Chegamos à Praça de São Pedro às 11h45min do dia 13 de março de 2013, quando a fumaça preta que saía da chaminé anunciava que ainda não tínhamos um Papa. A multidão, não só a que estava presente na Praça, mas em todo o mundo, se voltava para o Vaticano, esperando quem sucederia Bento XVI. O povo que se aglomerava logo se dispersou, a Praça ficou menos lotada e aproveitamos para almoçar ali perto, num restaurante chinês que, por sinal, parecia reservado somente para clérigos e religiosos(as). Chamou-me a atenção a grande presença da família franciscana naquele lugar.
Enquanto almoçávamos, fizemos uma reflexão sobre quem seria o novo Sumo Pontífice, falamos dos nomes que a mídia sacralizava como fortes candidatos, dos boatos e realidades sobre o interior da Cúria Romana, o anseio de muitos por um Papa carismático, de pulso firme, de um longo pontificado, da esperança dos italianos que o bispo de Roma fosse um italiano. Quantos deles bradavam por Dom Angelo Scola! Falamos sobre muitas possibilidades, dentre elas as que a mídia havia anunciado. Roma estava num clima profundo de expectativas e prospectivas que se acentuavam com o frio que se seguia de uma chuva calma.
Saímos do restaurante e nos posicionamos próximos a uma grade, lugar mais perto que podíamos ficar da faixada da Basílica de São Pedro, onde veríamos bem a fumaça branca e o anúncio do novo Papa. Era por volta das duas horas da tarde, o assunto prosseguia arraigado pela imprensa que a toda hora procurava alguém para entrevistar. Emissoras de todos os lugares do mundo se avizinhavam para colher alguma impressão sobre o Conclave, principalmente expectativas sobre o novo Papa. Um amigo que encontramos deu cinco entrevistas para emissoras diferentes. Preferimos fugir um pouco desse assédio.
No fim do segundo escrutínio, o primeiro da tarde, olhávamos atentamente que cor seria a fumaça. Eram 5h30min da tarde, nada saiu da chaminé, somente os pássaros que pousavam, gaivotas que se revezavam por sobre o objeto mais visado pelo mundo. Interessante que as pessoas emitiam um sinal de ternura, porque a cena daqueles pássaros fez a muitos rezar e sentir a presença de Deus na natureza. Enquanto esperávamos, a chuva não parava de cair e todos na Praça, lotada, abriam seus guarda-chuvas, coisa que não impedia que nos molhássemos. O sinal que tanto esperávamos não veio, não havia ainda um Papa.
O sentimento de ansiedade aumentava a cada minuto que se passava: será que teremos um Papa no final do terceiro escrutínio do dia, o segundo da tarde? A Praça de São Pedro estava repleta de gente, podíamos ver pelo telão uma multidão que tomava toda a sua extensão e nós, bem na frente, cansados, mas firmes, rezávamos o rosário e pedíamos a Deus pelo sucessor de São Pedro. Quando o relógio da basílica marcou 19h15min, eis que surge o sinal esperado por todos: “Fumata bianca! Habemus Papam”! Toda a multidão exultou de alegria, as pessoas regozijavam porque fora escolhido seu pastor, aquele que é o sinal visível da unidade de toda a Igreja, da Caridade e da Paz, o bom pastor, cuja missão é confirmar os irmãos na fé, conduzindo a barca de Pedro. O que me chamou atenção foi a presença massiva de muitos jovens que rezavam e cantavam louvores a Deus, agradecidos pela escolha do papa.
Depois que soubemos da escolha, novamente se abateu sobre todos a expectativa sobre quem seria. As previsões eram claras, a mídia escolhera seu papa, podemos dizer que muitos cardeais entraram bispo de Roma para o Conclave, a mídia os fez assim, embora a admirável descrição daqueles senhores que passaram tantos dias trabalhando incansavelmente para a escolha do “primus inter pares” não se constituísse nesse estado de coisas.
Às 8h o cardeal diácono francês Jean-Louis Tauran pôs um ponto final na espera e anuncia o nome do cardeal eleito, Jorge Mário Bergoglio. Houve um silencio na Praça. De repente escuto um italiano se perguntando: “ma chi `e Bergoglio?”, era a surpresa que Deus havia preparado para o seu povo, um Latino-Americano, filho de italianos que adotou um nome bastante sugestivo para o momento que a Igreja atravessa, um momento tempestuoso, sombrio, onde se vê muitas ruínas surgindo em vários rincões de sua presença, escolheu o nome de Francisco. Quando o cardeal diácono pronunciou a todos o nome do Papa eleito, o povo exclamou com um misto de surpresa e carinho: “Francesco!”, porque para muitos seria Bento XVII, João Paulo III, Paulo VII, enfim, havia muitas conjecturas, mas Francisco era realmente uma grata surpresa!
Ficamos profundamente apaixonados por Francisco, principalmente quando nos pediu para que rezássemos pelo seu pontificado. Nunca vi um papa se inclinar para seu povo da forma como se inclinou. Nesse momento a chuva parou de cair, e toda aquela multidão, em silêncio, rezou, crianças, jovens, idosos, todos unidos em oração pelo seu Pastor inclinado que deveria abençoar primeiro o povo, mas que antes de fazê-lo, rezou com suas ovelhas, porque ele também é ovelha do Senhor e todos nós precisamos da oração uns dos outros.
Rezarei sempre por Francisco, para que Deus o ajude a conduzir a barca de Pedro em meio a tantas vicissitudes históricas, a essas ondas revoltas que visam desviar a Igreja do caminho.
Por Padre Augusto Vale, estudante em Roma.