Editorial: “Devoções e o seguimento de Jesus”

Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques

São muito sentidas na devoção popular as celebrações juninas de Santo Antonio, São João e São Pedro. Nascidas do calendário da Igreja nas celebrações dos santos, tornaram-se populares com muita festa, com canções e comidas típicas, ricas de valores familiares e culturais.

No entanto, como com tantas outras celebrações populares, o desvirtuar-se para o simplesmente mundano e o aproveitamento econômico acabam estas comemorações por perder seu sentido mais profundo de fé e humanidade.

As devoções dos santos são uma referência direta ao que deu sentido mais profundo às suas vidas e à santidade que os tornou tão conhecidos e venerados no decorrer das gerações. E permanecem no mais resistente substrato religioso do povo cristão.

Por que são santos?

O que é ser santo?

A referência mais significativa da vida dos santos é seu relacionamento com Deus no seguimento de Jesus o Cristo, Santo Filho de Deus. Isto é que os tornam tão notórios, especiais, referenciais para o povo cristão.

Assim é que são todos os santos e santas. E celebrá-los é reconhecer a força do seguimento de Jesus que identificou suas vidas.

João, o Batista, Precursor dos caminhos do Senhor. Preparado para ser o preparador da chegada do Messias. Abre os caminhos nos corações para acolher o Dom de Deus que vem ao encontro da humanidade, feito homem, para ser o Salvador. Homem verdadeiro, austero, autêntico, coerente até o fim.

Simão, o Pescador de homens, conforme missão dada pelo próprio Mestre que o chamou e o fez deixar as redes e a vida anterior para segui-lo. Será feito discípulo e apóstolo. Será feito Pedro e sobre esta pedra, Aquele que é a Pedra Angular, rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus, colocará a missão de universalizar o anúncio do Evangelho e o pastoreio do Rebanho do Senhor. Aquele que mais ama, mais se doa pelos outros.

Antônio de Lisboa, Fernando de Nascimento, Antônio de Pádua no seguimento de Francisco de Assis será discípulo de Cristo na vida e na pregação. Santo por demais popular, pois exprime o mais comum do seguimento de Jesus, a caridade para com todos, a partir dos mais pobres e necessitados. Vida de discípulo de Cristo, como o Pequenino de Assis, que seguirá em sua vida na Palavra do Evangelho sem glossa, sem interpretações acomodatícias, mas diretamente e com radicalidade.

Assim as devoções aos santos levam ao Santo, pois, o mesmo Deus já tinha dito a Seu Povo: “Vós sereis santos, porque eu, vosso Deus, sou santo”. (Lv. 19,2) E do próprio Jesus: “Sede perfeitos, como o vosso Pai do céu é perfeito.” (Mt. 5, 48).

A espiritualidade popular com suas devoções trazem no mais verdadeiro e profundo de si valores e forças que são capazes de levar a uma renovação da vida humana pessoal e social, que tanto necessitamos, mas ainda no mundo mercantilizado e corrompido em que vivemos; mundo de tamanha desumanidade! A pessoa humana necessita ser reconstruída no mais profundo de seu ser. E apenas com pessoas novas, reconstruídas, “santas”, será possível reconstruir a convivência social de modo digno e expressão dos mais ricos valores humanos. O Reino de Deus, que é Santo, é realizado em humanidade santa, como um tecido rico e precioso só pode ser feito com fios ricos e preciosos!  Humanidade santificada! Humanidade realizada!

+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza

Faça a sua pesquisa

Os cookies nos ajudam a entregar nossos serviços. Ao usar nossos serviços, você aceita nosso uso de cookies. Descubra mais