No Primeiro Domingo da Quaresma, os seguidores de Jesus de Nazaré são convidados a caminhar rumo ao deserto. Lá, são chamados a viver uma intensa experiência do amor de Deus, identificados com seu Mestre e Senhor, Ele que foi conduzido pelo Espírito de Deus ao deserto (cf. Lc 4, 1-13). É claro que o convite é feito, pelo próprio Deus, às pessoas de boa vontade, mas mergulhadas no silêncio próprio do período quaresmal, querendo de nós, comunidade dos batizados, a mais absoluta certeza: “Que todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido” (Rm 10, 11).
Como seria maravilhoso se a Quaresma fosse, de verdade, no seu sentido mais pleno, um tempo enriquecedor! Poderia ocasionar em todos os cristãos um forte desejo, no sentido de vivenciar os prodígios da graça divina. Deus nos propõe caminharmos nessa direção, pois a estrada é longa, e enormes são os desafios de todos os seus seguidores. Somos provocados, à luz da Palavra de Deus, a nos manifestarmos através dos acontecimentos da vida, superando provações e desafios, fortalecidos e animados pelo mesmo espírito que animou Jesus no deserto.
Precisamos sempre mais ver o deserto como lugar sagrado e privilegiado, mas, com muita disposição, ir para um verdadeiro encontro com Deus, tendo como exemplo o povo de Israel, que habitou por 40 anos na montanha sagrada. Vale lembrar que Elias percorreu um longo caminho, por 40 dias, até o monte de Deus; igualmente, João Batista, que lá se retirou, desde sua adolescência. Jesus de Nazaré, além de consagrar tal costume, ao viver na solidão do deserto durante quarenta dias, propõe a nós que O respeitemos, sem nunca perder de vista seu despojamento e sofrimento, obediente até a morte e morte de cruz.
Grande é a intimidade divina a nos envolver no deserto, mas sem nos iludir que maior é o combate sagrado, no qual somos convidados a vencer as ciladas deste mundo, pela graça da lealdade e fidelidade ao Pai. Jesus presenciou, sendo fiel a Deus, a proposta do Demônio, de um messianismo do triunfo e da glória. No nosso deserto do aqui e agora, Deus está conosco, se revelando a nós como o único caminho: pela humilhação, pela obediência e pela cruz. Resta-nos pôr nossa esperança no Messias, único e verdadeiro, convencidos de que a salvação chegou a nós e ao mundo. Amém!
*Pároco de Santo Afonso, Jornalista, Blogueiro, Escritor e Colunista, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – [email protected]