“Quando as palavras somem, quando os cuidados adormecem, quando nos entregamos, de verdade, nas mãos do Senhor, o grande silêncio nos mergulha na paz, na confiança, na alegria… E a voz de Deus se faz ouvir” (Helder Câmara). A intimidade do místico Dom Helder Câmara com Deus nos revela um caráter missionário da Igreja Católica, como o papa Francisco tão bem recordou (em 17 de setembro de 2014), nestes termos: “Somos mandados a anunciar Cristo e seu amor a toda a humanidade”, disse, recordando a vida heroica de tantos missionários e missionárias que deixaram seu país para ir anunciar o Evangelho em outros países e continentes. Deus que fez tudo por amor e também cuida da sua obra, é Ele quem envia os missionários como seus colaboradores, no imperativo “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (cf. Mc 16,15).
O clamor missionário da Igreja penetrou no coração do mundo no decorrer dos séculos em toda sua plenitude, em especial, na figura exemplar do apóstolo Paulo, com todo seu ardor e compromisso, através do anúncio do Evangelho, muito claro na seguinte afirmação: “Ai de mim, se eu não evangelizar!” (cf. Cor 9, 16). Chamado e convocado pelo Senhor ressuscitado, a caminho de Damasco, para a missão de ser mestre dos gentios ou doutor dos pagãos, Paulo, uma vez recuperado, compreendeu o preço de ser seduzido por Nosso Senhor Jesus Cristo, como tão bem diz São Pedro: “Foste resgatado não das coisas corruptíveis, ouro ou prata, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e sem defeito algum” (cf. 1Pe 1, 18).
Tendo Paulo como exemplo e referência de vida, somos convidados pelo mesmo Deus que entrou em cheio na vida do mestre das nações a construir e edificar o reino, mesmo com os nossos pecados. As fontes nas quais devemos buscar forças para fecundar nossa vida são a Palavra de Deus e a Eucaristia. E por falar em Eucaristia, é nosso dever saber sempre mais, que a mesma está em união, em um mistério indizível, com Cristo Deus e Homem e quão enorme deve ser nosso amor, respeito e devoção com Esse sacramento; sem esquecer jamais que “quem comer deste pão viverá eternamente e ressuscitará gloriosamente no último dia” (cf. Jo 6, 54).
O papa Francisco, nas suas celebrações eucarísticas matinais, como ajuda a humanidade a entrar em um clima de fé e esperança sempre maior, só para ser mais concreto, em 06 de agosto de 2014, expressou-se assim: “Na Eucaristia, comunica-se o amor do Senhor por nós: um amor tão grandioso que nos nutre com Ele mesmo; um Amor gratuito, sempre à disposição de cada pessoa faminta e necessitada de regenerar as próprias forças. Viver a experiência da fé significa deixar-se alimentar pelo Senhor e construir a própria existência não sobre os bens materiais, mas sobre a realidade que não perece; os dons de Deus, a sua Palavra e o seu Corpo”.
Como aprender da Eucaristia, sacramento divino? Temos o dogma da transubstanciação, no qual se fundamenta todo o edifício eucarístico, como sacrifício do Cordeiro de Deus, também como sacramento. É importante que fique sempre claro que a substância do pão no corpo de Jesus e do vinho no mesmo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo permanecem inalteradas nas espécies do pão e do vinho. Ora, devemos de modo sobrenatural, transformar-nos em Cristo como o pão se transforma no corpo de Cristo e o vinho no Seu sangue.
É com enorme sabedoria que o Cardeal Aloísio Lorscheider explica o mistério da transubstanciação: “Essa transformação deve, sobretudo, ser interna, uma vez que as espécies se conservam inalteradas. É o íntimo que deve tornar-se outro”. O Deus que nos ama de modo incondicional, e que demonstrou esse imenso amor para conosco, ao enviar o seu Filho Unigênito, encarnado no seio da boa mãe Maria, quer nosso reconhecimento alegre e agradecido, pelo dom da palavra de Deus e da Eucaristia, que sejam traduzidos em gestos concretos de fraternidade e solidariedade.
Somos chamados a dar graças ao Deus altíssimo, terníssimo e boníssimo, ao favorecer-nos na maravilhosa obra da criação e mais ainda na redenção. Que nossa fervorosa oração de súplica e louvor, na excelsa e divina festa da Eucaristia – Corpus Christi, suba ao céu na intenção do ‘Servo de Deus, Dom Helder Câmara’, no seu acendrado amor à Eucaristia, desejosos de vê-lo beatificado e canonizado, o qual iniciou sua vida de padre em estreita comunhão com Jesus eucarístico, no exemplo do seu santinho da ordenação sacerdotal (15/08/1931) através do qual assim se manifestou: “Angelorum esca nutrivisti populum tuum” – teu povo se alimenta do pão do céu.
Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – [email protected]