Cardeal Raymundo Damasceno Assis*
A Campanha da Fraternidade deste ano realiza-se no momento em que o povo, em geral, experimenta grande mal estar diante da crise ética e moral por que passam certos setores do nosso país.
Oportunamente, a Campanha da Fraternidade da Igreja neste ano tem como objetivo aprofundar o diálogo e a colaboração entre Igreja e Sociedade. Aliás, a Igreja católica sempre esteve presente, desde o começo, na vida e na história da sociedade brasileira e deseja continuar contribuindo, respeitando a laicidade do Estado e a autonomia das realidades terrestres, com a dignificação do ser humano. Para tanto, ela se propõe a trabalhar junto com os demais cidadãos e instituições para o bem comum de todos os brasileiros.
No Documento da V Conferência do Episcopado da América Latina e Caribe, os bispos insistem em dizer que “a Igreja não se identifica com os políticos, nem com interesses de partidos. Sua missão neste setor, é ensinar critérios e valores irrevogáveis, orientar as consciências, educar nas virtudes individuais e políticas, ser advogada da justiça e da verdade.”
Especificamente, são os cristãos leigos a presença da Igreja no coração do mundo e devem assumir sua responsabilidade na vida pública, contribuindo, à luz do evangelho e do ensino social da Igreja, com a construção de uma sociedade humana e solidária, opondo-se a toda forma de injustiça.
Quanto à corrupção, que nesse momento nos assusta de modo tão acintoso, é uma forma de injustiça contra o povo, sobretudo, os mais pobres. Os recursos públicos mal administrados ou usados em proveito pessoal ou de grupos, impedem o desenvolvimento do país e comprometem os investimentos nas áreas da saúde, educação, segurança, trabalho, habitação, infraestrutura. Enfim, em projetos destinados a melhorar as condições de vida de todos, em particular, dos mais pobres.
A corrupção, escreveu o Cardeal Carlo Maria Martini, sempre existiu e existe em toda parte, pois é fruto da história pecaminosa da sociedade que se reflete em âmbito pessoal e social. Quando, porém, não é combatida com firmeza e severidade pelas instituições competentes, a corrupção prospera e provoca desconfiança nas instituições e naqueles que ocupam cargos públicos e, ainda, pior, pode produzir uma espécie de fatalismo e de resignação que leva a população a aceitar a corrupção como se ela fosse normal e contra a qual não se pode fazer nada. Essa atitude de conformismo contribui, também, por desmerecer o trabalho e o testemunho de tantas pessoas de bem.
Não basta diante de tal despudor lamentar! É necessário e urgente reagir e enfrentar, pela ação conjunta das forças da sociedade, a saber, Executivo, Judiciário, Legislativo, Polícia, Instituições e cada cidadão contra esta chaga. Sem esse esforço conjunto a corrupção não será controlada.
*Arcebispo de Aparecida (SP) e Presidente da CNBB