“FRATERNIDADE E FOME.”
Tempo especial da Quaresma, em preparação para a Páscoa e com um grande estímulo para a renovação da vida cristã. Sob o impulso do Concílio Vaticano II, a grande proposta de renovação da Igreja e sua missão no mundo, começou o que se chama a Campanha da Fraternidade (1964).
Ela é uma chamada de atenção para a grande novidade do Evangelho – A Boa Notícia da fé cristã, para o encontro com Jesus, o Filho Eterno que nos revela o Pai e no coenvolve na fraternidade universal dos filhos e filhas de Deus. Este é o Tempo Novo, último e definitivo para a Humanidade e toda a Criação.
A convivência humana ganha sua maior e definitiva dimensão. E tudo o que se refere aos relacionamentos humanos, interpessoais, sociais, políticos, universais, encontra luzes e forças para sua justa realização no bem comum de todos – no Reino de Deus revelado e inaugurado em Cristo Jesus – o Senhor Ressuscitado.
Mais uma vez nos deparamos com a ferida da humanidade, que apesar de tantos meios e progressos, pela falta de fraternidade ainda enfrenta o drama da fome! São milhões de seres humanos que vivem nesta carência fundamental em suas vidas. E a responsabilidade de toda a humanidade, pois os recursos na natureza não faltam, o que falta é a comunhão e solidariedade para resolver os desafios da vida digna igualmente para todos.
Diante do impacto deste drama de uma multidão é que, propondo seu projeto aos discípulos, Jesus os desafia: “Dai-lhes vos mesmos de comer!” (Mt 14.16). E realiza com um gesto magnânimo e sábio, as condições para que isto mesmo aconteça.
Desperta a sensibilidade, convoca à solidariedade, eleva a mente e o coração dos discípulos para a confiança no socorro providente do Pai Eterno, que jamais, como bom pai, deixará de dar pão ao filho que o pede. A todos propõe o gesto da partilha, a partir dos recursos existentes; e onde estão eles? Os recursos já estão aí, com a humanidade a partir do gesto criador e providenciador que encontramos na criação, a casa comum de todos.
“Os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. Mt 14,17.O disponível pode parecer pouco, mas com a bênção divina e a solidariedade da partilha, torna-se abundância e vai além das necessidades momentâneas e prepara, com a boa administração dos recursos que não se desperdiçam, fonte de partilha para outros mais.
Os recursos que temos na Terra são suficientes para todos, se não fosse o desperdício e o estrago egoista da natureza para acúmulo de riquezas infrutíferas, e descuido irresponsável com os recursos naturais. .
Iniciemos este tempo especial de consciência e resoluções sábias e sensatas, que frutificam na fraternidade universal de toda a humanidade. “E todos repartiam os bens conforme as necessidades de cada um e …não havia necessitados entre eles.” (cf. At 2, 44-45 e 4, 34-35)
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza