A situação do povo indígena Gamela, no povoado de Bahias, município de Viana (MA), vítima de uma investida de homens armados de facões, paus e armas de fogo que resultou no ferimento de 15 pessoas, cinco em estado grave, no último dia 30 de abril, quando decidiu-se retirar de uma área retomada, foi assunto de Coletiva de Imprensa que a CNBB realizou, no 1º de Maio, no Centro de Eventos Pe. Vítor Coelho de Almeida do Santuário Nacional de Aparecida-SP.
O bispo de Viana (MA), dom Sebastião Lima Duarte, disse que a situação se agravou após o processo de organização para retomada da terra colocado em curso pelo povo Gamela. Este povo chegou a ser considerado extinto, perdendo traços de sua cultura e língua. Há três anos, após um processo de organização popular acompanhado por organismos como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e outras organizações, os indígenas resolveram assumir a sua identidade e organizar-se para a retomada de suas terras.
Segundo o religioso, há documentos e registros, inclusive da Universidade Federal do Maranhão, que comprovam que a terra foi doada aos indígenas ainda no período do Império. O processo de regularização da terra indígena se encontra parado em Brasília e no Incra. Na área, inclusive, segundo dom Sebastião, existem também acampamentos de Sem Terra.
Presença pastoral
A área foi ocupada por fazendeiros, entre eles uma juíza federal e o próprio vice-prefeito de Viana. Uma agente das Pastorais Sociais da diocese de Viana foi destacada, pelo bispo, para ir ao local e fornecer informações mais apuradas sobre o caso. Entre os feridos, há casos de indígenas que tiveram suas mãos decepadas. Cinco indígenas, que tiveram ferimentos mais graves, foram levados para hospitais em São Luis (MA). Os outros foram atendidos em hospitais da região.
Dom Sebastião denuncia a morosidade para resolver esta situação e o que considera “ausência do Estado”. O bispo de Viana pede maior presença da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e também do governador do Maranhão, Flávio Dino para resolver definitivamente a questão.
O bispo disse que os indígenas estão proibidos de colher os frutos de sua própria terra, como o coco de babaçu e o açaí. Há no Maranhão, segundo o bispo, um processo de reorganização dos povos indígenas e quilombolas para retomada de suas terras e reafirmação de suas culturas. “A Igreja está ao lado destas lutas por mais dignidade. Na Semana Santa celebrei a Páscoa nesta comunidade”, disse o bispo.
Foto: Maurício Sant’ana
Fonte: CNBB