Desde a Conferência de Aparecida e seu respectivo documento, com os consequentes registros em documentos da CNBB e reflexões teológico-pastorais se fala em conversão pastoral.
O Papa Francisco na Exortação Evangelii Gaudium falando nos âmbitos da Nova Evangelização (n. 14) aborda a pastoral ordinária, ou seja, aquela pastoral do dia a dia, o cuidado com os fiéis, especialmente aqueles que frequentam regularmente a comunidade e as formas mais comuns de atividades como a catequese sacramental e outras.
Este aspecto merece uma séria revisão de nossa parte, mormente dos Párocos e responsáveis pelas Áreas Pastorais. E aqui me vem a pergunta: Estas pessoas estão sendo de fato evangelizadas? Normalmente em nosso ministério giramos em função daqueles que nos rodeiam sem o horizonte do caráter missionário da Igreja, o olhar missionário para aqueles que não estão com a gente.
Neste sentido e contemplando o título desta contribuição, utilizo mais uma vez as reflexões do Papa Francisco no mesmo documento quando enfatiza no n. 49: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida… E continua: “Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transforma em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: “Vós mesmos, dai-lhes de comer” (Mc. 6,37).” O Papa, no contexto da Exortação, faz uma abordagem a respeito da Transformação Missionária da Igreja (Cap. I), onde se situam os números aqui citados e cujo horizonte é a evangelização do mundo, dos espaços geográficos urbanos e rurais onde nos situamos, ao invés da autopreservação.
O Papa, no contexto da Exortação, faz uma abordagem a respeito da Transformação Missionária da Igreja (Cap. I), onde se situam os números aqui citados e cujo horizonte é a evangelização do mundo, dos espaços geográficos urbanos e rurais onde nos situamos, ao invés da autopreservação.
Outra forma de revisão na pastoral ordinária e agora na linha da missão entendida como relações e proximidade e a constatação do individualismo da sociedade atual, o Papa lembra a dignidade de cada pessoa que deve ser “objeto” de nossa dedicação e isto não pelo aspecto físico, capacidades, linguagem, mentalidade ou pelas satisfações que nos pode dar, mas porque é obra de Deus, criatura sua. “Independente da aparência, cada um é imensamente sagrado e merece o nosso afeto e a nossa dedicação. Por isso, se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isto já justifica o dom da minha vida” (o destaque em negrito é meu). (cf. n. 274 – Alegria do Evangelho). Observe-se que o Papa não acena para a forma desta dedicação, se por ações caritativas ou pela cidadania.
Estamos no período da Quaresma. Como seria interessante e em consonância com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano (Fraternidade: Igreja e Sociedade e cujo lema é – Eu vim pra servir – apontando para uma nota da eclesiologia do Vaticano II – uma Igreja servidora), se esse período iluminasse uma revisão, também, das nossas práticas pastorais e evangelizadoras, na esteira das reflexões do Papa.
Almir Magalhães [Padre da Arquidiocese de Fortaleza, diretor geral e professor da Faculdade Católica de Fortaleza]
Artigo publicado no Jornal O Povo em 29/03/2015.
Uma resposta
Muito oportuna Padre sua reflexão. É preciso ir ao encontro, é urgente. Há muitas vozes a serem ouvidas.