[Artigos] Nossa sede de felicidade

Por Padre Geovane Saraiva*

geovane200Há cinco séculos nascia Teresa D’Ávila (15/10/1515), mulher que encontrou, em Deus, seu único e maior tesouro, que a fez santa e sábia. Agradecidos pelo dom indizível da vida dessa mulher, por excelência descomunal e atemporal, saibamos suplicar do alto os dons indispensáveis em uma íntima reflexão sobre o absoluto de Deus, no sentido de descobrir o mesmo tesouro por ela encontrado. Na exortação do 28º Domingo Comum, que precede sempre a oração do Angelus (11/10/2015), o Santo Padre, no seu dever de interpretar autenticamente o Evangelho (Mc 10, 17-30), na condição de Sumo Pontífice, falou de algo incalculável e indescritível, do desapego às falsas riquezas, como condição sine qua non, para que os cristãos entrem na lógica da verdadeira vida e descubram seu maior tesouro, asseverando: “Que Nossa Senhora nos ajude a abrir o nosso coração ao amor de Jesus; somente ele pode satisfazer nossa sede de felicidade. E eu pergunto a vocês, jovens, meninos e meninas, que estão agora na praça: vocês sentiram o olhar de Jesus sobre vocês? O que vocês responderão a Ele? Preferem deixar esta praça com a alegria que Jesus nos dá ou com a tristeza no coração que o mundo nos oferece?”.

Temos consciência de que todo ser humano, por decisão de Deus, chega a este mundo com uma vocação primeira e fundamental, que é da sua própria existência. Vocação para ser gente, para ser criatura humana. Por isso mesmo é que é muito importante pensar naquilo que nos é proposto durante a trajetória de nossa vida. Cícero, o maior orador romano, ao tratar sobre a idade da vetustez, que significa mais do que velhice ou idade avançada, quer dizer reverência e respeitabilidade, afirmou: “Vivi de tal forma que sinto não ter nascido em vão”. À medida que o ser humano entende que é necessário percorrer com muita disposição o seu percurso natural, interiormente, cresce e se realiza, encontrando-se consigo mesmo e integrando-se na comunidade, na qual está inserido, oferecendo generosamente sua contribuição através da missão, que é servir e testemunhar, de acordo com a Boa-Nova: “Quem quiser ser o primeiro seja o servo de todos” (Mc 16, 44).

Não nascer em vão, à medida que haja um esforço de se vivenciar os três olhares de Jesus de Nazaré no Evangelho acima mencionado, na reflexão do Papa Francisco, vemos que Jesus se volta para o jovem com um olhar de ternura e afeto, fazendo-lhe uma proposta concreta: dar todos os bens aos pobres e depois segui-lo. Aquele senhor tem o coração dividido entre Deus e o dinheiro, e vai embora triste. Isso demonstra uma incompatibilidade entre a fé e o apego às riquezas. O Santo Padre se refere ao segundo olhar de Jesus como um olhar de advertência, ao se expressar: “Como será difícil para os que têm riquezas entrar no Reino dos Céus”. Agora, diante da admiração dos discípulos, Jesus dedica-lhes um olhar de encorajamento, dizendo que a salvação é “impossível aos homens, mas não a Deus”. A privação dos bens dá-nos em troca o verdadeiro bem – enfatizou o Romano Pontífice, na afirmação de que “há mais alegria em dar do que em receber” (At 20, 35). Se confiamos no Senhor, podemos superar todos os obstáculos que nos impedem de segui-lo no caminho da fé.

Francisco disse que o jovem não se deixou conquistar pelo olhar de amor de Jesus e, assim, tornou impossível uma mudança. Somente acolhendo com humilde gratidão o amor do Senhor, ficamos livres das seduções dos ídolos e da cegueira das nossas ilusões. O dinheiro, o prazer e o sucesso deslumbram, mas depois desiludem; prometem vida, mas trazem morte. O Senhor nos pede para nos desapegarmos dessas falsas riquezas, para entrarmos na vida verdadeira, na vida plena, autêntica, iluminada. Como é maravilhoso aprender, no final do Ano Jubilar dos 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus, dentro de um conjunto de iniciativas de âmbito espiritual e cultural, com exposições, cursos e peregrinações, indicando-nos um bem e tesouro maior: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque O veremos como ele é” (1 Jo 3, 2).

*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – [email protected]

 

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