Editorial – agosto 2016
“Vocação – chamado ao Amor”
O mês de agosto, no desenvolvimento do ano pastoral da Igreja é todo ele dedicado à reflexão e orações pelas vocações. E se toca assim o profundo da vida cristã, que nasce de um desígnio divino e o chamado para ele. Compreende-se chamado como vocação, uma proposta de Deus para a consciente e livre resposta do homem.
A vida humana, desde suas origens, é dom misericordioso de Deus. Somos criados por amor e para o amor. E, desviados de nosso destino, fechando-nos em nós mesmos, somos a ele reconduzidos pelo mesmo amor misericordioso de Deus que se faz de nosso Criador, nosso Pai em seu Filho Jesus feito homem. No dom do Amor, Espírito Santo, comunhão do Pai e do Filho, chama a humanidade à Nova Vida, à Sua Vida, à participação de Sua Vida Divina.
A vocação humana, além do primeiro chamado “à Sua imagem e semelhança”, agora, com Jesus, por Jesus e em Jesus, o Filho Deus feito Homem, é elevada a ser uma nova realidade: “um como o Pai e eu (Jesus) somos um, sejam um em Nós”. Esta é a expressão maior do Amor Misericordioso de Deus que cria para fazer participantes de sua vida e eternidade feliz.
A liberdade humana, limitada porque criada, afasta-se de sua vocação e destino último, quando quer por si mesma realizar-se, prescindindo de sua união com o Criador.
O chamado em Cristo Jesus é religação da pessoa humana com seu Deus: em sua sabedoria e amor, que lhe dão razão de ser e destino de vida. E na comunhão com Ele, comunhão com toda a realidade criada.
A vocação a seguir Jesus é o modo concreto de realização plena da pessoa humana: amor que tudo vence, amor que vem de Deus e se dirige a todos os semelhantes, e por fim vence a morte com vida em plenitude (enfim ressurreição).
Assim surge a realidade da Igreja, a comunhão de todos em Cristo. Nesta comunidade de convocados, chamados juntos à vida divina dada em Cristo, no Espírito Santo de Amor, já se faz presente em mistério (realidade e profecia) o já inaugurado Reinado de Deus. E a vocação de ser novas criaturas em comunhão testemunha, anuncia e serve o dom do amor misericordioso a toda criatura humana. Esta é a vocação missionária de todos em Cristo: levar o dom de Deus a toda humanidade – amor misericordioso em saída até as periferias da existência.
Nesta Igreja de Cristo a vida divina, que é dada, é carregada de dons: nela se compõem ministérios e carismas – sempre amor no Espírito Santo para a comunhão de todos: irmandade em Cristo – filhos do Pai.
Neste mês de agosto se recordam os diferentes dons no corpo da Igreja: o dom do sacerdócio, o dom da paternidade-maternidade na família, o dom da vida pelo Reino de Deus na consagração religiosa e laical, nos mais diversos serviços de amor: ministérios na comunidade eclesial e na sociedade.
Sempre vocação: vida que se caracteriza pelo dom de si – vidas unidas no Amor de Deus. O “eu” de cada um se realiza em plenitude no “nós” da comunhão de todos: vida humana como a vida divina em que Um só Deus é comunhão de três Pessoas, um só “Nós” no Amor. A esta vida divina, por misericordioso amor somos chamados. A nós a livre e consciente resposta.
+ José Antonio Ap. Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano