Padre Geovane Saraiva*
Na proximidade da festa em que os anjos anunciam a glória de Deus, pela salvação que nos é oferecida no nascimento da criança de Belém, chega-nos, aqui em Fortaleza-CE, parte dos restos mortais de Dom Aloísio Cardeal Lorscheider. Trata-se de um irmão entre irmãos, mas que mexeu com a consciência das pessoas de boa vontade do estado do Ceará, sensibilizou-as, falando-lhes em alto e bom tom da necessidade de uma nova prática, voltada a Deus, especialmente pela atenção dada aos que aqui encontrou em situação de miséria, fome e exclusão social. Como já disse alhures, considerou o povo cearense, com sua história, realidade e cultura, tornando-se seu patrimônio. Ao mesmo tempo, estimulou-o a ser sujeito e protagonista de sua própria história.
Dom Aloísio, no legado de pastor terno, doce e afável, cativou corações e marcou profundamente a face da Igreja na segunda metade do século XX e início do século XXI. Ensinou-nos que o Evangelho, na sua plenitude e no seu todo, significa, na realidade, a revelação do verdadeiro rosto de uma Igreja em saída e inclusiva, longe de todo e qualquer tipo de intolerância, arma dos preconceituosos e dos fechados ao projeto do nosso Deus e Pai.
Ele tem muito a nos ensinar, sobretudo quando se acentua a importância de campanhas em favor da vida, num não ao aborto, dentro de uma visão que se alarga, pela sua coerente dedicação à Igreja e aos irmãos, sem excluir e negar a cidadania eclesiástica a ninguém. Credenciou-se como referência, igualmente, numa sensibilidade sempre maior, ao se enfatizar o rosto de Deus nos moradores de ruas, nos que são golpeados pela fome, mesmo antes de nascer, sem esquecer os refugiados, os migrantes e os que lhes faltava liberdade de expressão.
A força e exuberância de Deus, de tal modo, pousou sobre Dom Aloísio, na opção que fez de viver a justiça divina, para que, desse modo, seu rebanho experimentasse a paz verdadeira e duradoura. Pelo seu constante esforço de buscar uma vida de conversão pessoal, ao chegar ao Nordeste brasileiro, configurou-se com o Cristo do Evangelho, tornando-se um dom visível de Deus, com seu exemplar modo de viver, concretizado nos empobrecidos. Ele, no entardecer de sua vida (23/12/2007), consciente de que de Deus tinha sido servo bom e fiel, assim se expressou: “Estou preparado. Sou curioso, quero ver o outro mundo. Viver face a face com Deus, sem dúvida, é diferente”.
Concomitante com a URNA MEMORIAL EX OSSIBUS de Dom Aloísio Lorscheider, que se encontra na Cúria Metropolitana desde o dia 12 de dezembro, sendo recebida pela Catedral Metropolitana no dia 21, em Celebração Eucarística, por ocasião do aniversário da Dedicação da Catedral, que foi por ele concluída e consagrada, é que colocamos, nas mãos do povo de Deus, nosso humilde livro fotobiográfico: Dom Aloísio em nossos corações. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, Jornalista, Blogueiro, Escritor e Colunista, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – [email protected]