Nada de vaidade, de presunção ou mesmo de opinião excessivamente elevada e pretensiosa quanto à canonização do Padre Charles de Foucauld, na sua inspiração divina, ao afirmar que gostaria de ser bom, para que se pudesse dizer: “se assim é o servo, como não seria seu mestre?” (Fonte Foucauldiana). A imagem viva do amor por Jesus ele a encontrou, quando na palavra do sacerdote Pe. Hivelin, ao pedir-lhe uma orientação que fosse plausível a respeito de Deus, em outubro de 1886, aos 28 anos de idade.
Mudar e estimular, sim, no seu exemplo de vida, a partir daquela feliz circunstância, decisiva em sua vida, repetidas incontáveis vezes por ele: “Quando acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa, que não fosse viver somente para Ele” (Fonte Foucauldiana). Estímulo, sim, no sentido de aprender e com ele para melhor se perseguir seu ideal de vida, a conversão do coração, mas na compreensão dos nossos Tuaregues hodiernos, na esperançosa confiança no bom Deus, a que penetrou no mais profundo de sua alma, numa súplica universalmente aberta e acolhedora.
Impulso, pela espiritualidade de Charles de Foucauld, aquele que foi seduzido pelo amor de Deus, ao confessar seus pecados e sentir uma indizível alegria, a mesma alegria do filho pródigo. Mudança pelo desafio de acreditar e concordar com a mística cristã, no amor dele por todos, indistintamente, sempre de braços abertos para pessoas boas e não boas. Deus quer, através de São Charles de Foucauld, canonizado aos 15 de maio de 2022, que não nos afastemos do eixo de seu legado e itinerário espiritual: o da conversão permanente, da Eucaristia como centro, a oração do abandono, a busca do último lugar, sem esquecer do Evangelho da Cruz (cf. Espiritualidade para nosso tempo, Edson Damian, Paulinas, 2007).
O Deus que lhe falou na sua incredulidade, indiferença e egoísmo, caindo nas mãos divinas, sendo arrebatado e seduzido por Jesus de Nazaré, que se tornou o único e maior tesouro de sua vida. Mudança, numa palavra, de ânimo levantado e para cima, mas na mais viva esperança de vermos novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5), ao mesmo tempo agradecidos ao bom Deus pelo dom da vida do Irmão Carlos de Foucauld – místico, referencial e patrimônio espiritual para a nossa civilização cristã, na experiência do absoluto de Deus.
Em São Carlos de Foucauld, Deus quer se manifestar, abrindo caminhos, animando-nos com o alimento e com a água verdadeira, que, com seu próprio exemplo, faça jorrar água das pedras ou dos rochedos dos corações humanos, matando a fome e a sede de sua esposa sedenta: a Igreja. Na caminhada pelos nossos desertos da vida, não prescindir dos ensinamentos metafóricos da caminhada do povo de Deus, também jamais preterir do irmão universal, Charles de Foucauld.
Que o Reino de Deus, na sua universalidade, anunciado e testemunhado pelo Irmão Carlos de Foucauld, ao quebrar crosta de veladas fronteiras e barreiras existenciais, mesmo na imaginação, nas convicções e no intolerante silêncio de irmãos e irmãs na fé, jamais seja causa de empecilhos, mas que facilite como um farol a iluminar a existência humana.
*Padre Geovane Saraiva – Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
Foto: Vatican News