Jesus quer sempre nos dizer que seus seguidores de verdade sabem ouvir sua palavra, entendendo-a e procurando produzir bons e abundantes frutos, dizendo não a um cristianismo superficial, numa junção perfeita entre teoria e prática. Com o desejo de obter uma bela colheita para o Reino, transformam-se em uma terra boa, na qual é sentida a força misteriosa da semente, que é a palavra de Deus.
São Bento, cujo seu dia foi comemorado pela Igreja no dia 11 de julho, viveu deste modo. Aliás, Bento quer dizer bênção, quer dizer bendizer, abençoar. Toda bênção vem de Deus, Senhor da vida, da história e da criação e dele depende a pessoa humana, os animais, a natureza e toda realidade que existe no universo (cf. Gn 1, 22). Bênção é considerada como uma manifestação da força divina e que passa de pai para filho, pela palavra transmitida e mesmo pelo gesto das mãos. Olhemos para Jesus em chamar para si as crianças e as abençoar (cf. Mc 10, 13-16).
É por aí que devemos olhar para São Bento. Ele nasceu em Úmbria, na Itália (480-547). Estudou na cidade eterna e tornou-se uma figura humana extraordinária, com marcas indeléveis, a influenciar em profundidade os destinos da humanidade. Quando escolheu o Senhor por sua herança e sua taça, consciente estava de que lhe coubera por sorte uma boa parte; sim, o mais belo e o que há de mais maravilhoso, a eternidade (cf. Sl 16, 5).
Bento vai para a gruta de Subiaco, reunindo um grupo de fiéis seguidores, com os quais nutre o ideal da vivência do Evangelho, fazendo uma rica experiência do amor de Deus, indo mais tarde para o Monte Cassino. Não existia até então na Europa, ao contrário do Oriente, instituições com uma força mística dessa natureza. São Bento sentiu-se inspirado e motivado para a contemplação e o tempo vivido na solidão naquele lugar apropriado e sagrado; Subiaco foi imprescindível e fundamental no seu projeto de vida, tudo, à luz da Palavra de Deus.
São Bento deixou para trás sua casa, seus bens e sua família, com uma única vontade: experimentar e fazer a vontade de Deus, buscando um estilo de vida e de santidade, pela oração e pelo trabalho, tanto que escolheu como lema: “ora et labora”, tornando-se um cristão por excelência, na compreensão grandiosa e incomensurável da Palavra de Deus, convicto de que a mesma tinha que ser vivida em profundidade e em comunidade.
O Monte Cassino foi o local sagrado e de fato próximo da glória de Deus. Lá ele construiu o histórico mosteiro de são bento e escreveu a sua regra de vida, difundida em muitos países da Europa, valendo–lhe o título de patriarca do monaquismo do Ocidente. “Ó Deus, que fizestes o abade São Bento preclaro mestre na escola do vosso serviço, concedei que, nada preferindo ao vosso amor, corramos de coração dilatado no caminho dos vossos mandamentos” (Missal Romano, p. 616).
No cume de um lugar santo e abençoado, lugar de Deus, edificou um mosteiro (cf. Mt 5, 1ss), considerado um centro de irradiação da vida monástica, na contemplação, na oração e na meditação, realizando o sonho ideal da vida consagrada, vivendo em comunidade a Palavra de Deus, sob o comando de um mestre espiritual, o abade. Esse jeito de viver cresceu de tal modo, que duzentos anos mais tarde, a regra São Bento vigorava plenamente em toda a Europa, eliminando praticamente todas as demais formas de vida consagrada.
São Bento foi e continua sendo uma bênção e um patrimônio para todos nós cristãos. Que ele nos inspire, na nossa realidade atual, com seus desafios e suas exigências, à uma vida cristã, com equilíbrio, conscientes de que somos chamados, através do trabalho e da contemplação da Palavra de Deus, a encontrar Jesus, nosso Mestre e Senhor. Numa palavra, colocar na nossa mente e no nosso coração o lema de Bento de Núrsia: – “ora et labora”. Assim seja!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso – [email protected]