Começo esta abordagem com uma feliz e profunda afirmação do documento de Aparecida sobre o assunto em tela, quando afirma: “Temos alta porcentagem de católicos sem a consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com identidade cristã fraca e vulnerável… isto constitui grande desafio que questiona a fundo a maneira como estamos educando na fé e como estamos alimentando a experiência cristã; desafio que deveremos encarar com decisão, coragem e criatividade, visto que em muitas partes a iniciação cristã tem sido pobre ou fragmentada. Ou educamos na fé colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (DAp nn. 286-287).
É uma afirmação que deveria ser levada a sério por nós padres, especialmente os que exercem o ministério nas paróquias, áreas pastorais, e também aos inúmeros e dedicados catequistas que temos das mais variadas idades.
Que fique claro que, anterior a esta afirmação, existe toda uma avaliação do processo catequético que tem suas raízes a partir do início do período conhecido por cristandade (por volta de 313) e que se prolongou até antes do Concílio Vaticano II; anteriormente o processo de iniciação à vida cristã se dava através de um prolongado período conhecido como Catecumenato cuja preparação era extremamente exigente, prioritariamente para adultos e o objetivo de fato era torná-los discípulos, seguidores de Cristo. Existia uma preparação sistemática, gradual e progressiva dos sacramentos da Iniciação à vida Cristã (Batismo, Eucaristia e Crisma).
Este processo fez parte da experiência dos primeiros séculos da Igreja e por volta do século VI quase não existia mais. Foi substituído pelo modelo que basicamente perdura até hoje, destinado quase que exclusivamente para crianças, cujo objetivo maior é preparar imediatamente para a recepção dos sacramentos do batismo, Eucaristia e Crisma.
Já no Concílio Vaticano II, os padres conciliares, percebendo que o modelo atual que prepara para receber os sacramentos e não para uma vivência cristã, estava defasado, propuseram em três documentos aquilo que se chamou de restauração do catecumenato: Doc. Sacrosanctum Concilium sobre a liturgia – nn. 64 e 65; Ad Gentes sobre a Atividade missionária da Igreja, n. 14 e Christus Dominus sobre o Múnus pastoral dos Bispos na Igreja, n. 14. Depois destas referências, há toda uma série de documentos que vão indicar a superação do atual modelo catequese pela Iniciação à vida cristã com inspiração catecumenal.
Em que consiste, portanto, a nova proposta de Iniciação à Vida Cristã com inspiração catecumenal? a) que ela seja permanente e não apenas ocasional; b) sua característica principal é ser querigmática, ou seja, concentre-se no essencial da mensagem de Jesus e mistagógica, que insira o catequizando no mistério de Cristo e na vida eclesial (cf. A Alegria do Evangelho, nn. 163-175 e DNC 14f). Na perspectiva do primeiro anúncio deve-se dirigir aos não crentes e àqueles que, de fato, vivem na indiferença religiosa (DCG, 61); c) que seja uma catequese que não se limite a preparar para os sacramentos, mas tenha como objetivo o discipulado, viver a proposta de JC; d) pressupõe comunidades que eduquem para o sentido de pertença Igreja; e) que seja contextualizada; e) que se dirija prioritariamente aos adultos; f) que seja fundamentada na Palavra de Deus; g) que faça a relação entre anúncio do mistério, ação celebrativa e vida.
Que a Catequese Evangelizadora, sendo permanente, cumpra a sua finalidade de aprofundar de forma sistemática o primeiro anúncio. Boa sorte ao ter a ousadia de assumir este processo.
Almir Magalhães é Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Diretor Geral e Professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
Artigo publicado no Jornal do Povo em https://www.opovo.com.br/app/opovo/espiritualidade/2014/11/22/noticiasjornalespiritualidade,3351840/catequese-evangelizadora.shtml