Cardeal Ranjith agradece ao Papa doação às famílias do Sri Lanka

Em entrevista ao Vatican News, o cardeal Malcolm Ranjith, arcebispo de Colombo, expressa gratidão ao Papa Francisco pela doação de 100 mil euros para apoiar cerca de 400 famílias que foram afetadas pelos atentados no Domingo de Páscoa de 2019, que matou 269 pessoas.

Por Deborah Castellano Lubov

O cardeal Malcolm Ranjith, do Sri Lanka, agradece ao Papa Francisco por tomar a iniciativa de enviar 100.000 euros para ajudar as famílias das vítimas e sobreviventes dos ataques terroristas do Domingo de Páscoa de 2019.

Em entrevista ao Vatican News, no momento em a atual crise econômica, política e financeira do país atinge novos patamares, o arcebispo de Colombo, que serviu no Vaticano por muitos anos, fala entre outras coisas sobre a generosidade do Santo Padre, destinada a beneficiar cerca de 400 famílias pertencentes às Igrejas Católica e Evangélica, que de uma forma ou outra foram atingidas pelos ataques dos homens-bomba naquele trágico domingo, que mataram 269 pessoas.

O senhor poderia nos falar sobre esta doação de 100.000 euros do Papa Francisco às famílias das vítimas e sobreviventes dos ataques terroristas do Domingo de Páscoa de 2019 no Sri Lanka?

Quando vim a Roma e encontrei Sua Santidade em fevereiro deste ano, ele me perguntou sobre o bem-estar dessas pessoas, como elas estão e expressou sua preocupação por suas necessidades. Então, por iniciativa própria, ele me perguntou se poderia nos ajudar financeiramente, e eu disse que sim, que somos muito gratos a ele por isso. Ele me perguntou quanto. Eu disse: “O que o senhor der, será bem-vindo”. Então ele me disse que tinha uma doação de alguém no valor de € 100.000 e que me daria € 50.000. Ele me pediu o número da conta de nossos fundos diocesanos, que lhe passei, e quando voltei em abril e verifiquei a conta, descobri que havia sido creditado € 100.000 em nossa conta. Ele havia dado o valor total. Penso que ele fez algo extremamente útil para o nosso povo e somos muito gratos a ele por isso, pela preocupação e pela atenção constante que tem dado às necessidades dessas pessoas.

E como esse apoio será distribuído entre as famílias das vítimas? Imagino que seja um apoio muito apreciado, especialmente devido à crise econômica que o país está enfrentando agora…

Devido à atual crise econômica, essas pessoas também precisam muito de ajuda. Então, decidimos que vamos dar esse dinheiro agora e distribuí-lo de forma equitativa, de acordo com as necessidades e os vários desafios que essas famílias estão enfrentando, e elaboramos uma espécie de esquema. Alocamos a quantia total para 400 famílias da Igreja de São Sebastião em Katuwapitiya, cidade de Negombo e da Igreja de Santo Antônio em Kochchikade. Também doamos uma certa quantia para as famílias da Igreja Evangélica de Batticaloa e enviamos para a Caritas local para que seja distribuída a essas pessoas. Além disso, destinamos alguns valores mais substanciais para aqueles que estão acamados e precisam de cuidados médicos constantes, e têm que pagar por enfermagem e outras coisas. Então, considerando isso, nós demos a eles uma quantia maior. Distribuímos as doações durante uma cerimônia no último final de semana, na qual convidamos o Núncio Apostólico.

Passados 3 anos desde os ataques, como Igreja local lida com aqueles trágicos acontecimentos e suas consequências?

Há dois lados da questão. Um é, claro, é que existem várias necessidades: necessidades econômicas, físicas, médicas e psicológicas. Então, continuamos a cuidar dessas necessidades o máximo que podemos. Após os ataques, houve uma manifestação de caridade de todo o mundo. Então criamos um fundo especial, e parte desse dinheiro ainda está disponível, e continuaremos a cuidar dessas pessoas mesmo no futuro. Por outro lado, temos a questão da justiça, a de saber a verdade por trás desses ataques. É uma questão muito mais séria para eles, porque eles querem saber quem e por que isso aconteceu com eles. 269 ​​pessoas morreram nas explosões e depois três policiais foram mortos em outra explosão quando foram prender alguns dos envolvidos, o que eleva o total para 272. Portanto, temos que responder a essas perguntas sobre os ataques: quem estava realmente por trás disso, e por que foi realizado. Até obtermos respostas claras sobre isso, nosso povo não ficará satisfeito.

Até que ponto as preocupações de segurança para a igreja local foram tratadas e levadas em consideração e ainda há preocupações em relação a isto? Com base no que o senhor acabou de dizer, parece que ainda há muito trabalho a ser feito….

Sim, o problema com o país, claro, é muito maior, por causa de políticas e gestão econômica equivocada. O país caiu num precipício. Estamos no meio de uma crise financeira, uma grave crise financeira, onde muitas pessoas estão desempregadas ou subempregadas. Como resultado, eles não têm renda para suas famílias. Isso afetou a população em geral. Além disso, há também outras questões: todas as indústrias faliram, temos dívidas enormes a serem pagas a outros países por projetos inúteis que foram promovidos pelos governos anteriores, mais para enriquecimento pessoal do que para desenvolvimento do povo. Esses projetos causaram um enorme problema de endividamento no país e não sabemos como sair dele. Assim, a renda nacional e a capacidade de produção do país caíram e não podemos pagar as necessidades básicas das pessoas, como eletricidade, carvão para acionar os geradores de energia, diesel e gasolina necessários para agricultores, pescadores e outros pessoas para administrar seus negócios. Tudo isso desmoronou e a renda das famílias foi gravemente afetada. Por causa disso, temos uma grave crise financeira e todos nós vamos ter sérias dificuldades.

Em relação a essa crise econômica e política. Em sua opinião, o que seria preciso fazer para sair dessa situação?

O país também sofreu uma séria erosão da democracia, causada por três fatores. O primeiro é a deterioração gradual do estado de direito e a interferência de líderes políticos no judiciário, o que tornou a justiça um problema para nosso povo. Então, queremos que isso seja corrigido. Em segundo lugar, os níveis de corrupção do nosso sistema político são muito altos, e apenas algumas pessoas – ou melhor, algumas famílias – ganham indefinidamente, enquanto muitas famílias estão em extrema pobreza. Portanto, essa corrupção deve parar e um meio eficaz de controlá-la deve ser estabelecido. Em terceiro lugar, as violações dos direitos humanos estão aumentando, e quanto mais pessoas protestam, mais opressivos se tornam os governos. Portanto, há muitas questões sem resposta. Tudo isso requer uma transformação em nossa sociedade. Queremos que a comunidade internacional pressione nosso governo para garantir que esses erros sejam corrigidos e pedimos que nos ajudem de forma que a corrupção não ocorra mais. A ajuda deve ser dada ao nosso país, mas com condições claras para preservar a democracia, o estado de direito, a honestidade e salvaguardar os direitos humanos.

Fonte: Vatican News

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