O Cristo crucificado e ressuscitado, fundamento sólido da nossa fé e razão da nossa esperança, leva-nos a pedir licença para recordar o cidadão planetário, Dom Helder Câmara, que, se vivo fosse, estaria completando 108 anos (data de seu nascimento: 07/02/1909). Ele, que teve o mundo diante dos seus olhos como campo de ação evangelizadora, colocou, com muita disposição interior, os pés na estrada da vida, em três etapas: na sua terra natal, o Ceará, até aos 27 anos de idade; dos 27 aos 55 anos, na Cidade Maravilhosa-RJ (1936-1964); e de 1964 até sua morte (27/08/1999), na Arquidiocese de Olinda e Recife.
Um diálogo com seu pai, aos oito anos, ouvindo-o, atentamente: – Filho, você está crescendo e continua a dizer que quer ser padre, mas você sabe de verdade o que significa ser padre? Você sabia que para uma pessoa ser padre ela não pode ser egoísta, não pode pensar só em si mesma? Ser padre e ser egoísta é impossível, eu sei; são duas coisas que não combinam. Os padres acreditam que quando celebram a eucaristia é o próprio Cristo que está presente. Você já pensou nas qualidades que devem ter as mãos que tocam diretamente o Cristo? Então Helder respondeu: – Pai é um padre como o senhor está dizendo que eu quero ser!
Dom da Paz, celebrava a missa lentamente, com toda a simplicidade, como se estivesse conversando com o Cristo, a Virgem, os santos. “Cada manhã, ao fim da missa, eu contemplo o mundo com a alma de um colegial em férias e tenho vontade de gritar àqueles que se esgotam na agitação da vida cotidiana: ‘Irmãos, hoje é feriado universal’”. O padre salesiano João Carlos Ribeiro afirmou, no prefácio do livro Sonhos e Utopias, do Padre Geovane Saraiva o seguinte: “Havia tanta emoção nas palavras da consagração que o vimos muitas vezes chorando, ao celebrar a missa. E sempre repetia com toda a convicção de que o verdadeiro celebrante da missa é Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Cognominado Dom da Paz, viveu a ternura e a solidariedade ao lado dos irmãos empobrecidos, na condição de padre e bispo, no Rio de Janeiro, no ardoroso sonho de um mundo melhor, asseverando: “Ai da estrada que, em lugar de facilitar a caminhada, prendesse a si quem quisesse atravessá-la; o papel da estrada, como é o nosso, é ajudar a caminhar, e não parar a seguir”. Consagrado sacerdote, com as palavras de Deus em sua boca, andou pela verdadeira estrada real, seguro e consciente da construção do Reino de Deus, que é o reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz.
Carregou consigo as marcas de um místico, homem de Deus, terno, afável e generoso. Identificado e configurado com Jesus de Nazaré, na sua gente, que, ao assumir a função de Arcebispo de Olinda e Recife, afirmou com voz profética: “Quem estiver sofrendo, no corpo e na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar especial no coração do bispo”. Por ocasião do seu aniversário natalício, neste 7 de fevereiro, roguemos ao Deus de bondade pelos méritos de nosso Servo de Deus, Dom Helder Câmara, desejosos de vê-lo Santo da Igreja, sem jamais esquecê-lo como patrimônio precioso de todos nós, patrono dos direitos humanos e dos injustiçados, no seguinte pensamento: “Por mais que comum dos dias, olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome, esmagados pelas humilhações, e neles descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado!”. Amém!
Padre Geovane Saraiva* Pároco de Santo Afonso e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – [email protected]