Dia 16 de outubro é a Festa de São Geraldo Magella, redentorista. Reconstruir a espiritualidade deste santo redentorista não é nada fácil. A documentação histórica sobre ele não é ampla. Os biógrafos não se preocupam com a reconstrução crítica de sua espiritualidade. Falta rigor científico nos documentos que investigaram sua vida. O próprio Geraldo não deixou muitas coisas escritas: algumas cartas e um regulamento de vida. Não escreveu sua autobiografia. Não tinha cultura para isto. Não nos revela como faz Santa Tereza, os segredos íntimos de sua trajetória rumo a Deus. Neste brevíssimo artigo minha intenção é propor uma releitura dos traços que mais especificam a vida espiritual de Geraldo.
Possivelmente o traço mais importante de sua espiritualidade é sua íntima comunhão com Deus. Como o fundador dos redentoristas, Santo Afonso Maria de Ligório, Geraldo enfatizou freqüentemente em sua vida a importância de conformidade com a vontade de Deus. É seu maior desejo: estar sempre unido à vontade de Deus. No Regulamento Geraldo é explícito sobre este núcleo de sua espiritualidade. Ele escreveu: “Meu querido Deus, único amor meu, hoje e para sempre me entrego à vossa divina vontade. Aceitarei tudo no íntimo do meu coração e, levantando os olhos até os céus, adorarei vossas mãos divinas que deixam cair sobre mim pérolas preciosas do vosso divino querer”. Apesar da linguagem da época, podemos perceber facilmente a profundidade e a espontaneidade de sua comunhão com Deus. Além de freqüentes visitas diariamente ao Santíssimo Sacramento na capela de sua comunidade, Geraldo viu a imagem e semelhança de Deus nos rostos das pessoas com quem trabalhou especialmente nos rostos dos pobres e abandonados, e procurou aliviar seus sofrimentos, querem físicos querem espirituais. Geraldo foi portador de uma mensagem espiritual capaz de sustentar e estimular a fidelidade ao Evangelho num testemunho de caridade atenta às necessidades dos mais abandonados e necessitados. Basta ler suas poucas cartas para ver a profundidade de sua comunhão com Deus. Nunca aparece voltado para si mesmo, mesmo nos momentos mais duros, de dificuldade e incompreensão. Porém esta comunhão contínua e amorosa com Deus não o divorciou da realidade, continuou atendendo as necessidades de seus confrades na comunidade e dos pobres que apareceram na porta do convento a todo o momento. A sua espiritualidade nos revela que, para ele, Deus não era uma ideia ou um princípio abstrato, mas presença de amor que se dá ao homem como possibilidade de plenitude e de autenticidade.
O amor ao próximo era outro sustentáculo de sua espiritualidade. Geraldo fez uma “opção preferencial pelos pobres” mais de duzentos anos antes da Conferência Geral de Medellín apresenta esta proposta. Geraldo não conseguiu separar o amor a Deus e o amor aos irmãos. Ele é um só e inseparável amor, radicado no dom do Espírito. Quando nós compreendemos a intensidade da comunhão de Geraldo com Deus, não nos maravilhamos da profundidade de seu relacionamento com o próximo. Sua comunidade religiosa era pobre, mas apesar disso, conseguiu oferecer aos muitos pobres que apareceram diariamente na porta do convento um pouco para comer. Não sentiu vergonha de pedir a quem pudesse dar uma ajuda para oferecer aos pobres. Geraldo escutava muito e falava pouco quando atendendo os pobres, sempre os mandando embora com uma palavra de ânimo e coragem. Durante sua vida, pelos trabalhos que realizou pelos pobres e por suas palavras, emerge um homem fora do comum. A espiritualidade de Geraldo inclui todos os temas espirituais importantes. Os confrades dizem que Geraldo tinha sempre a mente elevada em Deus, em cuja contemplação se imergia tanto que, como profundo teólogo, falava dos mais altos mistérios da nossa fé, com particularidade da Santíssima Trindade e da encarnação do Verbo. É interessante ouvir o testemunho da Irmã Maria Raquel: “Irmão Geraldo, mesmo não tendo estudado e sendo um simples leigo, falava com tanta profundidade e sublimidade dos mistérios de nossa santa religião como se fosse um grande teólogo e tivesse estudado muitíssimos anos tais matérias”.
A espiritualidade de Geraldo, como toda a espiritualidade cristã autêntica, estava centrada na Eucaristia. Passava horas inteiras na igreja em profunda oração diante do santíssimo sacramento. Grande ainda era seu empenho em que Jesus Sacramentado fosse visitado pelos outros. Diante do tabernáculo, a intensidade do diálogo com seu Redentor era incomparável. Para ele na Eucaristia se celebra a totalidade do amor de Deus. Tudo se sintetiza nela: a vinda de Cristo ao mundo – sua Encarnação, pois ela é presença de Jesus; a morte do Senhor na cruz, a Redenção, pois ela é seu Sacrifício; a Ressurreição gloriosa e o eterno convívio de Jesus com os homens, pois ela é comunhão. A comunhão para Geraldo é estar unida a Cristo e aos irmãos e compartilhar com eles nossa vida e nossos próprios bens.
Sempre teve uma profunda devoção à Virgem Maria, Mãe de Jesus; logo, Mãe de Deus encarnado. Ele meditava freqüentemente sobre o fato que ela foi escolhida por Deus, desde toda a eternidade, para ser a mãe de seu Filho feito homem. Geraldo afirmou que negar que Maria seja Mãe de Deus é o mesmo que negar que Jesus seja Deus. Geraldo venerava, louvava Maria, sabendo que assim ele estava prestando um culto de glória e louvor a Seu Filho que é Deus. Os redentoristas têm o rosário nos cintos de seus hábitos, e Geraldo rezava o terço vários vezes por dia. Andando na rua segurava o terço contemplando as glórias de Maria.
São Geraldo é parte do patrimônio espiritual dos redentoristas. Jesus disse: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Geraldo nos seus poucos anos de vida redentorista testemunhou-nos que é possível viver em plenitude a vida, porque Deus é a presença que plenifica, faz viver e dá significado e sentido a toda a existência. Geraldo morreu tuberculoso aos 29 anos de idade, em Caposele (Nápoles) na Itália. Foi canonizado em 1904. Posteriormente declarado Padroeiro dos irmãos coajutores.
Pe. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista