Em um mundo dilacerado, machucado e bombardeado por todos os lados, contemplemos Jesus de Nazaré, vindo da origem de Deus, com seu registro bem definido na história, de dentro da intimidade do Pai, em seu inefável mistério de amor, não sendo mito, nem muito menos qualquer figura ou adereço. Ele é, sim, uma realidade misteriosa a envolver o mundo, a envolver a todos como seus leais amigos. Segundo o Apóstolo dos Gentios, Deus agora nos fala por meio do seu Filho.
É Deus nos chamando, nos convocando, não uma única vez na vida. Seus chamados se renovam constantemente, cada vez mais urgentes e exigentes, não se tratando só do seguimento de Jesus, mas, consequentemente, através de um convite para sermos “pescadores de homens”. Vemos a resposta imediata de Simão e André, de Tiago e João, enriquecida pelo generoso abandono das redes, da barca e até mesmo dos familiares.
Assim devem ser ouvidos, ou escutados, os chamados de Deus, que de diversos modos se manifesta, seja nos grandes chamados, como também em circunstâncias de humilde convocações, pelos quais se manifesta a voz de Deus, em situações e conjunturas concretas da vida cotidiana ou sob a forma de impulso interior, pedindo generosidade, renúncia e sacrifício.
Tudo a partir do contexto, no qual Jesus de Nazaré, como na profecia de Isaías, convertida e tornada realidade, é a luz fulgurante a iluminar a Galileia dos pagãos e depois a se difundir por todo o mundo. É o início de sua missão, na fidelidade ao Pai, pela escolha da vocação dos seus primeiros seguidores e colaboradores. Vemos que é Jesus mesmo que os convida enquanto pescavam naquele abençoado mar, o Lago de Genesaré, ou Mar da Galileia: “Vinde após mim, e eu farei de vós pescadores de homens! Imediatamente, deixando suas redes, seguiram-no” (Mt 4, 20s).
É o céu que se abre, no Reino de Deus instaurado, Reino esse, implantado sobre a terra, tendo seu começo pela Galileia dos pagãos, do povo que vivia nas trevas. No Jesus que entra em ação, apresentando-se como luz nas incertezas, mesmo nas mais inomináveis e indecorosas da vida, será que não quer dizer alguma coisa na realidade da comunidade Yanomami? Ali não é, de um modo mais premente, a nossa Galileia dos Pagãos?
*Pe. Geovane Saraiva – Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).