Exigência de mudanças radicais  

Foto: Vatican News

O Papa Francisco convocou os cristãos a ouvir o clamor por justiça no mundo atual, o que é uma exigência que diz respeito a todos, independentemente de terem fé religiosa ou não. Vivemos marcados por um “sistema econômico que põe os benefícios acima do homem, se o benefício é econômico acima da humanidade ou do homem”. Nele o mercado é o mecanismo de funcionamento do processo produtivo. Para o Papa, está em jogo aqui “um terrorismo de base que provém do controle global do dinheiro na terra, ameaçando a humanidade inteira”.

Esta situação constitui um grande desafio ético/histórico sem precedentes e nos desafia, de maneira radical, a tomar posições corajosas e livres, refletindo sobre suas consequências. Trata-se de procurar eliminar efetivamente as raízes profundas e não apenas a aparência dos males do mundo. Esta tarefa tem dois momentos complementares: a cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e a promoção do desenvolvimento integral dos pobres com gestos mais simples e diários de solidariedade.

Solidariedade significa, então, uma nova mentalidade, pois ela é muito mais do que alguns gestos casuais de generosidade. É dar prioridade à vida de todos frente à apropriação de bens por parte de alguns, defender a função social da propriedade e o destino universal  dos bens como realidades anteriores à propriedade privada. Daí porque a propriedade, principalmente quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. A  primeira exigência fundamental é pôr a economia a serviço dos povos.

Isto possui uma implicação fundamental: atacar as causas estruturais da pobreza só pode acontecer através da renúncia à autonomia absoluta  dos mercados,  princípio-eixo da economia liberal, e à especulação financeira, enfrentando as causas estruturais da desigualdade, já que ela é a raiz dos males sociais. Isto constitui o horizonte ético que deve orientar toda a política econômica. A dignidade de cada pessoa humana e o bem comum são os valores éticos de base.

Por esta razão não podem ser reduzidos a apêndices de discursos políticos. Sem dúvida, um crescimento equitativo não se identifica pura e simplesmente com o crescimento econômico, mas o pressupõe. Ele exige mecanismos e processos que estejam adequadamente orientados para uma melhor distribuição de renda, para a criação de oportunidades de trabalho, para uma promoção dos pobres que vá além do mero assistencialismo. Desta forma, a mudança exigida é “aquela que seja capaz de mudar o primado do dinheiro e pôr novamente no centro, o ser humano, o homem e a mulher”.

Respeitando as diferenças culturais, é preciso lembrar que o planeta é de toda a humanidade. Desta forma, falar adequadamente de nossos direitos exige que sejamos capazes de alargar nosso olhar e abrir os ouvidos para o clamor de outras pessoas, de outras regiões de nosso próprio país, de outros povos, especialmente dos povos mais pobres da terra, assim que todos os povos estejam unidos no caminho da paz e da justiça. O futuro da humanidade está fundamentalmente nas mãos dos povos.

Manfredo Oliveira, UFC

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