A verdadeira justiça se percebe na busca sincera da obediência à vontade de Deus, no propósito divino do mistério da encarnação, em Jesus de Nazaré, no pleno cumprimento da vontade do Pai, pela morte – e morte de cruz – do seu Filho Amado. É o dom gratuito da redenção da humanidade que, embora não o mereça, foi presenteado, na mais cristalina bondade de Deus, aos que se alimentam da fé em Cristo Jesus.
Como é maravilhoso ter nos lábios e no coração a palavra de Deus! No exemplo do bom samaritano, na sua sensibilidade e compaixão, ele parou e socorreu o pobre homem, encontrado à beira da estrada, ultrajado e enfermo, consequência do assalto dos malfeitores. Por essa parábola, que possamos amar o próximo, como a nós mesmos. No texto ela se cumpre não nos homens instruídos na lei, mas no samaritano, tido pelos judeus e mestres da lei como incrédulo e pecador (cf. Lc 10, 25-37).
A aproximação de Deus, pela vivência de um amor irrestrito, desinteressado e solidário, se torna realidade na comunidade dos que abraçam uma fé firme e sólida, numa Igreja inclusiva, quando pessoas, tidas como mal vistas, vulneráveis e empobrecidas, são pensadas e levadas em conta na ação pastoral. A parábola citada quer se identificar e se configurar com a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, a mesma Igreja em saída, tão bem proclamada e visível no Papa Francisco.
Ela, na alegoria acima, carrega consigo neste mundo, convenhamos, as impressões do globalizado e fictício progresso, num consequente indiferentismo, acentuando-se sempre mais o materialismo, com léguas e léguas de distância da proposta do mundo fraterno e solidário. Nada melhor do que o exemplo da Irmã Dulce, nossa santa genuinamente brasileira, que olhou para os necessitados de toda natureza, sentiu a mesma compaixão de Jesus e cuidou deles, sem distinção.
Na Irmã Dulce, o Reino de Deus e sua justiça prefiguram como um sinal da caminhada no constante esforço para que se realize em nós a vontade de Deus, numa adesão a seu projeto de amor, a partir dos bens materiais, mas que se requer, acima de tudo, o aprazimento interior, que se supõe conversão à justiça divina.
Que a canonização da Irmã Dulce, que passará a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres, na cerimônia do dia 13 outubro de 2019, desperte nossa consciência para o dom gratuito de Deus, que, como pessoas novas, fomos criados, segundo os desígnios de Deus, para a justiça e santidade. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, Blogueiro, Escritor e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza