“Quaresma é tempo propício para a renúncia. Privemo-nos de algo todos os dias para ajudar os outros”, disse o Papa Francisco. Por isso mesmo nosso artigo chama atenção para o gesto concreto da Campanha da Fraternidade deste ano de 2014. Por solicitação de cristãos leigos da nossa Paróquia de Santo Afonso, os quais procuram vivenciar sua fé no dia a dia e atentos estão, a tudo que acontece na Igreja, a exemplo de Maria Ildaci Nogueira Parente, Carlos Rogério Aragão e José Douglas Rodrigues, os mesmos citando as palavras de “Francisco, um papa do fim do mundo”, aos 14/02/2014, ao receber no Vaticano os membros da Conferência Episcopal da República Checa, junto dos quais defendeu a necessidade de “transparência” na administração dos bens da Igreja.
Diante do pedido insistente de nossos paroquianos, tomei a decisão de escrever este nosso texto, uma vez que o argumento deles foi forte, convencido de ser um modo de contribuir, já que tenho o hábito de escrever para diversos veículos de comunicação: jornais, sites, blogs e redes sociais. Pensei na forte expressão do Santo Padre, aos 05/03/2014: “Não é possível ficar impassível, sabendo que existem seres humanos tratados como mercadoria! A pessoa humana não deveria ser vendida e comprada como uma mercadoria”.
Suas palavras faz-nos pensar no resultado comparativo do gesto concreto do Fundo Nacional de Solidariedade, de dioceses grandes e populosas, comparando-as com dioceses pobres e pouco habitadas no interior do Brasil, referente à contribuição de 40% do mesmo gesto concreto do ano de 2012, numa leitura atenta. Constataram antagonismo e ausência de transparência, referente ao mesmo ano e anos anteriores, a partir de uma leitura do texto base da CF 2014, das páginas 112 a 125.
Veja estimado leitor, a chamada de atenção de nossos leigos, implorando mais transparência da CNBB no resultado, exemplificando a partir do texto base, a saber: a Diocese de Ji-paraná RO contribuiu quase quatro vezes mais (45.311,16) do que Arquidiocese de São Salvador da Bahia BA, que contribuiu com (12.571,91). Ainda no mesmo Regional Nordeste 3 (Bahia e Sergipe), a Diocese de Barreiras BA, com poucas paróquias e uma população bem pequena em relação a Salvador, contribui quase duas mais (21.298,34), sem falar na Diocese de Serrinha BA, a qual contribuiu com (15.400,00) muito mais do que a Arquidiocese Primaz do Brasil. Será que aqui não existe um descompasso, não existe um pecado?
Falaram também da Arquidiocese Militar do Brasil, com as três forças federais, sem esquecer as forças estaduais – (Polícia Militar e Corpo de Bombeiros), com uma contribuição pífia de (19.445,26), sem falar que, no quadro comparativo, inúmeras dioceses, as quais, não contribuíram em nada, no espaço em branco (cf. texto base). É importante lembrar o que disse o Sumo Pontífice aos membros dos Institutos Religiosos, no dia 08/03/2014, a saber: “É preciso vigiar atentamente para que os bens eclesiásticos sejam administrados com transparência e atenção aos pobres”.
Domingo de Ramos é o dia especial do gesto concreto, da contribuição para o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), o qual 60% fica na diocese e 40% é encaminhado para a CNBB. A conversão do coração se traduz no agir solidário e fraterno de todo o povo brasileiro, o qual fica feliz, alegre e repleto de esperança, dentro da lógica de uma Igreja servidora, pobre e despojada, no exemplo da entrega e doação da própria vida do Servo de Javé. A generosidade da nossa gente quer dizer que a caridade, o jejum e a oração têm uma importância incomensurável, querendo expressar nossa sensibilidade, fruto da graça de Deus, diante do comércio de seres humanos, na nossa caminhada para a Páscoa. E que a violação da dignidade da pessoa humana, naquilo que lhe é mais sagrado, no seu cerceamento, no seu direito inalienável de ir e vir, muitas vezes é transformado num caminho sem retorno.
A conversão do coração, através do gesto concreto é proposta para todos. E aqui vale para uma boa parte dos bispos brasileiros, os primeiros promotores da Campanha da Fraternidade no nosso querido Brasil. É consequência da nossa fé a transparência, a coerência e a partilha dos bens deste mundo, que são dons de Deus para todos. Que a nossa prática seja generosa, num grandioso ato de fé, para experimentarmos a liberdade dos filhos de Deus, na certeza de que “É para liberdade que o Cristo nos libertou” (Gl 5, 1) Amém!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso – [email protected]