A mensagem do papa Francisco para a celebração do Dia Mundial da Paz defronta-se com uma questão central do mundo contemporâneo: A Inteligência Artificial e a Paz. O papa começa situando a inteligência artificial no contexto daquilo que constitui o ser humano: um ser dotado de inteligência que é expressão de sua dignidade enquanto ser pessoal. ”Esta qualidade fundamentalmente relacional da inteligência humana manifesta-se de modo particular na ciência e tecnologia, que são produtos extraordinários do seu potencial criativo”. Desta forma, o progresso da ciência e da técnica, na medida em que contribui para uma melhor organização da vida social, para uma efetivação mais profunda da liberdade na história e para o aprofundamento da comunhão fraterna, constitui inegavelmente um aperfeiçoamento do ser humano e uma transformação do mundo.
Estas conquistas extraordinárias da ciência e tecnologia nos trazem alegria, porque implicam um remédio eficaz para combater numerosos males que afligem a humanidade por força dos grandes sofrimentos que marcam nossas vidas. Por outro lado, tudo isto dá ao ser humano poderes extraordinários que podem constituir grandes riscos para a própria sobrevivência humana e “um perigo para a casa comum”.
Experimentamos hoje profundas mudanças na própria dinâmica da sociedade global a partir dos progressos da informática e das tecnologias digitais. Este processo de criação de sociedades digitais está provocando grandes transformações nas comunicações, na administração pública, na esfera da instrução, no consumo de bens, estendendo-se, na realidade, aos mais diferentes aspectos da vida humana. Estas tecnologias, utilizando-se de uma multiplicidade de algoritmos, conseguem obter dados que controlam hábitos mentais e relacionais das pessoas para atingir objetivos econômicos ou políticos, frequentemente, sem seu conhecimento, o que limita o exercício consciente de suas escolhas. Além disto, a sobrecarga de informações pode dificultar a avaliação dos critérios que orientam a vida humana.
Sendo atividades humanas, a pesquisa científica e as inovações tecnológicas são situadas nos contextos sócio-históricos e, enquanto tais, sujeitas a influências culturais de tal modo que suas opções são marcadas pelos valores pessoais e culturais vigentes nestas situações históricas. Isto vale consequentemente para a inteligência artificial que abrange diferentes ciências, teorias e técnicas, cujo objetivo fundamental é fazer que o funcionamento das máquinas reproduza ou imite as capacidades cognitivas dos humanos. No entanto, há um fosso gigantesco entre estes sistemas e a pessoa humana: aqueles sistemas só conseguem imitar algumas funções da inteligência humana. Seu impacto depende também dos objetivos e interesses de quem os possui e desenvolve, mas igualmente das situações em que são utilizados. Isto significa dizer que não podemos garantir a priori que seu desenvolvimento traga contribuições significativas para o futuro da humanidade e a paz entre os povos. O resultado positivo depende de nossa ação responsável capaz de respeitar os valores humanos fundamentais. “A dignidade intrínseca de cada pessoa e a fraternidade que nos une como membros da única família humana devem estar na base…servir como critérios indiscutíveis para as avaliar…no respeito pela justiça e contribuir para a causa da paz” .
Manfredo Oliveira-UFC
Uma resposta
O texto nos traz simultaneamente sentimentos de alegria (com possibilidades advindas) com a inteligência artificial usada para melhorar a vida e sentimento do necessário cuidado de observar um novo poder a ter controle social e tornar mais rica a humanidade.