[Artigo] Pastoral Orgânica e Novas Comunidades: Um Caminho De Testemunho

Pastoral Orgânica e Novas Comunidades: Um Caminho De Testemunho

Pe. Abimael Francisco do Nascimento, mSC*Pe_Abimael

 

 Qual caminhos percorremos ?

Nestas linhas que se seguem será tratado o relacionamento entre uma pastoral orgânica e a realidade das novas comunidades. Um passo importante é clarear o que seja uma pastoral orgânica e do mesmo modo, o que sejam novas comunidades. Passados os conceitos, é imperioso contextualizar essa temática na realidade atual da Igreja, sem perder de vista que a Paróquia é onde, privilegiadamente, materializa-se a pastoral de conjunto e onde agem, em sua maioria, as novas comunidades.

 

Pastoral Orgânica,  do que estamos falando?

A ideia de pastoral orgânica encontra seu fundamento bíblico especialmente no apóstolo Paulo, mais especificamente em 1Cor 12. Paulo deveria conhecer o conceito de corpo utilizado pelos estóicos para falar da Polis, do Estado, compreendendo o funcionamento do Estado como um corpo vivo, onde cada membro possui sua distinção, mas todos se interconectam em funções e deveres para o funcionamento do Estado e em vista da felicidade. Paulo atribui essa mesma imagem a comunidade de Corinto. Ele  ao utilizar a imagem do corpo, propõe a Igreja como um organismo vivo, formado por diversos membros distintos entre si, mas necessários para a vida do organismo e para a vida de cada membro, isto é, o organismo (o corpo) não vive sem os membros e nem os membros têm vida sem o corpo (organismo).

Paulo vai mais longe que os estóicos, pois o que nos constituiu como corpo não foi uma lei ou uma evolução do agrupamento social, mas a graça de Deus, que suscita dons e carismas diversos (1Cor 12,28), mas marcados por um mesmo Espírito (1Cor 12,13). Esse mesmo Espírito suscita a diversidade de dons, carismas e ministérios em vista do Reino de Deus, para o crescimento do Reino, assim, quando a Igreja fala de pastoral orgânica ou pastoral de conjunto, está se reportando ao apóstolo Paulo. Desejando, que os diversos dons e carismas de nossos dias não se dispersem, mas trabalhem naquela unidade orgânica que deixa o corpo vivo e conserva útil cada membro.

 

As novas comunidades, sinais dos novos tempos.

Dentro deste organismo nas últimas décadas a Igreja viu nascerem as Novas Comunidades. Normalmente estão ligadas ao pentecostalismo católico, movimento de forte acento pentecostal. São agrupamentos laicais entorno do carisma de um fundador e com uma missão especifica, à luz desse carisma. São agrupamentos marcados por uma nova linguagem, que chega especialmente aos jovens e recoloca no cotidiano o desafio da identidade de fé. As Novas Comunidades atuam em diversas realidades: comunicação, atendimento assistencial aos empobrecidos, grupos de oração, eventos de massa…e, na realidade cotidiana, estão dentro de uma Diocese. O que requer ter atenção ao Plano de Pastoral diocesano.

O Documento de Estudo 107 da CNBB no seu número 50 fala da “condição eclesial” como “dom e tarefa de todos os cristãos”, isto quer dizer que na formação de qualquer agrupamento de fiéis deve estar presente essa consciência da condição eclesial. Essa condição eclesial é exatamente a realidade de corpo, de organismo, ou seja, para cumprir a sua finalidade como membro, em vista do Reino de Deus, qualquer agrupamento laical se dará sob esta condição eclesial, que é um dom e uma tarefa.

A condição eclesial consiste na consciência de que a Igreja existe anterior ao agrupamento e por tal, o carisma suscitado, o foi por Deus em vista da comunidade de fiéis, reunida na Igreja; de modo que a missão das novas comunidades estará inserida dentro do programa da comunidade eclesial, sejam a Igreja particular, a Diocese ou a célula eclesial da Diocese, as Paróquias.

 

Novas Comunidades e as Paróquias, um caminho de comunhão.

Alguém pode correr o risco de pensar que seja melhor estar em uma nova comunidade que em uma Paróquia, no entanto, diz o magistério da Igreja, em Christifideles Laici, sobre a vocação e missão dos Leigos na Igreja e no Mundo, em seu número 26: “a comunhão eclesial, embora possua sempre uma dimensão universal, encontra a sua expressão mais imediata e visível na paróquia: esta é a única localização da Igreja[…]embora, por vezes dispersa em territórios vastíssimos ou quase desaparecida no meio de bairros modernos populosos e caóticos, a paróquia não é principalmente uma estrutura, um território, um edifício, mas é sobretudo ‘a família de Deus, como uma fraternidade animada pelo espírito de unidade’ […]. Em definitivo, a paróquia está fundada sobre uma realidade teológica.”

Na Paróquia é onde a Igreja tem sua organicidade mais visível e mais ao alcance dos fiéis, seja por meio da fidelidade ao Ano Litúrgico, seja por meio de sua comunhão com o Plano de Pastoral Diocesano; essas realidades a configuram como “a localização da Igreja”. No Documento de Aparecida, em meio às inquietações e debates acerca da renovação da Paróquia, os bispos expressaram que a Paróquia “é o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial” (DAp 170). O Documento 100 da CNBB não quer outra coisa se não propor a renovação paroquial, para que ela guarde a fidelidade à sua missão: ser célula viva da Igreja.

As novas comunidades, como sujeitos eclesiais, dentro do conjunto da Igreja, entram na Pastoral Orgânica inseridas em uma Diocese e normalmente com a presença em uma Paróquia. Dentro da proposta de renovação paroquial, as novas comunidades podem enriquecer os planos de pastorais com sua transterritorialidade, com a missionariedade e com o carisma que lhe é próprio, mas sempre sem perder de vista a “condição eclesial [como] dom e tarefa”(DE 107, n. 50). O Documento 100 da CNBB no número 233 diz: “o grande desafio, contudo, consiste na vivência da comunhão e na pastoral de conjunto da diocese e das comunidades”; “a tarefa, portanto, consiste em encontrar caminhos de diálogo, renúncias e opções que possibilitem a comunhão.” (Documento 100, n. 234).

 

À guisa de  conclusão…

Portanto, a imagem de corpo utilizada por Paulo se faz base de interpretação bíblica da diversidade que hoje vivemos e propõe a unidade que guarda o nosso testemunho como comunidade de fé. A pastoral orgânica ou de conjunto é um elemento eclesial que sustenta a comunhão, testemunhando a unidade da Igreja em todas as suas expressões. Aqui entram as novas comunidades, que numa comunhão eclesial palpável, pela vivência do Plano de Pastoral, guarda a unidade e faz-se membro vigoroso do corpo místico de Cristo que é a Igreja.

 

 * Pe. Abimael Francisco do Nascimento, mSC é Administrador Paroquial na Paróquia  Nossa Senhora  do Sagrado Coração, Fortaleza-CE. Mestre em Teologia Sistemática pela PUC-SP((blog: www.teos14.facilblog.com)

 

Respostas de 8

  1. Com certeza. Principalmente se houver um planejamento paroquial. Caso não haja, não existe a menor possibilidade de os documentos da CNBB passarem de proposta.

  2. Acredito que a unidade(Uniformidade, conformidade, identidade) paroquial é o que fortalece uma comunidade no qual está inserida, mas não podemos deixar de observar a importância das novas comunidades no contexto paroquial, devemos ter como foco na vida cristã, o serviço pastoral em luta por uma comunidade paroquial, lutando por uma ilha cristã que é a igreja como paroquia dentro de uma comunidade carente.

  3. Acredito que a unidade(Uniformidade, conformidade, identidade) paroquial é o que fortalece uma comunidade no qual está inserida, mas não podemos deixar de observar a importância das novas comunidades no contexto paroquial, devemos ter como foco na vida cristã, o serviço pastoral em luta por uma comunidade paroquial, lutando por uma ilha cristã que é a igreja como paroquia dentro de uma comunidade carente.

  4. Não podemos deixar de lado a relação das comunidades nas paroquias, já uma realidade.

    Mas o SERVIÇO pastoral é ainda o pilar central nas comunidades carentes, onde a paroquia se torna uma ilha cristã em comunidades e na sociedade carente de uma vida fraterna e cristã.

  5. Não podemos deixar de lado a relação das comunidades nas paroquias, já é uma realidade.

    Mas o serviço pastoral ainda é o pilar central de uma comunidade carente, onde a paroquia torna-se uma ilha cristã na sociedade aonde esta inserida.

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