Editorial – abril 2016
“UM OÁSIS DE MISERICÓRDIA”
Estamos em pleno ANO DA MISERICÓRDIA, iniciativa do Santo Padre, o Papa Francisco, que, com a Bula Misericordiae Vultus – o Rosto da Misericórdia, encaminha a realização do Ano Jubilar da Misericórdia a iniciar no dia 8 de dezembro deste ano 2015 – Solenidade da Imaculada Conceição de Maria e comemoração dos 50 anos de encerramento do Concílio Vaticano II.
Assim somos chamados ao âmago da vida cristã – o Amor Misericordioso de Deus: esta é a Caridade de Cristo.
“Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras. É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor « visceral ». Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão.” (Papa Francisco – Misericordiae Vultus 6)
Vivemos intensamente esta realidade do Amor Divino na Páscoa da Paixão-Morte, Sepultura e Ressurreição-Dom do Espírito de Jesus. O Amor de Deus é que nos impulsiona: ele nos seduz, toma conta de nós, nos leva à conversão para o Amor e a tudo o que dele deriva: a Vida Nova em Cristo.
“A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia. A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia.” (Idem 12)
“Queremos viver este Ano Jubilar à luz desta palavra do Senhor: Misericordiosos como o Pai. O evangelista refere o ensinamento de Jesus, que diz: « Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso » (Lc 6, 36). É um programa de vida tão empenhativo como rico de alegria e paz. O imperativo de Jesus é dirigido a quantos ouvem a sua voz (cf. Lc 6, 27). Portanto, para ser capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. Isso significa recuperar o valor do silêncio, para meditar a Palavra que nos é dirigida. Deste modo, é possível contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.” (Idem 13)
Este estilo de vida, a Caridade – Amor de Misericórdia, “coração voltado aos que estão na miséria”, nos faz unidos em Cristo para ser Igreja – um oásis de Misericórdia – que oferece na gratuidade o que da gratuidade divina recebe. Como fazer gestos concretos esta Caridade – Misericórdia de Cristo que nos carrega?
E a Misericórdia se expressa nas chamadas OBRAS DE MISERICÓRDIA. Assim recorda o Papa Francisco: “Neste horizonte compreende-se o convite de Jesus a estar sempre pronto e vigilante, consciente de que a vida neste mundo nos é concedida também para preparar a outra vida, com o Pai celestial. E para isto existe um caminho seguro: preparar-se bem para a morte, permanecendo próximo de Jesus. Esta é a segurança: preparo-me para a morte, permanecendo perto de Jesus. E como estou próximo de Jesus? Mediante a oração, os Sacramentos e também na prática da caridade. Recordemos que Ele está presente nos mais frágeis e necessitados. Ele mesmo se identificou com eles, na famosa parábola do juízo final, quando diz: «Tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e acolhestes-me; estava nu e vestistes-me; enfermo e visitastes-me; estava na prisão e viestes visitar-me… Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes» (Mt 25, 35-36.40). Portanto, uma vida segura significa recuperar o sentido da caridade cristã e da partilha fraternal, cuidar das chagas corporais e espirituais do nosso próximo. A solidariedade no compadecimento pela dor e na transmissão da esperança constitui a premissa e condição para receber em herança aquele Reino preparado para nós. Quem pratica a misericórdia não teme a morte. Pensai bem nisto: quem põe em prática a misericórdia não tem receio da morte! Concordais? Digamo-lo juntos, para não o esquecer? Quem pratica a misericórdia não teme a morte! E por que não teme a morte? Porque a encara nas feridas dos irmãos, superando-a com o amor de Jesus Cristo.” (Audiência Geral – Quarta-feira, 27 de Novembro de 2013).
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza