A trilogia cristã e a formação na ação

A Palavra, a Liturgia e a Caridade são dimensões constitutivas da Igreja, pois expressam a identidade, a vida e a missão de Jesus Cristo e dos discípulos que o amam, o seguem e o servem. Integradas entre si de forma indissociável, a Palavra encarnada é Jesus Cristo, Profeta revelador do Pai. Cristo, Senhor e Salvador, Sacerdote, Cabeça e Pastor da sua Igreja, na sagrada Liturgia, e de forma singular na Eucaristia, Cristo Salvador vive o Memorial da sua vida, paixão, morte e ressurreição e, em seu Mistério celebrado, agrega, forma, nutre e santifica os membros de seu Corpo. Cristo, Rei Pastor, em sua missão evangelizadora, constrói o Reino de Deus, integrando os seus discípulos no serviço da Caridade, da Justiça e da Paz.

Essas dimensões constitutivas da Igreja foram ilustradas nas intuições fundamentais do Concílio Vaticano II: – A Igreja, povo de Deus reunido em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Lumen Gentium), obediente à Palavra de Deus, revelada e acolhida na fé (Dei Verbum), celebra o Mistério de Cristo na Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium), para a salvação da humanidade (Gaudium et Spes). – Trata-se de um processo permanente de conversão à verdade de Jesus Cristo, da Igreja e do homem, visando o Reino de Deus e a transformação da história.

As intuições fundamentais do Concílio Vaticano II, presentes nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2015 – 2019) devem ser organizadas e articuladas nas práticas da vida cristã, em nossas comunidades eclesiais. 1. A Igreja toda ministerial, em missão evangelizadora, anuncie o Evangelho da Salvação. 2. A Igreja, casa de iniciação à vida cristã forme e acompanhe os cristãos na fé. 3. A Igreja seja casa de animação bíblica, catequética e litúrgica de toda ação evangelizadora e pastoral da vida cristã. 4. A Igreja seja comunidade de comunidades. As atividades realizadas em equipes, em redes de comunhão e participação, somem forças e repartam as tarefas nas realidades locais. 5. A Igreja defenda e promova a dignidade da vida para todos. As pastorais sociais expressem a caridade cristã serviçal, integrando os valores da fé com a realidade da vida e com os seus desafios.

A ação evangelizadora deve assegurar a pastoral orgânica e de conjunto. A Igreja, Corpo de Cristo, organize e articule suas funções, integrando-as nos diversos ministérios e serviços, como um organismo sadio, desenvolvendo funções distintas, mas, conjuntas, onde semelhanças e diferenças se complementam. Atividades não podem ficar soltas, dispersas. Equipes formadas por pastorais, serviços e ministérios leigos, elaborem com o pároco um projeto integrador, priorizando a formação e a vivencia sistemática da mistagogia cristã, prerrogativa para toda ação evangelizadora e pastoral! O acompanhamento do pároco e dos representantes dos seus conselhos paroquiais articulem, promovam, avaliem as ações da Palavra, Liturgia e Caridade.

O axioma da Tradição da Igreja explicita a mistagogia cristã: “o que nós cremos, a fé revelada na Palavra, é celebrada na Sagrada Liturgia e vivida na vida cristã, na Caridade”. A Palavra de Deus, revelada na fé, é celebrada no Memorial da Eucaristia, é vivida na Caridade, nas expressões que defendem e promovem a dignidade da vida humana. O que a alma é para o corpo, o cristão para o mundo. Cristãos e cidadãos, enfrentaremos desafios, ameaças e oportunidades para desenvolver a ação evangelizadora e pastoral, em relação à Palavra, à Liturgia e à Caridade.

Em vista da formação sistemática dos fiéis em relação à Palavra de Deus, à Catequese e à Moral cristã, inspiradas na mistagogia cristã, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos publicou o Diretório Homilético (29. 06. 2014), contendo o roteiro catequético, litúrgico e sacramental, seguindo as leituras apropriadas dos ciclos litúrgicos das Celebrações Eucarísticas dominicais. Cabe aos celebrantes e às respectivas equipes litúrgicas elaborar e adaptar pedagogicamente os roteiros que obedecem ao processo formativo da iniciação cristã.

A Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética, ofereceu-nos o “Itinerário Catequético, iniciação à vida cristã, um processo de inspiração catecumenal” (Ed. CNBB, 2014). Correspondendo ao processo de formação cristã, caberá ao pároco e às suas equipes, adaptar e elaborar e concretizar a aplicação sistemática das orientações bíblico-catequéticas, oportunas e indispensáveis para o percurso de formação na ação, a ser vivido nas diversas realidades.

+ Aldo di Cillo Pagotto, sss – Arcebispo emérito da Paraíba

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