Celebração Eucarística recorda bispos falecidos

A Santa Missa desta terça-feira, 24, da 50ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recordou os bispos falecidos desde a última Assembleia Geral, realizada no ano passado.

Na celebração, que foi presidida pelo bispo de Mossoró (RN), dom Mariano Manzana, foram acesas velas em memória por cada um dos bispo falecido.

Por ocasião de sua Assembleia Geral, a CNBB alimenta em seus momentos orantes a vida e o ministério dos seus membros e faz a oração de Ação de Graças pela nomeação de novos bispos, a oração de gratidão pelo ministério dos bispos eméritos e a oração em sufrágio dos bispos falecidos.

No início da eucaristia, o arcebispo de Uberaba (MG), dom Paulo Mendes Peixoto, afirmou que a vocação de cada bispo falecido sempre esteve a serviço da CNBB e do povo de Deus.

“Foram pastores que dedicaram suas vidas a Deus e ao seu povo. Hoje queremos colocar suas vidas nas mãos de Deus. Que possam rezar por nós para que possamos ser instrumento de construção do Reino de Deus”, afirmou.

Dom Paulo Mendes ainda afirmou que todos os 10 bispos recordados nesta celebração foram lideranças que entregaram suas vidas a Deus e as suas dioceses, paróquias e comunidades.

Em sua homilia, dom Mariano ressaltou que esta celebração é um momento de memória que nunca faltou nas Assembleias da CNBB tanto em Itaici quanto em Aparecida.

“Conforme a leitura do Ato dos Apóstolos, Estevão nos dá um testemunho de coragem. Hoje ele nos traz um grande exemplo de sua comunhão com Deus”, afirmou.

Dom Mariano afirmou que a exemplo de Estevão, os bispos recordados na celebração de hoje foram homens de fé e de coragem.

“Como Estevão, os nossos irmãos recordados hoje foram homens de coragem e verdadeiros pastores da nossa Igreja”, acrescentou.

O bispo de Mossoró recordou, em especial, dois bispos que dedicaram suas vidas a Igreja e ao povo de Deus.

“Convido a todos, especialmente a seus sucessores e diocesanos, a recordar a história de dedicação de dois irmãos em particular: dom Clemente Isnard e dom José Freire”, afirmou.

Dom Mariano afirmou que dom Clemente Isnard se dedicou aos trabalhos da CNBB como vice-presidente da Conferência e em suas inúmeras atividades, tendo destacada atuação no Concílio Ecumênico Vaticano II em relação à liturgia.Sobre o seu sucessor, o bispo emérito de Mossoró (RN), dom José Freire, dom Mariano ressaltou a grande atuação junto a comunidade.

“Me lembro de seus forte acolhimento quando cheguei ao Brasil. Ainda ressoa nos meus ouvidos o seu convite a não ter pressa e a não desanimar perante as dificuldades”, afirmou dom Mariano.

Dom Mariano lembrou o período difícil de pastoreio dos bispos durante o período do regime militar no Brasil e da coragem de enfrentar todos os obstáculos.

“Foram períodos difíceis em que a Igreja passou por grandes transformações como durante o Concílio Ecumênico Vaticano II, onde fazíamos a opção pelos pobres e excluídos. Durante o episcopado de dom José Freire dominava no Brasil o regime militar e a Igreja sempre com posições firmes foi perseguida, mas ele nunca desanimou”, afirmou dom Mariano.

O bispo de Mossoró acrescentou que a virtude da esperança dá sentido a vida dos cristãos em sua caminhada e necessária certeza para superar as dificuldades que se apresentam no seu cotidiano, na busca da salvação que está experimentada na eternidade.

Leia a íntegra da homilia de dom Mariano Manzana:

“Senhor, mostrai serena vossa face ao vosso servo”. Essa é a invocação do salmista, pedindo compaixão para aqueles que se se apresentam ao Senhor.

Queridos irmãos bispos, sacerdotes, religiosos, irmãos e irmãs peregrinos que hoje se encontram aqui na Basílica da Mãe Aparecida e radio ouvintes e telespectadores de todos os cantos do Brasil que participam conosco desta solene concelebração eucarística, acompanhando-nos, fraternalmente: a todos a nossa carinhosa saudação.

Estamos aqui ao redor do altar, para celebrar a Eucaristia em sufrágio de nossos irmãos bispos que foram dentro da comunidade cristã a imagem de Jesus, bom Pastor, no serviço pastoral. Deus os chamou a si, desde a última Assembleia Geral da CNBB, para receberem o prêmio eterno, prometido aos servidores do Evangelho. É o momento de memória que nunca faltou nas celebrações da CNBB, durante sua Assembelia, tanto em Itaici como aqui em Aparecida. A Palavra de Deus, nas leituras hoje proclamadas, nos convida a rezar por estes nossos irmãos, para que contemplem o “Filho do Homem de pé, à direita de Deus”, como Estêvão. Essa visão é uma promessa de Jesus aos discípulos: “Eu vou preparar um lugar para vocês e onde eu estiver quero que estejam também aqueles que me amam e observam minhas palavras”.

Conforme a primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, Estêvão, definido como homem cheio do Espírito Santo e de fé, ao ser escolhido e apresentado aos apóstolos para imposição das mãos, nos dá testemunho de sua coragem, ao enfrentar os anciãos e doutores da lei: “homens de cabeça dura, insensíveis, incircuncisos de coração e ouvido! Vós sempre resististes ao Espírito Santo, e como vossos pais agiram, assim também fazeis vós!” Ele nos dá testemunho de sua vivência e comunhão trinitária profunda; diz a leitura: “Estêvão, cheio do Espírito Sant, olhou para o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus”. Desta união profunda, mesmo quando os adversários enfurecidos, rangendo os dentes, dando grandes gritos e tapando os ouvidos, começam a apedrejá-lo, nasce a entrega confiante de sua existência a Deus “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito”. O protomártir Estêvão nos dá ainda o testemunho da grandeza do perdão, como verdadeiro discípulo do Mestre que, ao ser pregado na cruz, perdoou os seus algozes. Como Jesus, repete: “Senhor , não os condenes por este pecado”. Estas atitudes de coragem, de profunda união com Deus e de perdão também vislumbramos nestes nossos irmãos cuja páscoa definitiva hoje comemoramos. Como Estevão, foram homens de coragem, de comunhão com Deus, de perdão e de generosidade, cuja vida foi dedicada àquela “porção do povo de Deus” que lhe foi confiada pela Igreja. No Evangelho, Jesus, no discurso sobre o “verdadeiro pão do céu”, diz: “eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”. A vida em plenitude, sem fome e sem sede, somente é experimentada na comunhão eterna com Deus. Nossos irmãos bispos desempenharam o seu ofício pastoral com fidelidade, porque, em sua caminhada terrestre, foram saciados por Jesus, o pão da vida.

Ao reverenciarmos a memória desses nossos irmãos bispos falecidos, convido a todos e, especialmente, os seus sucessores, com seus diocesanos, a verem aquela face de sua vida que falou, humana, espiritual e pastoralmente, à CNBB, ao seu Regional, à comunidade diocesana e à própria sociedade. Permitam-me referir-me, em particular, a dois destes irmãos : Dom Clemente Isnard e a Dom José Freire. A história da CNBB contém capítulo especial, ao registrar a participação de Dom Clemente, por seu dedicado serviço à Conferência, como vice-presidente e, no Brasil inteiro, como animador da reforma litúrgica. O outro é Dom José Freire. Como sucessor dele, na Diocese de Santa Luzia de Mossoró, no Rio Grande do Norte, lembro quando, em janeiro de 1977, há 35 anos, cheguei da Itália, para trabalhar como padre “Fidei Doonun”; ele me acolheu com carinho, orientou os meus primeiros passos e facilitou minha inserção no contexto nordestino, para servir àquele povo de Deus que vive no nordeste. Ainda ressoa nos meus ouvidos o seu convite a não ter pressa, a ter os pés no chão e a não me iludir de poder anular as diferenças. Repetia: “Um pedaço de pau pode ficar muito tempo nas águas do rio, mas nunca vira jacaré”. Dom José Freire foi um homem de bem, probo, justo, leal, como esses irmãos que hoje fazemos memória, em nossa oração. Em sua missão evangelizadora e catequética, foi um grande pastor; guiou bem o seu rebanho, numa fase que não foi simples para a vida da Igreja Católica e da sociedade brasileira. O episcopado de Do José, como de muitos dos nossos irmãos que lembramos, coincidiu com uma das fases de maior mutação na Igreja, no século passado. Com o Concílio Vaticano II, a Igreja abriu mais as portas para o mundo; os Papas João XXIII e Paulo VI publicaram Encíclicas enérgicas e os bispos da América Latina, em Medelin e Puebla, expressaram a necessidade de uma efetiva proximidade da Igreja com a realidade do povo, fazendo a “opção preferencial pelos pobres”, visando a diminuição das desigualdades sociais e lutando pela “inclusão social”.

É oportuno lembrar que, no Brasil, no início do episcopado de Dom José, dominava o regime militar, com a subtração de garantias individuais, o controle absoluto sobretudo, inclusive, sobre a imprensa, cassações políticas, o fechamento do Congresso Nacional e de muitas pautas democráticas; a Igreja, em razão de posições firmes, diante desse estado de coisas, foi perseguida em muitos de seus membros; Dom José, como muitos outros, foi um bispo de uma linha enérgica, profética, voz dos que não têm voz.

Hoje, reconhecemos a herança espiritua, a fraternidade episcopal e a importância pastoral desses nossos bispos falecidos e devemos zelar para nunca esquecermos a memória deles e nunca perdermos seu valioso legado humano e ministerial. Com efeito fazer memória deles é reconhecer quanto o convívio com eles mudou mesmo a nossa vida. Fazer memória deles ajuda-nos a não perder de vista as coisas do Alto; contemplando-os, enquanto estamos mergulhados nos muitos afazeres do dia a dia, aqui na terra, tentemos unir mais fortemente a terra ao céu. Fazer memória deles é confirmar que a Igreja está construída sobre o fundamento da fé apostólica, que está sempre presente na Igreja Católica, porque, pela sucessão, os Apóstolos estão presentes em nós, bispos, pela graça de Deus, não obstante nossa pobreza humana. Somos gratos a Deus que nos quis chamar para estar na sucessão apostólica e contribuir para a edificação do corpo de Cristo, confortados e animados pela intercessão espiritual dos irmãos bispos falecidos.

Que o Senhor, pela materna intercessão de Maria, Mãe Aparecida e Rainha dos Apóstolos, tenha acolhido, em sua casa, um desses irmãos que, como o salmista em oração, sempre pediu, como nós hoje pedimos: “Mostrai serena a vossa face ao vosso servo e salvai-me pela a compaixão”. Amém.

Dom Mariano Manzana

Bispo de Mossoró (RN)

CNBB

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