Dom Scicluna e a proteção dos menores: fortalecer uma resposta comum

Nas vésperas do encontro sobre a “proteção dos menores”, em progama no Vaticano de 21 a 24 de fevereiro, o arcebispo Charles J. Scicluna, membro do comitê organizador, explica suas expectativas e espera que seja uma ocasião de escuta recíproca

Cidade do Vaticano

Dom Charles J. Scicluna, arcebispo de Malta, secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé, é um dos membros do Comitê organizador do encontro sobre “A proteção dos menores na Igreja” que inicia dia 21 no Vaticano. O encontro reunirá representantes das Conferências Episcopais de todo o mundo. A sua grande experiência na luta contra os abusos sexuais a menores cometidos por clérigos ensinou-lhe que para a Igreja se tornar um “porto seguro” para todos, é preciso de uma liderança saudável e eficaz, mas também o compromisso comum de todo o Povo de Deus. Perguntamos-lhe principalmente, quais são suas expectativas pessoais em vista do encontro.

Scicluna: Aproveito o convite, que o Papa nos fez várias vezes, para que nos coloquemos em uma expectativa de oração. Porque se procurarmos fazer alguma coisa sozinhos, estaremos condenados à derrota. A oração nos ensina que devemos acolher o dom da graça, da sabedoria e da misericórdia do Senhor, mas não podemos, certamente, abdicar da nossa responsabilidade. Trata-se de um encontro convocado pelo Santo Padre que envolve todas as lideranças da Igreja. Nos dedicamos a um tema que está no coração de Jesus – a inocência das crianças – e devemos acolher o convite do Senhor: “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais”. Então, em primeiro plano há a prevenção, a proteção dos nossos jovens e também a escuta da Palavra do Bom Pastor que dá a vida pelo seu rebanho e quer que nós tenhamos esta missão não fácil, procuremos aplicar o Evangelho. Devemos ser misericórdia, boa notícia para o nosso povo. No contexto atual garantir a segurança dos nossos jovens e a salvaguarda das nossas comunidades é parte integrante desta boa notícia.

Quais frutos espera-se deste encontro?

Scicluna: Diria que é importante esperar o êxito das discussões internas durante o encontro. Haverá momentos nos quais iremos compartilhar os discursos com todos os participantes do encontro. Assim como momentos nos quais os participantes poderão falar em grupos linguísticos, manifestar esperanças, frustrações, medos e também a vontade de fazer o bem. Portanto queremos antes de tudo escutar com atenção o que for dito no encontro. Será particularmente importante aplicar as indicações do Santo Padre. Neste sentido esperamos com grande expectativa o seu discurso final que concluirá o encontro. Mas não queremos ouvir somente o Papa, mas ouvirmo-nos uns aos outros e tentar fazer desta oportunidade um outro momento importante neste caminho contra os abusos que a Igreja empreendeu há anos.

Responsabilidade, prestação de contas e transparência são os temas escolhidos para as primeiras três jornadas. Qual destes temas é o mais urgente?

Scicluna: Quando se fala de responsabilidade, fala-se também em geral do compromisso neste campo. Quanto a prestação de contas significa que nós somos responsáveis não só diante de Deus, mas também diante do Povo de Deus e de toda a Igreja. E a transparência é importante porque o povo de Deus deve saber qual é o resultado de um processo, quem é “o lobo no meio dos cordeiros”, mas deve também poder seguir todas as atividades que se fazem para poder garantir uma justa proteção. Todas as três palavras são essenciais porque descrevem uma experiência de governo, ou seja, uma liderança, que é saudável e eficaz no mundo de hoje.

Será falado sobre a prevenção?

Scicluna: Sem dúvida, porque precisa antes de tudo olhar de frente o abuso onde quer que seja. Mas também devemos trabalhar para criar um ambiente onde o abuso seja dificultado. Por isso temos que trabalhar para combater a chamada cultura do silêncio, ou cultura da ocultação, para usar uma palavra mais forte. Também devemos dar mais poder ao povo de Deus: em inglês existe a palavra ‘empowerment’, que é difícil de traduzir. O sentido é que temos que fortalecer tudo o que é sabedoria, prudência e vontade de ajudar nas nossas comunidades, para que juntos – como povo de Deus – possamos ser o “porto seguro” como deve ser a Igreja.

Papa Francisco colocou várias vezes em ligação os abusos sexuais com os abusos do poder e o clericalismo. É a batalha mais difícil?

Scicluna: É uma batalha fundamental. Mas todas as batalhas são difíceis: pois é a guerra ininterrupta contra a nossa concupiscência, contra a nossa soberba inerente, contra o pecado. Na minha opinião o Senhor, ao lavar os pés dos discípulos nos deu um ícone muito eficaz do que deve ser o coração do serviço na Igreja. Depois, se nós não agirmos assim, somos traidores do mandato que o Senhor nos deixou por primeiro, dando a vida para o rebanho.

Este encontro conseguirá dar credibilidade à Igreja?

Scicluna: A credibilidade não é questão de um encontro de três dias. A luta pela credibilidade é ininterrupta e se realiza dia a dia. Mas eu gostaria de dedicar um pensamento aos muitos sacerdotes e religiosos que trabalham espalhados no mundo, em silêncio e com grande fidelidade, com grande esforço e generosidade. Certamente não serão manchetes de jornais, mas são a floresta que cresce silenciosamente que é o pano de fundo de algumas árvores que caem. Mas nós temos que olhar para aquela floresta que cresce e ao mesmo tempo afastar “os lobos” das nossas comunidades, porque os nossos padres devem seguir o ícone do Bom Pastor e esta deve ser a nossa oração para toda a Igreja.

Fonte: Vaticano

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