senhor Deus, todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó rei das nações! Quem não temeria, Senhor, e não glorificaria o teu nome?” (Ap 15, 3-4).
Que toda a família de Charles de Foucauld possa sempre, e cada vez mais, render graças a Deus, a partir da Mesa Sagrada, pelo dom de sua canonização, no inesgotável legado de sua espiritualidade, em sua célebre frase: “Gritar o Evangelho com a própria vida”. Enquanto vivermos neste mundo, com as marcas da dor e do sofrimento, que nosso olhar se volte para o “Senhor e Pai da humanidade, que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade” (Papa Francisco, “Oração ao Criador”), que nunca nos separemos da aparente loucura da cruz, com nossa alma conformando-se com a vontade de Deus, que seu desígnio de amor quer que nos agigantemos, no sentido de produzir, na esperança, muitos e bons frutos, através de gestos e obras de caridade, mas numa intensa atividade, fruto do verdadeiro e puro amor.
Francisco fecha sua Carta Encíclica, “Fratelli Tutti”, referindo-se ao Padre Charles de Foucauld, assassinado em 1º de dezembro de 1916: “O seu ideal de uma entrega total a Deus encaminhou-o para uma identificação com os últimos, os mais abandonados no interior do deserto africano. Naquele contexto, afloravam os seus desejos de sentir todo ser humano como um irmão, e pedia a um amigo: ‘Peça a Deus que eu seja realmente o irmão de todos’. Enfim, queria ser o irmão universal. Mas somente identificando-se com os últimos é que chegou a ser irmão de todos. Que Deus inspire este ideal a cada um de nós”. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).