Padre Geovane Saraiva*
Dom Roque Paloschi, nos seus 10 anos de ministério episcopal, em uma vida de doação, generosidade e entrega a Deus e aos irmãos da Floresta Amazônica (Diocese de Roraima), foi nomeado Arcebispo de Porto Velho. Pelo que sabemos de seu pastoreio, além de alegre e cativante no despertar dos mais próximos, clero, religiosos, religiosas e povo de Roraima, sem esquecer os que estão longe e distantes, a Igreja do Brasil e do mundo, olham e se encantam com essa figura planetária, exemplar e referencial. Sua mente lúcida e fértil jamais parou, no incessantemente amor a Deus, traduzido na luta em favor de uma Igreja missionária, servidora, despojada, atualizada e atenta aos sinais dos tempos.
Como alhures já disse: “Na Igreja, o bispo é o primeiro a ser chamado, no sentido hierárquico. Ele deve ser um irmão entre os irmãos na busca da justiça, da paz e da solidariedade; deve ser também homem de todos, para não ser de ninguém”. Como também o padre participa do ministério do bispo, não deve ser ministro de um grupo ou mesmo de movimentos apostólicos, sejam eles quais forem, para ser de todos. É muito importante o convencimento de que a única maneira de não ser de ninguém é ser de todos, lição e presente do novo Arcebispo de Porto Velho.
É tão maravilhoso sentir a graça de experimentar constantemente a presença de Nosso Senhor Jesus Cristo! Aqueles que foram constituídos apóstolos pelo Mestre Divino, e depois enviados em missão, voltaram e reuniram-se com Jesus para contar tudo quanto haviam realizado e ensinado, resultado fecundo da força do anúncio do Evangelho (cf. Mc 6, 30-31). Dom Roque Paloschi, bispo ardoroso, com aquele mesmo desejo de ser de todos, para não ser de ninguém, propôs um grande desafio, por ocasião da Copa Mundo da FIFA de 2014, que jamais esquecerei, quando convocou os irmãos de boa vontade e seguidores de Jesus de Nazaré, dizendo: “Eu vou jogar no time de Jesus; eu vou fazer o gol da união; no nosso time não tem reserva; com Jesus eu sou titular. Somos convocados por Jesus a disputar a copa da justiça, da paz e da fraternidade”.
Dom Roque marcou belos gols, quando denunciou a mineração e as hidrelétricas em terras indígenas, afirmando com maestria: “Os povos amazônicos são portadores de uma enorme contribuição para a vida e o nosso futuro. Sua profunda espiritualidade, sua relação com a mãe terra, com as florestas, os rios e todas as formas de vida com quem convive, seu impressionante acervo de conhecimentos apontam para caminhos diferentes e humanizadores para todos nós”, sem esquecer o bispo, defensor do pulmão verde do mundo, ao encontrar uma âncora no Vigário de Cristo, aos 27/07/2013: “A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão, para partir depois de terem explorado tudo o que puderam”. E aqui recordo Padre Antônio Vieira, ao asseverar: “Eles (as autoridades) chegam pobres às Índias ricas e voltam ricos das Índias pobres”.
A notícia alvissareira da nomeação de arcebispo a Dom Roque Paloschi, colega dos bons tempos de teologia, na PUC de Porto Alegre, chegou concomitante com o seguinte comentário da Rádio do Vaticano: “O arcebispo de Porto Velho é um paladino na defesa dos direitos dos camponeses e dos povos indígenas contra a agressão das empresas extrativistas que exploram os recursos naturais da Amazônia”. Gols, muito superior aos nossos craques, no vasto currículo do referido bispo amigo, no trinômio, generosidade, renúncia e doação: membro da Rede Eclesial Pan-Amazônia, (REPAM), fruto de uma iniciativa da Comissão Episcopal da Amazônia, do Departamento de Justiça Social do Conselho Episcopal Latino-Americano {CELAM), da Conferência dos Religiosos da América e do Caribe e da Cáritas, com o apoio de organismos internacionais, do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz do Vaticano e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, (CNBB). Sem esquecer que Dom Roque Paloschi presidirá o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em momento de enormes violências contra os direitos indígenas em todo o País, eleito durante sua 21ª Assembleia Geral (15 a 18 de setembro de 2015) em Luziânia-Goiás.
Uma das características fortes em Dom Roque Paloschi, nos incontáveis gols marcados, centra-se no seu ministério episcopal terno, alegre e generoso, voltado para o clero, religiosos, religiosas e o rebanho que lhe foi confiado, ensinando a muitos pastores da nossa Igreja, muitas vezes autoritários, grosseiros e, mesmo tirando vantagens das benesses governamentais, sem esquecer a falta de transparências de muitos (cf. Livro: Voz dos que não têm voz, p. 23). Certamente o bispo dos muitos gols se inspirou no Servo de Deus e Dom Paz, Dom Helder Câmara, o qual, em 1948, como padre novo no Rio de Janeiro, se expressou de modo profundamente poético quanto profético: “Se eu pudesse sairia povoando de sono e de sonhos as noites mal dormidas dos desesperados”. Por tudo, Deus seja louvado!
*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE –[email protected]