Ver e ouvir o que está acontecendo na instauração do reino de Deus, pelo anúncio ou pregação do Evangelho, voltado para uma infinidade de pessoas ao longo dos séculos, torna-se realidade inequívoca na multiplicação dos pães. Vemos revelado o aspecto mais belo e maravilhoso dos sinais de Jesus, na sua preocupação com a criatura humana, num passado longínquo, sim, mas também nos nossos dias, igualmente. Jesus, na sua obediência à vontade do Pai, quer matar, verdadeiramente, a nossa fome, quer que nos comprometamos com a história da humanidade, num novo convívio, onde todos possam se sentar à mesma mesa, antecipando, assim, o reino dos céus.
Jesus, ao salvar, libertar e restaurar vidas, deixa claro que o reino de Deus está entre nós, respondendo ao que a humanidade ansiosamente estava a esperar. Deus mesmo é quem cumpre sua promessa: a de fazer novas todas as coisas. Quando nos deparamos com Jesus de Nazaré preocupado com a criatura humana, vemos que o mistério da encarnação se torna consequente. Ele nos ensina que nascemos para a felicidade quando partilhamos nossos dons e talentos, uns aos outros, não importando quão difícil seja a situação em que nos encontramos, como no exemplo da natureza, que não vive para si mesma, ou do sol, que também não produz claridade para si mesmo.
No jovem que carregava consigo cinco pães e dois peixes, Jesus se manifestou prodigamente, dizendo que o impossível pode se tornar possível. Essa fascinante cena do Evangelho indica-nos que, se há fome na face da terra, é evidente que não é por insuficiência de alimentos; o que falta é o dom da partilha, da generosidade e da solidariedade. A iniciativa de Jesus, ao perceber que o povo estava com fome, na sua radical compaixão, quis apontar para nós uma solução. O Evangelho nos mostra também, querendo nos sensibilizar e tirar da indiferença, que Jesus não só alimentava as pessoas na fome do espírito, mas, igualmente, na fome do corpo.
O menosprezo de uma bela igreja românica, na Sardenha, Itália, abandonada e com estrume em volta, me fez refletir na beleza e na arte abandonadas, revelando não ser mais sinal da bondade, do divino e da excelsa presença de Deus aquele templo. É o deserto do interior humano, pouco fertilizado, que faz pensar em nós, cristãos, criados para Deus e voltados aos sinais de Jesus e ao mistério. Assim sendo, como fica hoje nossa fé?
*Padre, Jornalista, Colunista e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE. Da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza [email protected]