Aconteceu mais um «Domingo da Fraternidade» das CEBs! Dessa vez, a visita da Coordenação Ampliada se dirigiu a Ocara, a 105 km de Fortaleza, e caiu providencialmente na data em que toda a Igreja reverenciava a Trindade Santa (03 de junho), tida também como Dia das Comunidades Eclesiais de Base. A delegação que saiu de Fortaleza contava com 15 pessoas, equipadas com violão, baixo, zabumba, pandeiro, folha de cânticos e textos de estudo. Fomos calorosamente recebidos no salão paroquial com café, leito, pão e frutas. O encontro mesmo se deu na sede do sindicato dos Servidores Públicos. Das 13 paróquias da antiga Região «Serra» só duas – Ocara e Mulungu – enviaram representantes das CEBs, o que constitui um retrato fiel da falta de apoio da atual geração de clérigos ao estilo engajado, combativo e profético das comunidades de base. Em compensação, a presença quase integral e as palavras lúcidas e encorajadoras do Pe. Maurício de Ocara serviram de grande alento e esperança para o nosso projeto de fazer as CEBs renascer em todo território arquidiocesano! Muito obrigado, Pe. Maurício, pelo seu belo testemunho de fé e teimosia!
Após oração e partilha da Palavra inspiradas em At 2,42-47 (a primeira comunidade em Jerusalém), o encontro seguiu o roteiro já testado e aprovado na Área Pastoral da Barra do Ceará: Em um primeiro momento, todos os presentes escreveram em tarjas de papel aquilo que nos atrapalha em nossa caminhada de CEBs, as assim chamadas «pedras de tropeço». Aí apareceram coisas como comodismo, falta de apoio dos padres, acanhamento dos leigos diante do novo autoritarismo clerical, falta de obras práticas e engajamento social, excesso de liturgismo e sacramentalismo, falta de formação bíblico-teológica dos cristãos, etc. Estas «pedras» foram reviradas e analisadas em mutirão. As análises eram, vez por outra, reforçadas por músicas apropriadas que a excelente banda comunitária da Granja Lisboa inseria jeitosamente. Às 13:00 h paramos para um belo almoço comunitário. À tarde, iniciamos o estudo da Carta das CEBs de Fortaleza aos Bispos reunidos na 48ª Assembleia da CNBB em Brasília (2010), que havia sido redigida durante a 2ª Vigília das CEBs no Otávio Bonfim. Este texto importante levanta quatro questionamentos diante da atual conjuntura eclesial: (1) nova dicotomia entre sagrado e profano: o engajamento em lutas socais «no mundo» é visto como algo secundário pelos devotos; (2) como fazer valer a agenda prioritária das CEBs – «Justiça e Profecia a serviço da vida» – diante da nova demanda devocionalista e milagreira («Cura, Senhor, onde dói…»), incitada por padres-cantores e -exorcistas? (3) centralismo e autoritarismo no estilo de muitos padres novos; (4) falta de qualidade teológico-pastoral na catequese de iniciação cristã. Na plenária, os grupos partilharam suas reflexões, dúvidas e aprofundamentos uns com os outros.
Encaminhamentos e avisos, a Oração do Senhor e a benção do Pe. Maurício fecharam o encontro às 16:30 h. A nossa gratidão também à Solange (Mulungu) e ao Gomes (Ocara), por terem trabalhado bastante para esse momento de graça se realizar! Deus seja louvado por tudo isso!
Por Carlo Tursi, membro da coordenação das CEBs da Arquidiocese de Fortaleza.