Economia de Francisco

Foto: Vatican News

A agenda econômica hoje é absolutamente central não só no Brasil, mas no mundo inteiro. A tomada de posição do papa Francisco em relação a esta questão fundamental na configuração  da vida dos povos hoje tem tido grande impacto. No primeiro de Maio de 2019 o papa enviou sua mensagem: “aos jovens economistas, empresários e empresárias de todo o mundo, convidando-os a uma iniciativa de estudo e prática… de uma economia que faz viver e não mata, inclui e não exclui, cuida da criação e não depreda”…

Guilherme Delgado, em seu livro “ Rumo à Economia de Francisco”  (p.139), chama a atenção a duas questões centrais  que perpassam a posição do papa: atendimento às necessidades humanas e relação amigável com a natureza. O papa insiste na necessidade de reconstrução de uma certa antropologia econômica da modernidade toda ela centrada no “Homo economicus” individualista e utilitário, vinculado a um tipo de progresso tecnológico predatório da natureza e que, cada vez mais, prescinde do trabalho humano. Na base de uma ideologia econômica centrada neste utilitarismo individualista e no progresso técnico, sob a direção de empreendedores capitalistas, construiu-se um sistema econômico planetário, simultaneamente muito eficiente e eficaz na produção de mercadorias e serviços mercantis sem paralelo na história, mas desigual  na repartição dos frutos deste progresso material e também crescentemente predatório do ponto de vista da relação com a natureza. Para o papa, o medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas, mesmo nos países ricos. A desigualdade social torna-se cada vez mais patente. Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades.

Para Delgado, o enfoque do papa pressupõe uma mudança de paradigma não só na economia, mas na cultura moderna enquanto tal, o que levou Franciso a articular o que ele denominou “ecologia integral” com quatro dimensões básicas: 1) Ênfase na ortopraxia pastoral de uma “Igreja em saída” retomando as inspirações do Vaticano II de leitura dos sinais dos tempos; 2)Enfoque numa nova antropologia econômica  que, simplificando, denominou um novo “homo-ecologicus”, radicalmente distinto do “homo economicus” da modernidade; 3) Crítica radical às ideologias econômicas do tempo presente, principalmente à ideologia do dinheiro; 4) Anúncio de uma ecologia integral como uma espécie de nova cosmovisão do devir histórico, capaz de repor as relações do homem com Deus, com a terra e  com o próximo, em linha de plenitude de vida à imagem e semelhança do Pai da criação.

Sem dúvida, há hoje, segundo Delgado, na literatura econômica crítica à economia mercantil e principalmente na práxis social da sociedade civil, iniciativas econômicas radicadas em princípios de solidariedade, cooperação mútua e proteção social, que dialogam diretamente com a Mensagem da Economia de Francisco. Esta literatura revela um conjunto significativo  de experiências na esfera de cooperação e solidariedade econômica, sobretudo entre  os setores mais vulneráveis às crises econômicas, que, por razões e motivos sociais relevantes, se situam na contracorrente da economia vigente.

Manfredo Oliveira, UFC.

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