por Pe. Almir Magalhães*
As atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – 2011-2015, registradas no Documento 94 da CNBB, estão construídas a partir da reflexão e da perspectiva de ação de cinco urgências que nas palavras dos próprios bispos, “desejam ser uma resposta aos desafios que emergem em nosso tempo de transformações radicais que geram perplexidade e ameaçam a vida em suas diversas formas” (Diretrizes – Apresentação). Estas mesmas urgências foram assumidas pela Arquidiocese de Fortaleza e o registro está na publicação do seu Plano de Pastoral 2012-2015 elaborado de forma participativa.
Ocupar-me-ei nesta reflexão com uma das urgências, a quinta, que tem como título uma preocupação e ao mesmo tempo uma lacuna pastoral: uma igreja que esteja a serviço da vida.
Qual o motivo da escolha? Em função de sua especificidade, já que é a única que está diretamente ligada com uma Igreja que se relaciona com o mundo, com a sociedade, que aponta para uma Igreja extroversa, que não se volta só para si.
Na concretização desta urgência, dentro do Plano de Pastoral da Arquidiocese de Fortaleza, foram contemplados dois programas e três projetos, todos eles com previsão de data de início para este ano: Programa 1 – Conseqüências sociais da fé no processo de iniciação à vida cristã, com um Projeto: Formação dos cristãos na Doutrina Social da Igreja e Programa 2: Fortalecimento ou reorganização dos organismos a serviço da vida, a partir das urgências pastorais (Pastorais Sociais, CDPDH, Cáritas, Comissão Justiça e Paz e outros), com dois Projetos: Projeto 1 – Promoção dos organismos paróquias a serviço da caridade e Projeto 2 – Identificação das ações, organismos e atividades que estão a serviço da vida.
Ao analisarmos os dois programas e os três respectivos projetos se percebe que os mesmos se situam predominantemente num nível de sensibilização, de conhecer o papel da Igreja no que diz respeito à dimensão social do evangelho, na linha da formação do que propriamente na ação concreta, só aparecendo um pouco a identificação do que já existe, que, talvez possa ajudar aos outros a desenvolverem ações semelhantes. Lembro ainda que nada apareceu no que diz respeito à defesa do meio ambiente.
De qualquer forma, sendo intelectualmente honesto com a constatação e a afirmação de que neste campo, a Igreja (Paróquias e Áreas Pastorais), estão realizando atividades evangelizadoras que apontam para outro rumo e não contemplam esta dimensão da fé, considero que pedagogicamente demos um passo expressivo, abrindo horizonte e consciência eclesial de que este aspecto não pode ficar fora da ação evangelizadora, sendo elemento constitutivo da mesma.
Afinal de contas o que está em jogo em todo este processo? Sempre os pobres e a justiça ou a sua negação, a injustiça. Sobre a justiça o Papa Bento XVI afirmou na sua Encíclica Deus é Amor (25.12.2005) ‘A Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça… toca à Igreja empenhar-se pela justiça” (n. 28). No mesmo documento faz uma afirmação que é bastante significativa para o momento que vivemos hoje no seio da Igreja: “ Se em minha vida negligencio completamente a atenção ao outro, importando-me apenas com ser “piedoso” e cumprir com meus “deveres religiosos”, então definha a relação com Deus” (n. 18).
Sempre tenho afirmado que os Planos de Pastorais têm uma vocação comum: a gaveta. O ano de 2012 já está acabando; os dois programas e os três projetos desta urgência indicam seu começo para este ano. Vamos abraçá-los.
Pe. Almir Magalhães é Diretor e Professor da Faculdade Católica de Fortaleza, Mestre em Missiologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma.
Artigo publicado no Jornal O Povo no dia 13 de janeiro.