Editorial – julho 2018: “Caminhamos com Maria, Mãe da Igreja.”

“Caminhamos com Maria, Mãe da Igreja.”

Tema: “Caminhamos com Maria, Mãe da Igreja”
Lema: “Mulher, eis o teu filho. Filho, eis a tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a levou para sua casa. (Jo 19, 26-27.)

Pela décima sexta vez estaremos realizando a CAMINHADA COM MARIA por ocasião da Solenidade de Nossa Senhora da Assunção, Padroeira da Cidade de Fortaleza no dia 15 de agosto, que neste ano será uma Quarta-feira e há anos é Feriado Municipal em Fortaleza.

A própria história da evangelização no Ceará está marcada por esta presença de Nossa Senhora: desde o primeiro povoado na Barra do Rio Ceará, passando pela Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção e finalmente marcando sua presença como Padroeira da Cidade de Fortaleza, na Catedral Metropolitana. Esta celebração marca o reconhecimento das origens cristãs – católica e mariana – de nossa cidade, onde a Mãe reúne seus filhos.

A cada ano, um aspecto da vida de Maria, Mãe de Jesus, é por nós recordado, para ser a motivação espiritual para a construção da cidade, que, terrena, é o caminho para a Cidade Definitiva. A construção da cidade terrena é o campo de cultivo do que será o futuro de toda a humanidade, o Reino de Deus. Jesus, o Senhor da História, veio para a missão de redenção humana. Tendo se desviado do projeto divino, o homem se fechou ao imediato e material e se propôs construir uma cidade e uma torre que alcançassem o céu. E a Babel confundiu as linguas, os entendimentos, os projetos humanos, levando a teimosia do projeto humano de alcançar o céu com suas próprias forças a ser cada vez mais desagregador e excludente – cultura de morte.

Jesus veio reunir os filhos de Deus dispersos (cf. Jo 11, 52) e encaminhá-los para novo céu e nova terra (cf. Apc 21, 1). O projeto divino é de comunhão das pessoas humanas com Deus e entre si, e para isto reúne um povo que dê seus frutos (cf. Mt 21, 43).

Neste plano divino, a presença da Igreja – congregação dos filhos de Deus em Jesus – realiza uma missão de levar o Evangelho ao mundo inteiro. Ela reune os filhos e filhas de Deus, que são aqueles que fazem a vontade do Pai do Céu (cf. Mc 3, 15) em Família de Cristo. Esta Família recebeu de Jesus como Mãe Maria na suprema hora da Redenção (cf. Jo 19, 26). Ela foi a cooperadora do mistério da encarnação do Verbo de Deus na humanidade e a Ele deu à luz por obra do Espírito Santo. Ela é aquela que, com Jesus, dá à luz a nova humanidade redimida e dela cuida, como perfeita discípula de Cristo, Mãe da Igreja em caminho de encarnação do Reino de Deus no mundo até sua plena realização. Como discípula a mais perfeita é também mestra do discipulado de seu Filho. Como Mãe continua gerando Cristo na humanidade chamada a ser una nEle. O sentir do povo cristão, em dois mil anos de história, acolheu de vários modos, o elo filial que une estreitamente os discípulos de Cristo à sua Santíssima Mãe. De tal união dá um testemunho explícito o Evangelista João, mencionando o testamento de Jesus morrendo na cruz (cf. Jo 19,26-27). Depois de ter entregue a própria Mãe aos discípulos e estes à Mãe, “sabendo que tudo se consumara”, morrendo, Jesus “entregou o espírito” tendo como fim a vida da Igreja, seu corpo místico: de fato, “do lado de Cristo adormecido na cruz nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja” (Sacrosanctum Concilium, n. 5).

E neste mundo, quem são os cristãos? “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo.” (Mt 5, 13)

Logo nos inícios do caminhar da Igreja na história, a consciência evangélica levou à afirmação da missão cristã, como “… Igreja, enriquecida pelos dons do seu fundador e observando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, anunciar e instaurar em todas as gentes o reino de Cristo e de Deus, e constitui ela própria na terra o germe e o início deste reino. Entretanto, no seu lento crescer, aspira ao reino perfeito, e com todas as suas forças espera e deseja unir-se ao seu Rei na glória.” (cf LG 5)

E cidadãos do mundo, sem ser do mundo (cf. Jo 17, 6 ss), os cristãos são, com Jesus, portadores do Amor de Deus: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casa gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros.Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, mas com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. … são combatidos como estrangeiros, … são perseguidos, e aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio. Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim estão os cristãos no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são vistos no mundo, mas sua religião é invisível. A carne odeia e combate a alma, embora não tenha recebido nenhuma ofensa dela, porque esta a impede de gozar dos prazeres; embora não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os odeia, porque estes se opõem aos prazeres. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; também os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o corpo; também os cristãos estão no mundo como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo.A alma imortal habita em uma tenda mortal; também os cristãos habitam como estrangeiros em moradas que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada em comidas e bebidas, a alma torna-se melhor; também os cristãos, maltratados, a cada dia mais se multiplicam. Tal é o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele desertar. (da Carta a Diogneto – séc. II)

Temos uma graça e uma missão: ser cooperadores na construção cidadã da cidade terrena na caminhada para a cidade celeste. Maria elevada à glória do Céu, Mãe da Igreja, nos acompanha com seu amor materno no seguimento de Jesus e na realização do Evangelho para, atentos às coisas do alto, acenda-se em nossos corações o desejo de chegar à glória da ressurreição. (cf Liturgia de 15 de agosto – Solenidade da Assunção de Nossa Senhora)

+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano

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