Por Pe. Antonio Augusto Menezes do Vale
A tecnologia se tornou, na presente época, uma ferramenta indispensável da práxis humana no planeta que trouxe vantagens e desvantagens, crescimento e ameaça à vida no planeta. A ética não pode se furtar a uma reflexão crítica e pertinente sobre a ação técnica do homem e suas consequências, haja vista, ser sua tarefa analisar, avaliar e julgar as ações humanas, pautada em valores fundamentais que levam ao equilíbrio da sociabilidade universal do planeta. Para se chegar a uma reflexão ética contemporânea a respeito da ação técnica do homem é importante uma análise não somente tecnológica, mas antropológico-filosófica.
O ser humano tem necessidades a ser satisfeitas, precisa comer, beber, ter um lar, saúde de qualidade, vive num contexto histórico-social que o caracteriza e forma, precisa trabalhar para conseguir cumprir um conjunto de exigências vitais; por outro lado, é um ser insatisfeito, está em busca de vencer desafios, barreiras, capaz de questionar tudo, tudo está no horizonte da pergunta e da validade, enfim, é capaz de transcender tudo, inclusive a cultura e a história que recebeu de seus antepassados.
Como o ser da pergunta é capaz de se perguntar pelo sentido de suas ações e seus riscos. Não vive sozinho, forma família, sociedade, instituições que garantem sua liberdade e seu desenvolvimento humano, que “exploram” sua capacidade criativa e sua capacidade de viver com a alteridade. É um ser que convive com a alteridade humana e não humana, faz parte de uma comunidade universal e pode se relacionar de forma sadia ou patológica. É um ser frágil, suas habilidades motoras não lhe favorecem uma sobrevivência satisfatória em comparação aos outros animais da natureza que são adaptados ao seu meio. O ser humano desenvolveu habilidades técnicas para adaptar o meio a si e então criar o seu espaço de sobrevivência, seu “mundo” , daí filósofos afirmarem que a técnica faz parte da constituição do ser do homem. A fragilidade biológica e fisiológica humanas desenvolveu sua capacidade de transcendência que tem nas habilidades técnicas uma das suas expressões. No cenário atual há a difusão de uma concepção confusa que põe a técnica como a expressão máxima da transcendência humana e a categoria central de compreensão da realidade e do ser humano.
Na cultura atual a tecnologia assume um papel preponderantemente central, porque acelera a produção, gerando conhecimento e riqueza, num vertiginoso processo ilimitado de operações que não está de acordo com a limitação dos recursos naturais.
A crise ambiental é sem dúvida uma realidade que tem desafiado e causado um dissabor nos tempos hodiernos. Há muitos motivos pra essa crise: a. opções políticas e econômicas que se preocupam em aumentar seu poderio ignorando a fragilidade dos recursos naturais, água e biodiversidade, gerando um desequilíbrio sem precedentes na história da Terra; b. o avanço técnico-científico que traz progresso e benesses, mas também riscos, tais como lixos e sucatas não aproveitados corretamente no processo de reciclagem. A tecnologia gera provisoriedade daquilo que é produzido gerando consumismo, exploração dos recursos naturais, lixo, ignorando o destino desses produtos descartados; c. a problemática das mudanças do clima que tem ocorrido em larga escala em um pequeno espaço de tempo que acende um sinal de alerta e requer uma grande discussão ética sobre a sustentabilidade planetária e o devido cuidado e responsabilidade pelo planeta.
A humanidade em seu fazer tecnocientífico gerou um ethos destrutivo e instrumental que deve ser repensado. É necessário retomar valores que direcionem a práxis tecnológica ao seu verdadeiro sentido: estar a serviço do bem estar social, sem destruir as condições favoráveis ao desenvolvimento universal da vida no planeta. Valores como o cuidado, responsabilidade, solidariedade, respeito, veneração pela vida, sustentabilidade são fundamentais para que a humanidade não sofra consequências mais devastadoras.
A crise ambiental requer uma ética que leve a sério a problemática sócio-ambiental e que deve ser refletida nas instancias educacionais, como valores universais de sociabilidade: a. a busca e a valorização de experiências local e global que promovem a educação ambiental, aproveitamento de recursos naturais, reciclagem, fontes alternativas de energias, melhoramento das espécies através do aperfeiçoamento genético, preservação do meio ambiente e das espécies ameaçadas; b. optar por um estilo de vida menos consumista dentro de uma atitude ética de consumir com consciência e responsabilidade, as empresas se responsabilizarem pelo destino final de seus produtos através do incentivo a reciclagem. c. os problemas surgidos não são apenas de uma sociedade com seus costumes e valores, mas de todo planeta. Faz-se necessário uma ética, cujo ethos seja universal para resolução de uma crise que é global. Não é adequado pensar que a solução dos problemas seja para o tempo presente, fundamental buscar a preservação do planeta para as gerações futuras que tem o direito de receber um planeta habitável, sendo o principal dever da atual geração trabalhar para a mitigação da fome, miséria, emissão de gases do efeito estufa que geram aquecimento global e consequências nefastas para a vida no planeta.
Padre da Arquidiocese de Fortaleza estudante em Roma.
Respostas de 3
Caro reverendo, ao escrever sobre à ética no mundo atual, com suas tecnologias avançadas compreendo que nem tudo que é moderno, avançado traz felicidades. Seu comentário é de uma riqueza profunda. Sucesso! Que DEUS te abençoe todos os dias de sua vida.
Há uma corrente dominante que, claramente, se opõe ao – pensar de sempre – deixando o espaço destes saberes reduzido. O trabalho para despertar uma ética, não virtual, é cada vez mais indispensável.
Fica claro pelo pensamento desenvolvido pelo querido Pe. Augusto que existe a necessidade de uma ética responsável sem absolutização da técnica e do progresso; pois o avanço gerou uma realidade meio que paradoxal, um certo disparate assola a realidade humana. Que tal eloquência desse grande pesquisador possa fomentar em nós uma reflexão clara, legítima e plausível de nossa atitudes, bem como da técnica.