[Editorial – dezembro 2014] “Levados pela caridade de Cristo… (cf. 2Cor. 5,14.)”

Na plena Alegria do Evangelho, quero rezar por todos, pelas bênçãos de Deus, e lhes fazer os votos de Santo Advento, Feliz Natal, Abençoado Ano 2015.

Estamos vivendo o Centenário Jubilar da Arquidiocese de Fortaleza, o que nos faz estar em Ação de Graças pela existência desta Igreja Particular de Fortaleza e sua maternidade quanto às demais Igrejas diocesanas do Ceará.

A Igreja é a Família de Deus, o Povo de Deus, o Corpo de Cristo. Nasceu de Jesus, enviado pelo Pai, com o Dom do Espírito Santo, e se faz presente até os confins da terra e no decorrer da história da humanidade rumo ao definitivo Reino de Deus. Como recordou e declarou o Concílio Vaticano II (1962 a 1965), do qual estamos comemorando o cinquentenário, em sua fundamental Constituição Dogmática sobre a Igreja – Lumen Gentium 4: “Consumada a obra que o Pai confiara ao Filho para que ele a realizasse na terra (cf. Jo 17,4), no dia de Pentecostes foi enviado o Espírito Santo para santificar continuamente a Igreja e assim dar aos crentes acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito (cf. Ef 2,18). Este é o Espírito que dá a vida, a fonte da água que jorra para a vida eterna (cf. Jo 4,14; 7,38-39); por ele, o Pai dá vida aos homens mortos pelo pecado, até que um dia ressuscitem em Cristo os seus corpos mortais (cf. Rm 8,10-11). O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cf. 1Cor 3,16; 6,19): neles ora e dá testemunho de que são filhos adotivos (cf. Gl 4,6; Rm 8,15-16.26). Leva a Igreja ao conhecimento da verdade total (Jo 16,13), unifica-a na comunhão e no ministério, dota-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos, com os quais a dirige e embeleza (cf. Ef 4,11-12; 1Cor 12,4; Gl 5,22). Com a força do Evangelho, faz ainda rejuvenescer a Igreja, renova-a continuamente e eleva-a à união consumada com o seu Esposo. Pois o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: “Vem” (cf. Ap 22,17). Assim a Igreja universal aparece como o “povo congregado na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. (S. Cipriano, De Orat. Dom. 23 etc)

A fonte da Igreja está no próprio coração da Trindade Santa.

Assim: “Dispôs a divina providência que várias Igrejas, fundadas em diversas regiões pelos apóstolos e seus sucessores, se reunissem com o decorrer dos tempos em grupos organicamente estruturados, que, salvaguardando a unidade da fé e a única constituição divina da Igreja universal, gozem de disciplina, de liturgia e de tradição teológica e espiritual próprias. E, algumas dessas, especialmente as antigas Igrejas patriarcais, como mães da fé, geraram filhas, às quais continuaram ligadas até hoje por vínculos mais íntimos de caridade na vida sacramental e na observância mútua de direitos e deveres. Esta variedade das Igrejas locais, assim a tenderem para a unidade, demonstra, com maior evidência, a catolicidade da igreja indivisa.” (LG 23).

Mais além, a mesma Constituição Dogmática afirma que: (LG 11) “Diocese é a porção do povo de Deus, que se confia aos cuidados pastorais de um bispo, coadjuvado pelo seu presbitério, para que unida ao seu Pastor e reunida por ele no Espírito Santo por meio do Evangelho e da Eucaristia, constitua uma Igreja particular, na qual está e opera verdadeiramente a Igreja de Cristo una, santa, católica e apostólica.”

Estamos comemorando o Centenário desta Igreja Particular que está em Fortaleza, que se tornando mãe de outras Igrejas Particulares que dela nasceram pela evangelização e a partir dela foram constituídas, tornou-se Arquidiocese (a primeira entre estas dioceses).

Motivos de ações de graças impulsionam a comemoração deste Jubileu centenário: a graça divina que realiza a presença de Jesus, o Filho de Deus, em seu Corpo Místico que é a Igreja. Nela é Ele mesmo quem age pelo Seu Espírito derramado nos seres humanos.

Esta realidade tem seu fundamento histórico na Encarnação do Filho de Deus: “O Verbo (que) se fez carne e habitou entre nós.” (Jo 1, 14.)

A cada ano retornamos na celebração litúrgica ao Natal do Senhor. A Igreja, Corpo de Cristo na história, refaz memória do Mistério que a funda. O próprio Deus se fez homem e entrou na história humana e se uniu à humanidade de modo que a uniu a si. Em Jesus, Deus e Homem verdadeiro, não há mais distância que separe o divino e o humano, não há mais solidão da criatura exilada do seu Criador. O abismo foi superado. Tudo se tornou Unidade, Comunhão em Jesus. Desta comunhão a Sua comunidade peregrina no tempo é sinal sacramental – instrumental da íntima comunhão dos homens com Deus e de todo o gênero humano. (cf. LG 1)

Em nossa celebração centenária, estamos vivendo o ANO DA CARIDADE, do Amor Divino que irrompeu na história humana e nos arrastou com Ele. A Palavra divina que nos inspira é tirada da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, quando falando destas realidades ele afirma que: “A Caridade de Cristo nos leva (nos constrange, nos impulsiona, nos carrega)” (cf. 2 Cor 5, 14).

Tudo nos faz voltar ao essencial: Deus nos ama imensamente. Este Amor Ele nos manifestou em seu Filho Jesus, feito homem, feito menino, feito pobre, feito encontro para ser o nosso Salvador. Os que são por Ele alcançados se fazem encontro com Deus e em Deus com todos. Surge o Reino de Deus, o Novo Mundo do Encontro de Amor que tudo renova.

Estamos vivendo o tempo natalino, o tempo que nos chama à memória do encontro, da Caridade de Deus. Nosso grande desejo de renascer de nossa vida limitada e pequena se faz acontecimento, não só possibilidade, mas certeza: “Somos levados pela caridade de Cristo…” Nela podemos firmar os votos: Santo Advento – santo encontro, Feliz Natal – feliz novo nascimento, Abençoado Ano 2015 – em Deus tudo é novo, o tempo vai irrompendo para a eternidade.

+ José Antonio Aparecido Tosi Marques

Arcebispo Metropolitano

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