Muito a nos ensinar o legado de Francisco de Assis, o da não violência, da paz, da ternura, no seu convite aos homens de boa vontade, por demais atual nos nossos dias. Recorda-nos a salvação e a paz no mundo, projetos da bondade infinita de Deus que estão indo longe, muito acima dos seres humanos. Como somos ajudados na compreensão da beleza da criação, naquilo que encontramos de belo e sagrado no “poverello” de Assis, ao chamar de irmãos e irmãs tudo o que existe, e com a maior ternura, começando pelo Sol, continuando pela Lua e estrelas, os animais e as plantas!
Diante da comoção do mundo, pessoas comentaram conosco sobre os gestos de solidariedade do Papa Francisco e do Dom Thomas Wenski, arcebispo de Miami, expressando profunda tristeza, diante do massacre e do fuzilamento (14/02/2018) praticados pelo jovem Nikolas Cruz, de 19 anos, ex-aluno de uma escola na Flórida, nos Estados Unidos, com saldo de 17 mortos. Por outro lado, observaram a tragédia da maior chacina da história do Ceará (27/01/2018), no “Forró do Gago”, no bairro Cajazeiras, em Fortaleza, quando 14 pessoas foram assassinadas, sem chance de defesa. Não esqueçamos, igualmente, que, em menos de 72 horas após a referida chacina, foi registrado um novo massacre, dessa vez em Itapajé, a 124 km de Fortaleza, na cadeia pública daquela cidade, onde deixou um saldo de 10 mortos.
A Igreja de Deus espera de seus membros, começando por aqueles que têm altas funções, além de vida interior, despojamento e sensibilidade em olhar a realidade, percebendo as coisas essenciais que dão sentido à existência humana. Precisamos aprender, com o Servo de Deus, Dom Helder Câmara, grande dom e herança de todos nós, ao voltar-se ao povo brasileiro, através das visitas de seus amigos e admiradores, implorando: “Não deixe morrer a profecia”, associados, evidentemente, a São Francisco (1182-1226), que viveu num tempo em que era fácil encontrar pessoas armadas, em constante estado de guerra, pelas armas conduzidas na cintura, prontas para a violência.
Pessoas também comentaram conosco sobre a mensagem de solidariedade do Santo Padre, que parece não ter chegado por cá, ao menos a imprensa não registrou, parecendo até que existem dois pesos e duas medidas. Qual será o porquê de as chacinas de Fortaleza e de Itapajé não causarem comoção social, a ponto de não ter chegado aos ouvidos do Santo Padre e do mundo? Será que foi por se tratar de pessoas vistas com estigmas e que deveriam mesmo morrer, por entrar no mundo do crime e da violência, com menos dignidade do que aquelas dos Estados Unidos?
Quando será que nossos desertos existenciais, no contexto da superação da violência, se transformarão em flores? Fixemos na mente e no coração as figuras do Trovador de Assis e de Dom Helder Câmara, convencendo-nos da luta pela superação da violência, dando prioridade a profecia, a ternura e a paz. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – [email protected]