Apelo do Frei Patton, Custódio da Terra Santa, aos bispos do Brasil

Frei Patton, Custódio da Terra Santa 

A presença franciscana na Terra Santa em meio a guerras e conflitos. “A presença na Terra Santa, desde 1217, foi desejada pelo nosso fundador São Francisco”.

Silvonei José – Vatican News – Aparecida

Depois de experimentar mais de dois anos de incerteza devido à Covid e de nos iludirmos de que tinha voltado a normalidade, subitamente, no dia 7 de Outubro de 2023, fomos surpreendidos pela eclosão de uma nova guerra na Terra Santa, que, além de causar milhares de mortes e centenas de reféns, bloqueou mais uma vez o fluxo de peregrinos e deixou muitos dos nossos cristãos sem trabalho especialmente em Belém e em toda Palestina, mas também na Cidade Velha de Jerusalém e em Israel.

O Custódio da Terra Santa recordou os 50 anos da Exortação Apostólica de Paulo VI

A Exortação Apostólica Nobis in Animo de Sua Santidade Paulo VI, ao Episcopado, ao Clero e aos fiéis de todo o mundo, sobre as crescentes necessidades da Igreja na Terra Santa, completa 50 anos. “São Paulo játinha no coração o cuidado com os primeiros cristãos. O próprio Apóstolo trouxe ajuda à Cidade Santa, vendo na Coleta um vínculo de unidade e comunhão entre as novas comunidades de cristãos e a Igreja nascente em Jerusalém”. No tempo de São Paulo, mas também nestes 800 anos de presença franciscana na Terra Santa, os desafios sempre foram e continuam sendo muito grandes.

A presença franciscana na Terra Santa em meio a guerras e conflitos

A presença franciscana na Terra Santa, desde 1217, foi  desejada  pelo nosso fundador São Francisco. Sucessivamente, em 1342, o Papa Clemente VI confiou-nos a custódia dos Lugares Santos. Missão essa confirmada pela Igreja em vários documentos e diretamente através das visitas dos papas; São João Paulo II, Bento XVI e Papa Francisco.

Uma missão que é uma grande honra, mas também um grande compromisso em um território onde estão os santuários que preservam toda a história da nossa salvação e que ao mesmo tempo são tão marcados por tensões e conflitos.

A nossa Ordem dos Frades Menores atualmente está presente na Terra Santa com aproximadamente 270 religiosos e cerca de 50 jovens em formação provenientes de 60 países. Entre estes, 7 frades são do Brasil. É nossa missão, segundo o mandato da Santa Sé, cuidar dos lugares santos, cuidar pastoralmente dos fiéis locais nas principais paróquias, acolher  os peregrinos e também implementar obras educativas como escolas, serviços sociais, como lares para famílias, idosos, e jovens, ambulatórios e dispensários, obras de promoção humana através da criação de empregos, iniciativas de apoio a trabalhadores migrantes e refugiados.

O Diálogo a exemplo de São Francisco e o Sultão do Egito

Francisco de Assis, no seu encontro com o Sultão do Egipto, ensina-nos a sair dos esquemas para procurar o diálogo com mundos religiosos e culturas diferentes das nossas e ainda hoje parece muito atual  para a comunidade internacional que vive uma paralisia diplomática e parece ter renunciado soluções diferentes daquelas do confronto entre exércitos.

Procuramos dar voz à mensagem do Papa Francisco com um apelo constante: “ Basta de guerras! Os civis não sejam vítimas.” Na sua última mensagem por ocasião da Páscoa, ele nos encorajou: “vocês não estão sozinhos e não os deixaremos sozinhos, mas permaneceremos solidários através da oração e da caridade ativa. Renovo o meu convite a todos os cristãos do mundo para que façam sentir o seu apoio concreto; a ocasião favorável é a Coleta da Sexta-Feira Santa”.

A falta de peregrinos e o desastre econômico também são evidenciadas na carta do Cardeal Claudio Gugerotti, Prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais: “Especialmente nestes tempos de guerra e ausência de peregrinações a Jerusalém, o apoio concreto dos católicos de todo o mundo é vital para os cristãos da Terra Santa”.

O apelo do Custódio

Nesta situação, sentimos a necessidade da vossa proximidade e solidariedade. Antes de tudo através da oração, porque estamos convencidos de que somente a ação da graça de Deus pode mudar os corações e levá-los  ao diálogo, a reconciliação e a paz. Depois, solidariedade e proximidade através das peregrinações à Terra Santa. Por fim, proximidade e solidariedade também através da partilha de recursos econômicos, para que possamos continuar a nossa missão, a missão da Igreja, a missão de todos nós.

Que o Senhor abençoe o vosso encontro nestes dias e o vosso compromisso pastoral, que Ele faça crescer o vínculo e a partilha entre as Igrejas.

Contem sempre com as nossas orações aqui nos lugares santos e será uma grande alegria recebê-los em peregrinação.

Muito obrigado.

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