As Pontifícias Obras Missionárias realizam no último sábado, 29 de abril, a missa de ação, presidida pelo Cardeal Raymundo Damasceno Assis e concelebrada pelo Núncio Apostólico Dom Giambattista Diquattro. A missa foi transmitida pela TV Pai Eterno para todo o Brasil.
De maneira especial, esta celebração marcou os 200 anos da Pontifícia Obra da Propagação da Fé, obra iniciada pela serva de Deus Paulina Jaricot, que será beatificada em 22 de maio de 2022. Ela fundou a Pontifícia Obra da Propagação da Fé, em 1822, e criou a primeira rede mundial de oração e solidariedade para atender às necessidades dos missionários e missionárias Ad Gentes. Também foi motivo desta celebração os 100 anos que o Papa Pio XI concedeu às Obras o caráter Pontifício. Neste mesmo ano, vamos celebrar 150 anos do nascimento do beato Paolo Manna, PIME, fundador da Pontifícia União Missionária (PUM) e os 400 anos de criação da Congregação para Evangelização dos Povos.
Confira a homilia do Cardeal Raymundo Damasceno Assis:
Excelentíssimo Senhor Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, Prezado Padre Maurício Jardim, Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias – POM, estimados presbíteros, diáconos, religiosas, religiosos, seminaristas, leigos de diversos países que estão fazendo o CENFI – Curso de Formação Intercultural, no Centro Cultural Missionários – CCM da CNBB;
Caros irmãos e irmãs aqui presentes;
Estimados telespectadores e telespectadoras da TV Pai Eterno;
Agradeço de coração ao Padre Maurício pelo convite para presidir esta Eucaristia. Estamos aqui reunidos em ação de graças a Deus pelos 200 anos da Obra da Propagação da Fé, criada, em 3 de maio de 1822, pela Serva de Deus Pauline Marie Jaricot, e pelos 100 anos da concessão do caráter pontifício concedido pelo Papa Pio XI às Obras Missionárias. A Deus, também, nossa ação de graças pelos 400 da criação, em 1622, da Congregação para a Evangelização dos Povos.
A gênese das Pontifícias Obras Missionárias é devida à Serva de Deus Pauline Marie Jaricot, que será beatificada no próximo dia 22 de maio. Além de ter fundado a Pontifícia Obra da Propagação da Fé, ela é também responsável pela criação da primeira rede mundial de oração e solidariedade para atender as necessidades dos missionários e missionárias Ad Gentes.
Em torno deste altar, também louvamos a Deus e Lhe agradecemos pelo Ano Jubilar Missionário que a Igreja no Brasil está celebrando neste ano de 2022. Com o tema “A Igreja em estado permanente de missão” e com o lema “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8), o Ano Jubilar recorda-nos, no âmbito internacional, os já referidos 400 anos de criação da Congregação para a Evangelização dos Povos e os três aniversários das quatro Obras Missionárias: os já mencionados 200 anos do nascimento da Pontifícia Obra da Propagação da Fé (POPF); o centenário do Motu Proprio Romanorum Pontificum, do Papa Pio XI, com o qual, em 1922, o santo Padre designou três das quatro Obras Missionárias como Pontifícias e os 150 anos do nascimento do beato Paolo Manna, PIME, fundador da Pontifícia União Missionária (PUM). No âmbito nacional os motivos jubilares são os 50 anos de criação do Conselho Missionário Nacional (COMINA); os 50 anos das Campanhas Missionárias; os 50 anos dos Projetos Igrejas Irmãs; os 50 anos do Conselho Missionário Indigenista (CIMI), os 50 anos do Documento de Santarém, os 60 anos do CCM e os 70 anos da criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Caros irmãos e irmãs: todos nós temos consciência da importância da obra missionária para a Igreja. O Concílio Vaticano II nos diz, no “Decreto ad Gentes sobre a atividade Missionária da Igreja”, que, em Pentecostes, a Igreja foi publicamente manifestada diante de uma multidão. Esse acontecimento dá início à difusão do Evangelho, antecipando a missão dos povos na universalidade da fé por meio da Igreja da Nova Aliança, que fala, compreende e engloba todas as línguas, pois o Espírito Santo sustenta a Igreja na comunhão, na continuidade do mesmo mistério, conferindo vida às instituições eclesiásticas, derramando nos corações dos fiéis o mesmo espírito missionário que animava Jesus” (Cf. AG, 4). Como afirma São João Paulo II, na Encíclica Redemptoris Missio, “é o Espírito Santo que acompanha o caminho da Igreja, associando-a ao testemunho que Ele próprio dá de Cristo” (RM., 42).
Ensina-nos São Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi que a tarefa de evangelizar, isto é, de anunciar e testemunhar Jesus Cristo a todos os povos, é a missão essencial da Igreja, de todos os batizados. Diz ele: “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade” (EN, 14). Se a Igreja deixar de cumprir sua missão de evangelizar, ela perde a sua razão de ser. Essa constatação nos demonstra a importância e a missão das Pontifícias Obras Missionárias.
De fato, a Igreja necessita de um organismo que procure despertar nos fiéis a consciência da sua vocação missionária e da sua responsabilidade pela sustentação da atividade missionária da Igreja. Por meio da Congregação para a Evangelização dos Povos e das Pontifícias Obras Missionárias e de outros organismos, a Igreja conserva vivo o Espírito de Pentecostes, que faz de todos nós missionários, realizando o Projeto de Deus da universalidade da salvação, da qual a Igreja Católica é sacramento, mantendo vivo o compromisso evangelizador de todas as suas forças vivas.
O lugar da missão é o mundo. Onde quer que Deus nos proporcione ocasião para falar do mistério de Cristo a todos os homens, devemos testemunhar e anunciar com perseverança e confiança o Deus Vivo e Jesus Cristo por ele enviado para a salvação de todos. E as Pontifícias Obras Missionárias não descuidam de tão importante tarefa, procurando despertar em todos os fiéis a necessidade do apoio espiritual e material às missões, e de promover as vocações missionárias.
Todo esse trabalho é para que não nos esqueçamos, como nos ensina o Evangelho deste domingo, de que somos todos pescadores de homens, isto é, missionários. “Lançai a rede (…) e achareis”, disse Jesus aos discípulos (Jo 21,6).
“Lançaram a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes” (Jo 21,6), diz-nos também o Evangelho de hoje. O imperativo do Senhor para que os discípulos lançassem a rede continua ressoando em nossas comunidades, de geração em geração. O bom
resultado da pesca dos discípulos aconteceu porque reconheceram o Cristo ressuscitado e confiaram na Sua palavra. É como afirma o Papa Francisco na Exortação Evangelii Gaudium: “Cada cristão é missionário na medida em que se encontra com o amor de Deus em Cristo Jesus” (EG, 120).
Ainda uma referência ao Evangelho deste domingo: “Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” (Jo 21,15). Essa é a pergunta que Jesus dirige também a cada um de nós hoje. Somente a nossa resposta positiva e incondicional a essa indagação nos autoriza a participar da missão evangelizadora e pastoral da Igreja. Como nos ensina o Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, “a nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados. Esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão para que ninguém renuncie ao seu compromisso de evangelização, porque, se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo”. (EG, 120).
Se amamos a Jesus, nós o seguiremos, nos tornamos seus discípulos missionários abrindo caminho para a construção de um mundo novo: um mundo de justiça, de amor e de paz.
Caríssimos irmãos e irmãs, louvemos e agradeçamos a Deus por tudo o que, na sua Divina Providência, tem orientado a Sua Igreja a realizar no campo missionário. Rezemos a Deus a favor da nova evangelização e da missão universal. Digamos como Jesus: “Venha o Teu Reino, seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu” (Mt 6,10).
Para encerrar esta reflexão, trago-lhes algumas palavras do Papa São João Paulo II, extraídas da Encíclica Redemptoris Missio – sobre a validade permanente do mandato missionário (nº 86) -, que nos mostra que devemos nos empenhar com todas as forças no serviço da Missão de Cristo Redentor: “Não podemos ficar tranquilos, ao pensar nos milhões de irmãos e irmãs nossas, também eles redimidos pelo sangue de Cristo, que ignoram ainda o amor de Deus. A causa missionária deve ser, para cada crente tal como para toda a Igreja, a primeira de todas as causas, porque diz respeito ao destino eterno dos homens e responde ao desígnio misterioso e misericordioso de Deus”.
Brasília-DF, 30 de abril de 2022.
Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo Emérito de Aparecida-SP
Fonte: POM