Dom Helder beatificado

Padre Geovane Saraiva*

Nossa esperança se renova, agora, que recordamos os 19 anos da partida de Dom Helder Câmara ao seio do Pai (27/08/1999). Ao mesmo tempo, rendemos graças ao bom Deus, no grande milagre, o da exuberância e da energia de sua vida, na qualidade de Pastor dos Empobrecidos. Sua firmeza profética, sem nunca perder de vista a glória celestial, tendo-a como seu mais precioso tesouro, nos traços inconfundíveis, por uma vida profundamente santa, apoiando-se na Eucaristia e na Palavra de Deus, acende em nós o esperançoso sonho, aquele proclamado por Jesus de Nazaré, o da humanidade nova restaurada.

O legado de Dom Helder é o de dizer não à história da Torre de Babel, tão presente no nosso mundo, em que se percebe nos homens a clara pretensão de construir uma civilização longe de Deus. A lição da Babel, a da cidade e da torre, cujo ápice penetrou no profundo dos céus, foi um desmantelo total que não deu em nada. Portanto, longe de Dom Helder, pelo incansável sonho, que ao longo de sua vida o acalentou no íntimo de seu coração, o de colocar a criatura humana em um lugar de destaque, num pedestal bem elevado. Ele, agarrado no projeto de Deus, contrariou a ilusória civilização da Babel, no desejo de mostrar um mundo possível de alcançar tudo sem Deus, numa falsa demonstração de pujança e poder.

Dom Helder iniciou sua vida de padre em profunda sintonia e comunhão com Jesus de Nazaré, Pão da Vida, Pão descido do céu, concretamente no exemplo do seu santinho da ordenação sacerdotal, em Fortaleza-CE (15/08/1931), no qual assim se manifestou: Angelorum esca nutrivisti populum tuum – “Teu povo se alimenta do pão do céu”. Por ser um cidadão planetário, o mundo foi seu campo de ação apostólica, vivendo-a a partir dos seus 27 anos na Cidade Maravilhosa-RJ (1936-1964).

Exerceu a função de arcebispo de Olinda e Recife a partir de abril de 1964, carregando consigo o emblema de homem de Deus, místico e generoso pastor. Configurado com o Mestre da Justiça, no rosto de seu povo, ao tomar posse na função acima referida, asseverou: “Quem estiver sofrendo, no corpo e na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar especial no coração do bispo”, de tal modo que não devemos esquecê-lo jamais como Patrono dos Direitos Humanos e Injustiçados.

Já sei de um milagre de Deus por suas heroicas virtudes. Sonho com alvissareira notícia. Qual? A beatificação do Dom da Paz, o irmão dos empobrecidos, que, já na condição de jovem padre em 1948, no Rio de Janeiro, no seu sonho de um mundo verdadeiramente solidário, externou: “Se eu pudesse, sairia povoando de sono e de sonhos as noites mal dormidas dos desesperados”. Amém!

*Padre, Jornalista, Colunista e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE. Da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza

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