Athletica Vaticana, pela primeira vez no Campeonato Mundial de Ciclismo

O profissional holandês Rien Schuurhuis representará as cores do Ciclismo do Vaticano no Campeonato Mundial de Ciclismo marcado para 25 de setembro na Austrália. Os ciclistas do Vaticano, com o núncio apostólico e a Caritas, encontrarão os First Australians na esteira da viagem do Papa ao Canadá. No jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, o profissional das duas rodas conta como chegou a este desafio.

De Rien Schuurhuis

Desde que cheguei a Roma, em 2020, fui imediatamente atraído pelos valores e espírito comunitário da Athletica Vaticana. A atenção do Papa Francisco pelo esporte como veículo de encontro está em profunda sintonia com a minha experiência de vida. A linguagem do esporte é realmente universal. No espírito da encíclica do Papa Francisco, Fratelli tutti. Representar a Athletica Vaticana em 25 de setembro, na Austrália, na estreia no Campeonato Mundial de Estrada da União Ciclística Internacional (que em 24 de setembro de 2021 reconheceu a associação poliesportiva vaticana como membro oficial) é uma honra incrível para mim. Houve um bonito trabalho em equipe para chegar a este ponto e não vejo a hora de levar esse espírito de equipe para a corrida.

O esporte tem o poder de impelir cada um de nós a dar o melhor de si, abraçando a generosidade, o sacrifício e a humildade. Nós da Athletica Vaticana estamos prontos para levar esses valores para o Campeonato Mundial e incentivar todos os atletas a serem “embaixadores” do esporte como veículo de inclusão, fraternidade e paz: estas são as palavras que o Papa proferiu no início de julho a Athletica Vaticana para os Jogos Mediterrâneos na Argélia.

Rien Schuurhuis pelas estradas de Roma

Rien Schuurhuis pelas estradas de Roma

Vamos ver como será a corrida mundial. Eu sempre tive uma queda pelos desfavorecidos: eu gostaria de ver ganhar um atleta de uma das nações emergentes do ciclismo. O eritreu Biniam Girmay, por exemplo, mostrou estar à altura. O percurso de Wollongong combina comigo: amo as subidas, mas tenho o físico para pedalar nas planícies. Gosto de correr e colaborar com ciclistas de outras equipes para chegar à linha de chegada. É realmente uma experiência extraordinária que o ciclismo lhe dá.

Para a Copa do Mundo eu me treinei bem. Com minha família moro no centro histórico de Roma e, toda vez, meu treinamento começa com um aquecimento numa das ruas mais movimentadas: o Lungotevere. Devo admitir que é um dos traços mais divertidos do meu treinamento, também para os reflexos a serem colocados no campo no meio do trânsito. Então, fora de Roma, pedalo ao redor do Lago de Bracciano e do Lago de Albano. Também acompanho regularmente meus dois filhos para um passeio de bicicleta nas ruas de paralelepípedos do centro. Entre pedestres, carros e motos. É uma ótima maneira de ensiná-los a conscientização do espaço e a gestão da bicicleta.

Afinal, desde que me lembro – nasci em Groningen, na Holanda, em 12 de agosto de 1982 — e o ciclismo sempre fez parte da minha vida. Na minha terra, a bicicleta faz parte da vida cotidiana. Vamos de bicicleta para o trabalho, pra escola, fazer compras e à igreja. Meu primeiro salário foi gasto numa bicicleta. Eu não sei exatamente quando nasceu o amor pelo ciclismo como esporte, mas acho que sempre esteve presente no meu coração.  Eu torcia pelo espanhol Miguel Indurain. Admirava muito sua modéstia e humildade dentro e fora do ciclismo. Ele foi uma inspiração para muitos jovens ciclistas. Ao contrário, a personalidade vivaz do meu “herói de infância” Mario Cipollini.

Ao longo dos anos, o ciclismo foi a base de muitas das minhas amizades, com pessoas de diferentes origens, educação e cultura. O esporte transcende a idade, o mais velho dos meus amigos ciclistas pode ser o avô do meu amigo ciclista mais jovem, linguagem e convicções. Essas amizades do ciclismo me ajudaram a mergulhar nos lugares em que eu vivi e visitei. Eles me ajudaram a entender as diferentes culturas e crescer como pessoa. O ciclismo me ensinou a dar o melhor de mim.

Rien Schuurhuis e Tom Dumoulin em Wollongong

Rien Schuurhuis e Tom Dumoulin em Wollongong

Realmente o ciclismo, e em geral o esporte, foi para mim uma excelente maneira de me integrar nas comunidades de todo o mundo. Em 2009, me mudei para a Austrália com minha esposa e, desde então, vivemos na Índia, no Pacífico Francês e agora na Itália. Em cada um desses lugares encontrei amigos e compartilhei experiências através do esporte. A Austrália, agora minha segunda casa, me ensinou como o esporte pode unir. Metade da população australiana nasceu ou tem um pai nascido no exterior, com uma incrível mistura de culturas e línguas. O esporte cria laços que transcendem essas diferenças.

Na Índia, nunca esquecerei que participei de uma meia maratona em Nova Deli ao lado de uma mulher que corria descalça e, no calor escaldante, com a cabeça coberta. Trocamos um sorriso e algumas palavras de apoio. Na Nova Caledônia, embora eu não soubesse falar francês, eu me liguei a vários jovens ciclistas, alguns dos quais eram indígenas Kanak. Como eles tinham pouco apoio e dinheiro disponível, foi um verdadeiro privilégio poder treinar alguns deles e ajudá-los a adquirir bicicletas e outros materiais para fazer esporte.

Corri a pé e de bicicleta por toda a Ásia e Pacífico, na Malásia, Indonésia, Nova Zelândia e Polinésia Francesa. Uma das experiências mais incríveis foi uma corrida ciclística na ilha das Flores, na Indonésia. Fomos acolhidos em vários mosteiros que pontilham a ilha enquanto completávamos as etapas: uma experiência espiritual que nunca esquecerei. As ruas estavam cheias de espectadores, parecia que toda a ilha tinha vindo para torcer por nós. As pessoas apoiavam todos, independentemente da raça, cor da pele ou religião.

Fonte: Vatican News

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