Laudato si faz a terra vibrar de alegria!
O Papa Francisco, dirigindo-se aos jovens (24/04/2013), disse que acreditar em grandes ideais significa: “Não enterrar os talentos! aqueles que alargam o coração, aqueles ideais de serviço que tornam fecundos os seus talentos. A vida não é dada para que a conservemos para nós mesmos, mas para que a doemos. Queridos jovens tenham uma grande alma! Não tenham medo de sonhar com coisas grandes!”. Permita-me, querido leitor, falar de paz interior e exterior, tão bem compreendida e vivenciada como um ideal do jovem Francisco de Assis, redescoberta no Papa Francisco, a qual foi por ele encarnada, quando humildemente se apresentou ao mundo. Foi a mesma graça salvadora de Deus que se manifestou a todos os homens por ocasião do seu nascimento (cf. Tt 2, 11), na imanência da encarnação que entrou no seu interior, encantando-o e fascinando-o, a ponto de ter que ofertá-la à humanidade, como um dom indizível e inexprimível.
Numa época conturbada como a nossa, certamente mais confusa do que a vivida por Francisco de Assis, as palavras que marcaram a missão do Papa Francisco, a saber: Ecologia humana, cultura do descarte, cultura do encontro, um novo modo de viver, respeitar a criação hoje, entre outras são palavras chaves da sua nova Encíclica Laudato si. Que o nosso sonho seja o mesmo do Sumo Pontífice, no surgimento e florescimento de um fermento de renovação dentro e fora da Igreja; fermento novo no mundo da economia, da política e do social, onde o dinheiro e o lucro não devem se impor como o eixo e a mola central, àquilo de mais nobre e elevado em detrimento do bem maior que é a vida humana, imagem e semelhança de Deus.
Não nos cansamos afirmar, que com a chegada do Papa Francisco, toda terra vibrou e vibra, alegremente contemplada, porque por meio dele os cristãos passaram a se sentir estimulados e fomentados a um grande compromisso de dialogar e cuidar da criação nas suas mais diversas realidades. O mundo precisa carinhosamente de práticas ecológicas e ambientais, nas quais a humanidade possa se tornar cada vez mais viva e coerente com aquilo que professa e em que acredita. Por isso mesmo recordamos vivamente a mensagem do Bispo de Roma no dia Mundial da Paz de 1º de janeiro do ano de 2014, ajudando-nos e propondo-nos uma reflexão, no sentido de se redescobrir a fraternidade na economia como condição sine qua non para se atingir o grande sonho do Pai, manifestado no Menino que nos foi dado, no qual nos deparamos com o mistério da vida em plenitude, tornando-nos filhos de Deus e irmãos uns dos outros.
Francisco de Assis experimentou a Igreja no tempo do Papa Inocêncio III. Tempo de muito poder e de muito fausto. Faziam-se sentir diversos movimentos de renovação a partir da realidade, fundamentalmente, marcada pela pobreza. Infelizmente, tais movimentos queriam conseguir o seu objetivo colocando-se à margem daquele que ao se encarnar, revelou o rosto terníssimo do Pai, na condição de Supremo Pastor e por Ele enviado. É exatamente no contexto semelhante a esse que Deus nos mandou o Papa Francisco que, em sua plenitude, se colocou como Servo dos Servos de Deus, num grande desejo de paz, ao dialogar com as realidades, seja a pessoa humana, seja a realidade do Planeta no seu conjunto. No Cântico das Criaturas, Francisco de Assis se extasiava diante de Deus, o qual, com o coração cheio de ternura, costumava chamá-Lo de Bom Senhor, Altíssimo, Sumo Bem, Único Bem e Todo o Bem. E o que sentia tornava-se oração. Convém ler, meditar e orar, Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum, o generoso presente do Santo Padre, como se fosse o mesmo programa proposto pelo pobrezinho de Assis, que brotou do fundo da alma toda repleta da mais excelsa misericórdia do Senhor, na transcendência do Deus boníssimo, tão bem assimilada nos gestos e nas atitudes do nosso querido Francisco, Vigário de Cristo na terra.
Francisco de Assis viveu em uma época marcada por ambiguidades. Hoje, como no seu tempo ou mais, urge que a fraternidade seja redescoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada. Estejamos certos que só o amor, que é dom de Deus e mistério de fé, nos favorece e permite acolher e viver plenamente a fraternidade. Saibamos compreender que é imprescindível a luta pela paz do mundo, na grandeza divina, envolvida em sua misteriosa pequenez, revelada “naquele que era rico e se fez pobre para nos enriquecer na sua pobreza” (cf. 2Cor 8, 9). Como se torna urgente ter diante dos nossos olhos e no nosso coração a paz duradoura que tem sua origem em Deus, grande, imenso e divino em sua ternura. Na obediência à fé e à bondade de um Deus pobre, que nos diz que só quem tem o coração despojado, assemelhando-se a Ele, totalmente aberto ao seu amor misericordioso, é capaz de compreendê-lo e levar uma vida a partir desta realidade misteriosa, grande sonho e utopia do nosso querido Papa Francisco. Assim seja!
Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – [email protected]