Novamente estamos no mês de agosto, mês tradicionalmente dedicado às vocações.
Vocação quer dizer chamado. E o chamado à vida e como ela é criada, vem do próprio autor da criação. Deus, ao criar o mundo o fez de uma variedade imensa de seres, desde os elementos materiais ínfimos até a imensidade do Cosmos. E são seres que foram, pela ciência humana, agrupados em reinos: o mineral, o vegetal, o animal e o espiritual. E no ápice desta construção está a realidade humana, como cume da complexidade material e ser em si ao mesmo tempo composto: matéria e espírito.
A primeira vocação é à próxima existência que a pessoa humana não se dá a si mesma, mas a recebe em si. E a revelação divina irá definir o humano: “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou..” (Gn 1,27)
Por isso o chamado à humanidade não será referir-se ao menor no conjunto dos seres, mas ao Maior, que é o próprio autor da Criação. Há no ser humano a presença de um sopro divino, que eleva o barro da terra a um ser especial com relação ao Criador e às criaturas: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.” (Gn 2,7.) E é constituído pelo Criador diante de toda a criação: “Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.” (Gen 1,28.) É colocado como administrador pelo próprio Criador, feito participante do cuidado com a criação. Consciente guarda da harmonia dos seres no desígnio amoroso que perpassa a obra de Deus.
E o Deus que a si mesmo se manifesta como Amor, cria para expressar seu mesmo ser em suas criaturas. O Amor é a marca de Deus em todas as suas criaturas, especialmente na pessoa humana, Sua imagem e semelhança. Este é o sentido da vida: o Amor. Assim se manifesta em Sua obra, Sua transparência.
“Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por meio dele vivamos. Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros.” (1Jo 4, 8 ss)
A vocação da pessoa humana é o amor, este amor que tem sua fonte em Deus, que é o Amor. Família é a expressão fundamental do jeito de Deus em humanidade. Como no próprio Deus, o Amor é relação interpessoal: dom recíproco. Assim Deus se revelou no Cristo, o Eterno Filho feito homem em meio aos homens.
Jesus é a revelação de Deus que explica o homem ao homem. E mostra nEle o significado mais fundamental da vida homana para sua plena realização: Amor que se doa, que serve, que se faz entrega na comunhão da humanidade. O sentido da vida de cada pessoa é sua doação do amor que Deus nela manifesta para com a humanidade: as expressões serão distintas na vida de cada um, mas o sentido é o mesmo: ser dom para o Outro nos outros. Diversos estados de vida expressarão a mesma e distinta vocação, o amor. Por amor se faz humanidade em comunhão. Na Igreja, sinal e instrumento do desígnio de Deus para a comunhão da humanidade, os dons, as vocações, os estados de vida serão diversos: no matrimônio, no sacerdócio, na vida consagrada, nos diversos serviços e ministérios, nas mais diversas formas de a vida ser serviço de amor ao próximo, a todos.
Evangelizar toda a realidade humana é reconduzi-la ao Amor, a conhecer o Amor, a viver o Amor, a partilhar o Amor nas relações conjugais, de paternidade, de maternidade, de fraternidade, que se estendam por toda a humanidade.
+ José Antonio Ap. Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano