Que a nossa prece no início deste ano de 2022 seja sempre mais de esperança, apoiado no Sol da justiça, solicitando-nos esforço na busca da solidariedade e da paz. Daí nossa oração, no sentido de perceber, pela graça divina, as evidências de sua presença, nos acontecimentos do dia a dia em tempos difíceis! Que sejamos sempre – e cada vez mais – convencidos do fulgurante esplendor da luz divina, mas naquilo que é evidente, claro e visível aos olhos da fé, no antagonismo entre a luminosidade do Sol e a luminosidade da fé: o Sol se põe, às vezes, na extremada beleza, enquanto a fé jamais desaparece, nem se põe. Mesmo quando é noite, a fé recebe o brilho d’Aquele que é infinitamente maior do que o Sol; portanto, neste mundo melancólico e contraditório, lembremo-nos de quem recebemos nosso brilho, ânimo, vigor e amor.
Sendo eu de origem simples e humilde, nascido em lugar chamado Mazagão, Capistrano-CE, num torrão ou berço de Sol abundante e escaldante, com escassez de água, onde cresci e vivi a infância e a adolescência. No contexto da dificuldade de água, dispuséramos de um jumentinho de nome Poldo, o qual era de providencial importância, no sentido de que a água chegasse a nossa casa; tinha um aparelhamento, com vasilhas no seu lombo, que eram chamadas de ancoretas, e todas as manhãs íamos buscar água no açude do Sr. Cursino Rodrigues de Moraes, distante dois quilômetros.
Aprendi, pois, com a vida que o amor é suficiente para que a vida possa encontrar o seu significado mais elevado, mesmo na aridez do deserto ressequido, quando são raras as chuvas, tendo como exemplo o meu Ceará. Daí contarmos com um pouco de orvalho, mais rico e precioso, sendo suficiente para uma semente brotar, crescer e se tornar uma boa árvore. A propósito, temos aqui a chuva do caju, quase nada, mas que muito representa. O exemplo da boa árvore quer revelar a presença de Deus, manifestando nos cristãos um amor corajoso, profético e concreto, na caridade para com os que necessitam de água de toda natureza, naquilo que deveria inquietar a vida dos seguidores de Jesus de Nazaré, nele vendo-se dignidade da vida humana, na sua angústia e dor.
Foi o que pensei, ao retornar de Santa Luzia, na Região Metropolitana de BH, depois do retiro de uma semana, na espiritualidade do Beato Charles de Foucauld. Levei em consideração, ao pensar do alto, que só mesmo pela força da comunhão-oração, no quebrar dos corações de pedra, você pode se tornar, na nossa alegoria, essa boa árvore; pode, sim, ser capaz de se tornar uma árvore próspera, como as da Amazônia, as árvores providenciais do Nordeste brasileiro ou mesmo as árvores do “Recanto Coqueiro D’Água”, de Santa Luzia-MG. No acima citado, inspiração “lá de cima”, do voo LA3315 – BH-Fortaleza, sem turbulência e com nuvens esplêndidas e radiantes, que Charles de Foucauld, como padrão, referencial e ideal, possa nos falar algo ao nosso coração. Assim seja!
Pe. Geovane Saraiva – Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
Uma resposta
Qué sensibilidad y que dulzura. Gracias
Charles de Foucauld sí que sabría de los vientos secos y de la necesidad de agua, en pleno desierto, y de la necesidad de Dios, en toda una vida, mientras uno se gasta, se oxida, se gasta. También esta evocación de la tierra, de la arena, del sol, me hace lembrar del Himno de la materia de Teihard de Chardin: gleba estéril…
Andrés Calle
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