Carta aberta às Comunidades Eclesiais de Base da Arquidiocese de Fortaleza e a todas as pessoas de bem em comemoração ao Seminário: Cebs: Nosso jeito de ser Igreja num mundo em mudanças”.
Irmãos e Irmãs na fé no Deus Libertador,
O motivo desta carta aberta é comunicar aos irmãos e irmãs da nossa alegria pela realização do seminário: “Cebs: Nosso jeito de ser Igreja num mundo em mudanças”. Nos dias 13 e 14 de abril deste ano, estivemos reunidos no Centro de Pastoral Maria Mãe da Igreja para aprofundarmos nossa fé e bebermos da fonte que nos anima na caminhada. Para nossa alegria, este seminário contou com a presença de mais de noventa pessoas representando as comunidades que compõem as quatro regiões episcopais em seus dois dias de realização. Tal encontro é fruto do planejamento realizado na assembléia anual de Cebs, em novembro passado, que teve por objetivo recolher as experiências das comunidades e apontar novos caminhos para se continuar na utopia da realização do Reino de Deus em nossa sociedade. Desta forma, apresentamos os pontos de discussão animadora que fizeram parte do nosso encontro:
Tendo a prestigiada presença do Pe. José Maria, grande animador das Cebs em Arautuba, que ao relatar sua vivência de comunidade nos apontou luzes que perpassaram todo o seminário. Ao relatar o contexto histórico da época, padre José Maria nos apresentou como se deu a presença das Cebs diante do regime militar, momento esse, que o impulsionou a criar uma “filosofia de comunidades, de criar comunidades”. Demonstrando austeridade e a pobreza evangélica que sempre norteou sua vida, se dizendo portanto uma pessoa livre, padre José Maria nos relatou que nessa época orientava o povo a se reunir para que pensassem quais eram suas necessidades: “A gente fazia reunião a noite, sempre a partir das necessidades do pessoal”.
Em dado momento, ao fazer memória das pessoas que o influenciaram a viver junto as Cebs lembrou de D. Aloísio Lorscheider, disse-nos da sua simplicidade e da grande solidariedade recebida dele diante de seguidas ameaça de morte: “Dom Aloísio saia de si. Foi até a Aratuba e com a gente foi falar com o governador, porque as acusações eram falsa, olhem para trás (mostrando-nos um quadro com a figura de D. Aloísio), esse homem é um santo”! Momento inesquecível.
Ao encerra sua fala nos deu mais uma vez um testemunho de fé, disse: “A gente morre e aceita essa morte pra gerar vida, isso é Ressurreição! As Cebs não é uma pastoral da Igreja, as Cebs são pequenas comunidades na Igreja”.
Terminado o momento em que recolhemos o testemunho de vida do padre José Maria, iniciou-se a “fila do povo”, local de contribuições valiosíssimas que atualizaram os desafios pelos quais passam hoje nossas comunidades: “as políticas autoritárias do governo que negam nossos direitos fundamentais, a necessidade de continuar animando as pessoas mais simples a falarem, a problemática por que passam os pequenos agricultores na região da Serra, o PAC, as remoções, o diálogo com a juventude… Surge a pergunta: Diante da vida que está ameaçada como vamos encarar esses problemas?
Após o almoço, que por sinal estava muito bom! Reunimo-nos em grupos com o objetivo de reafirmar três pontos fundamentais para a caminha das Cebs: Quem somos? Onde estamos? Como continuar sendo Cebs, hoje?
Da partilha dos grupos pudemos resumir nos seguintes tópicos:
Somos comunidade, Igreja viva, Povo de Deus. Pessoas comprometidas com o Filho de Deus e que fazemos desse compromisso nossa fé. Somos luta, resistência: leigos(as), religiosas(os) e padres que a partir do Evangelho afirmamos que a vida é um “dom sagrado” e deve ser defendida. (Gn 1,27)
Estamos nas mais diversas realidades: junto aos pobres nas periferias das cidades, no interior, com os povos indígenas e remanescentes de quilombolas, nos sindicatos, nas associações… Nos encontramos nas comunidades, lendo a vida com Palavra de Deus e sendo do Reino (Lc 13,20)
Percebemos que no contexto em que nos encontramos há necessidade de esclarecer o que são Cebs e que um ponto para esse esclarecimento é a realização de encontros como este nos diversos setores. Que torna-se urgente e necessário o trabalho com a juventude (para nossa grata surpresa contávamos com um número muito bom de jovens), utilizando uma linguagem que seja atualizada e convidativa para anúncio comprometedor do Reino. E apostando na realização de ações em prol da vida, na medida que o nosso testemunho identifique nossa espiritualidade.
Amigos(as) da caminhada, esses apontamentos servirão de base para a preparação do nosso próximo seminário com previsão para o segundo semestre de 2013. Perceber o que nos identifica enquanto Cebs, onde estamos e como podemos continuar atuando na fé em um contexto de mudanças é desafiador e problemático. Assumir tal desafio requer o testemunho daqueles que permaneceram firmes e viram a libertação acontecer (C.f Ex13,14b) e a ajuda de quem se juntava mais e mais na mesma fé (At 4,32b). A compreensão deste contexto e a forma de atuação nele é um processo, passo já dado satisfatoriamente.
No Espírito de Jesus de Nazaré aquele que é nossa Páscoa!
Comissão de síntese do Seminário de Cebs
14 de Abril de 2013. – 3° Domingo da Páscoa