Durante a Quaresma realiza-se na Igreja no Brasil a Campanha da Fraternidade. O tempo especial do chamado à conversão pascal em Cristo presta-se à proposta de renovação da vida humana pessoal e comunitária, o que leva aos horizontes de vida de toda a comunidade humana.
Pela quarta vez a Campanha da Fraternidade é realizada por iniciativa ecumênica de diversas igrejas cristãs unidas no CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, que desta vez propõe como tema: “Casa comum, nossa responsabilidade”. O mesmo se apoia na Palavra de Deus que encontramos em Am. 5, 24: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr justiça qual riacho que não seca.”
De que falamos quando nos referimos à “Casa C0mum”?
A nossa casa comum é a Terra onde habitamos, o planeta Terra, hoje tão ameaçado pela irresponsabilidade que temos ao viver nele e a não cuidar como se deve para o bem de todos os que hoje nele vivemos e os que virão a viver nele no futuro.
A nossa casa comum não é feita somente de sua estrutura material, o que é imediato pensar: a terra, a água, o ar, as realidades da natureza que a constituem. É também a casa comum o conviver humano e com as outras espécies animais e vegetais. Tudo se encontra coligado em mútua interdependência. Tudo colhe as consequências das ações humanas além dos fenômenos naturais.
Somos chamados, como seres humanos, conscientes e livres, inteligentes, amorosos e responsáveis em nossas escolhas a bem viver e conviver com os bens da natureza e os seres todos, a conviver humanamente entre todos nós como membros da mesma humanidade que habita esta Casa Comum.
Por isso, a segunda parte do tema que nos toca é a responsabilidade de todos.
Responsabilidade vem de Resposta, a que damos a uma Proposta que encontramos na natureza que nos precede. Somos no conjunto da mesma natureza os seres inteligentes e capazes de opções, de escolhas em nossas ações. E elas têm suas consequências não apenas para nós que tomamos as decisões, mas para todos. Nossos atos tem repercussão coletiva na humanidade e na natureza que com ela faz parte da criação.
A nossa responsabilidade está em relação com a natureza e com seu Criador, como também com os demais que conosco convivem. O despertar a responsabilidade consciente é o grande chamado no cuidar dos dons da natureza que temos para nosso benefício e o bem comum de todos. Nossa responsabilidade é religiosa, pois se refere à sintonia com o Deus Criador que tem um plano, um objetivo de Amor em sua Criação. Nossa responsabilidade é humana, pois se refere à contribuição para o bem comum da humanidade que somos com os que vieram antes de nós e nos deram origem, com os que convivem hoje conosco no tempo de nossa história, os que virão como continuação e consequência de nossa vida e nossas escolhas. Responsabilidade de todos pela Casa Comum: Lar e Convivência.
De modo especial e urgente somos chamados a dar uma resposta coerente ao bem comum para: “Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”.
Isto tudo tem a ver com um saneamento material e espiritual em nossa vida pessoal-social. Tem a ver com água purificada, com bens materiais racionalmente utilizados, com condições físicas de vida e saúde para todos… Tem a ver com pensamentos e escolhas, com relacionamentos puros e retos, com bens espirituais que sejam patrimônio comum, com condições de vida e saúde mental e espiritual para todos… Será vitória contra toda corrupção e poluição no corpo e no espírito, na pessoa e na sociedade, em todo o mundo. Esta Casa Comum clama pela responsabilidade de todos nós. E onde começamos? Por nós mesmos, em nosso corpo, em nossa mente, em nosso coração, deixando-nos guiar pelo Amor Criador, o Supremo Bem que nos orienta e renova em nós e em todos a Sua Criação.
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza